quinta-feira, 3 de setembro de 2009


O jovem Eça de Queirós: Eça frequentou a Faculdade de Direito da UC entre 1861 e 1866. À semelhança de outros literatos da sua geração que puderam dedicar-se aos estudos e às leituras ociosas em contexto de pacificação trazido pela regeneração, Eça deixou da UC uma imagem muito negativa que deve ser lida com alguma cautela e distanciamento. Apesar de ter trabalhado no Teatro Académico como actor amador, Eça não era propriamento um estudante activamente empenhado nas causas escolares nem um boémio, pelo que a capa esburacada aqui desenhada melhor caberia a um Antero de Quental ou a um Mata-Carochas. A cor da pasta também não está certa pois a Faculdade de Cânones achava-se extinta desde 1836.
Quando em 1888 David Corazzi lançou em Lisboa o Álbum de Costumes Portugueses o estado da etnografia em Portugal ainda não permitia traçar uma distinção suficientemente clara entre uniformes e trajes populares. O editor, cujo conselheiro cultural não se sabe quem tenha sido, optou por uma obra mista que tanto englobou trajes rurais e provinciais como fardas e uniformes.
Coube a José Ramalho Ortigão escrever o texto de acompanhamento da litografia, que infelizmente não está assinada. Ramalho aproveitou uma fotografia juvenil do seu amigo Eça de Queirós e a partir dela, conjuntamente com o aguarelista, intentou recriar o hábito talar estudantil conforme figurino anterior às reformas de 1863 em contexto diário. Daí os sapatos pretos de atilhos e a capa desmazelada que era ponto de honra aos olhos da veterania encartada de Coimbra e das universidades espanholas.
Contrariando a corrente burguesa já então dominante no meio académico conimbricense, Ramalho Ortigão não se mostrou nada convencido com o pequeno uniforme à base de casaca burguesa e calça comprida, opinião que domina todo o artigo de complemento à litografia.

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