sexta-feira, 30 de maio de 2008


Maça da Misericórdia de Lisboa (foto 8)
A maça de cerimónias da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa é uma obra de arte artesanal rara e de exepcional valor, não se conhecendo outra igual no contexto europeu. Noutras instituições portuguesas congéneres o símbolo da autonomia da instituição é uma vara preta com ornatos de prata. Não se sabe ao certo quando foi fabricada. Tudo parece indicar que se trata de obra quinhentista pós-gótica. A não ser da época manuelina, exibe sobre a roca uma orgulhosa esfera armilar ptolomaica, como é sabido símbolo heráldico do Rei D. Manuel I.
Na sua extensão máxima, esta maça atinge 97cms, respeitando 15cms ao charolão, 2cms à base, 68cms ao fuste, 3cms ao capitel coríntio e 17,5cms aos módulos que vão de anel a anel. Ao todo, o fuste é demarcado por 5 aneis salientes. Fixado entre a base e o capitel existe um grilhão duplo de elos miudinhos. O fuste é todo trabalhado, com alguma rusticidade, exibindo quadrículas emolduradas e no seu interior flores de quatro pétalas abertas. A envolta nasce de um dupo capitel ornamentado com volutas e folhas de acanto, e apresenta quatro aletas interrompidas, que delimitam figurações incisas de quatro obras de misericórdia. As aletas são ornadas com pérolas e folhas abertas. A parte superior tem uma estrutura cupulada, munida de quatro nervuras. A partir desta espécie de tampa de vaso, alteia-se uma esfera armilar pré-coperniciana, a remeter para o geocentrismo ptolomaico.
Possivelmente do reinado de D. Manuel I, ou do mandato joanino, esta maça segue de perto os modelos em voga na casa real e na Universidade de Lisboa/Coimbra. Na última instituição, o bastão da Sapiência ainda hoje segue este tipo de representação. Admite-se que esta maça possa ter sido concedida a título excepcional pelo chefe de Estado à Misericórdia de Lisboa. Via de regra era usada nos principais momentos protocolares da vida da instituição, como o acto de investidura do provedor, procissões, cortejos reais, recepções a dignitários, e em cerimónias fúnebres. A Santa Casa estava estatutariamente obrigada a acompanhar ao cadafalso os sentenciados à morte e a recolher-lhes as respectivas ossadas, fossem execuções civis ou autos-de-fé. Nestes casos específicos, os irmãos envergavam as opas, levando a bandeira, a maça e o esquife (visualise-se o da santa Casa de Coimbra, em bom estado de conservação). O momento fúnebre de maior solenidade era o da inumação dos chefes de estado, tendo a Misericórdia de Lisboa o privilégio de receber o féretro e de conduzi-lo ao interior do templo onde se celebravam as exéquias. A Misericórdia aparece pela derradeira vez com a bandeira, os capuzes das opas deitados pelas cabeças dos irmãos e a maça de prata, no momento em que os ataúdes de D. Carlos I e o Princípie D. Luís Filipe foram retirados das carruagens fúnebres e transportados para o interior do templo de S. Vicente.
Esta maça, com o nº de inventário ORO625, integra o acervo do Museu de São Roque, e foi reproduzida a cores na revista TERES E HAVERES, Nº 14, de Agosto de 1998, p. 56. Ao Dr. António Meira se fica a dever a sua visualização e estudo.

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