sábado, 20 de junho de 2009


Salazar togado
Fotografia da estátua de vulto de Oliveira Salazar que entre 1958-1974 esteve implantada no pátio interior do Palácio Foz, Lisboa. Trata-se de uma réplica do original feito por Francisco Franco para a exposição de Paris em 1937, com presença num dos pavilhões da Expo 1940.
Após o Brotero de Soares dos Reis, este Salazar é a segunda escultura de corpo inteiro que se conhece de um lente da UC em hábito talar e insígnias doutorais. Ao longo da sua carreira política, Oliveira Salazar deu a entender aos seus próximos e admiradores que nunca teria usado borla e capelo, pelo que as estátuas e retratos produzidos seriam apenas representações virtuais.
Trata-se de um embuste propagandístico baseado numa confusão surgida em 1951 quando se realizou em Coimbra um congresso da União Nacional. Com efeito, na data referida, a comissão organizadora pretendeu exibir um retrato de Salazar, trabalho que resultou de uma fotomontagem entre a cara de Salazar e os ombros de Marcello Caetano que se encontravam cobertos por capelo doutoral.
Nunca se explorou satisfatoriamente o motivo ou motivos que terão levado Oliveira Salazar a fingir que nunca teria usado ou possuído insígnias doutorais. A chave para a descodificação desta atitude pode radicar na seguinte explicação:
-o peso da tradição praxística conimbricense. Salazar não prestou provas doutorais escritas perante júri administrativo, mas sim concurso público para assistente em 1917, tendo sido proclamado em 1918 doutor pelos seus colegas de Faculdade, ao abrigo da legislação republicana da altura que possibilitava proclamar doutores. Por desrespeitar os direitos praxísticos exclusivos do reitor, esta situação era mal aceite na UC e entre os estudantes, correndo piadas sobre os "doutores ipso facto" ou "doutores de aviário". Salazar não fez imposção de insígnias, mas teve borla e capelo, aparecendo numa fotografia da primeira metade da década de 1920 com o capelo pelos ombros. Posteriormente, em 1925, Salazar comprou insígnias doutorais novas, informação que Franco Nogueira não se dá ao trabalho de ocultar.
Outro dado curioso sobre a relação de Oliveira Salazar com a UC e as suas tradições prende-se com o doutoramento honoris causa que lhe foi concedido pela Faculdade de Letras em 22.04.1959. Não consta ter havido cerimónia de imposição de insígnias e no velório ocorrido em Julho de 1970 o ditador foi vestido com as insígnias da Faculdade de Direito. Embora a situação nunca tenha sido questionada, ela desrespeita o protocolo conimbricense, pois a segui-lo conforme as disposições dos "Estatutos Velhos", a partir de 1959 Salazar ficava obrigado a usar insígnias doutorais com mistura de vermelho e azul-escuro.

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