quarta-feira, 21 de novembro de 2007


Cidade Universitária de Roma
Planta da Cità Universitaria di Roma-La Sapienza, opus magnus do regime fascista e do seu arquitecto "oficial" Marcello Piacentini. Não tendo consagrado os planos panóticos ou bigbrotherianos amplamente edificados ao longo do século XIX no Ocidente (prisões, hospitais psiquiátricos: planta em estrela, planta em duplo círculo), os regimes autocráticos professavam idêntica ambição de vigilância social.
A ideia da cidade universitária fascista assentou num modelo organicista ou biológico que concebia a planta e os edifícios como um harmonioso corpo. Para construir esse corpo saudável, o estado permitia-se amputar as estruturas pré-existentes, usando e abusando da figura da expropriação administrativa conforme as apetências dos arquitectos e engenheiros de então.
O corpo assentava num conjunto de órgãos dispostos em redor de um vasto terreno: pés (escadaria ou rampa de aparato, propileus), pernas (alas laterais destinadas a institutos ou faculdades), cintura (novo pórtico de aparato, estreitamento das alas, aposição de dois torreões), tronco e braços (alameda, praceta, alas laterais destinadas a faculdades, bibliotecas, hospitais ou museus), e cabeça (reitoria e serviços administrativos).
A imagem arquitectónico-biológica é sobejamente visível na Cidade Universitária de Roma, Cidade Universitária de Coimbra (Cottinelli Telmo conhecia bem a lição romana de Piacentini), Cidade Universitária de Lisboa e no gorado projecto da Cidade Universitária de São Paulo (Piacentini/Morpurgo).
Em Coimbra não se desenhou a Reitoria, fruto da (re)integração do edifício antigo da Casa Reitoral no novo projecto. Mas as valências pré-existentes foram alvo de ampla cirurgia plástica, a tal ponto que na altura alguns quiseram ver no antigo Colégio de São Pedro um "edifício novo".
Menos apercebível no projecto de Coimbra, a função ideológica da Reitoria como espaço nobre de topo do corpo, vocacionada para o controlo e comando centralizado é mais visível nos projectos de Roma e de Lisboa (Arqt. Pardal Monteiro, concretizando ideias de Duarte Pacheco).

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