sábado, 6 de fevereiro de 2010

Pipe band do Saint Andrew's College, Ontário, Canadá, em actividade continuada desde 1915.
Fonte: http://kilby.sac.on.ca/ActivitiesClubs/cadets/Piping/

Alguma universidades da Escócia, EUA e Austrália possuem bandas de gaiteiros às quais se tributa o maior desvelo. Na Escócia, os festivais de gaiteiros rivalizam com os mais concorridos encontros ibéricos de filarmónicas, grupos folclóricos e tunas académicas.
Em Portugal Continental, até bem entrado do século XIX, os gaiteiros ou formações de zés-pereiras gozaram de incontestado prestígio.
Exemplos de presenças regulares:

-procissões, em especial a do Corpo de Deus;
-visitações de presépios, como atestam as composições de Machado de Castro e seus discípulos;
-casamentos, com entrada dos gaiteiros na igreja, à cabeça do cortejo e toque solene junto ao altar-mor;
-festividades municipais, como acontecia em Coimbra, cuja câmara municipal teve uma folia;
-festividades cíclicas dos estudantes da Universidade de Coimbra, tradição que ainda se mantém;
-arraiais e romarias;
-festas populares como a Queima do Judas, a Serração da Velha e o Enterro do Bacalhau, celebradas um pouco por todo o Portugal entre o Carnaval e a Páscoa, em cujos cortejos alegórico-burlescos tomavam parte os gaiteiros. Por vezes deslocavam-se montados em burros e sobre carros de bois, sublinhando a entrada do tribunal e a aplicação da pena de morte aos condenados pelo tribunal do povo;
-peditórios de irmandades e confrarias, como acontecia na região de Lisboa com os gaiteiros associados às festividades do Espírito Santo;
-peditórios para a sopa dos presos, promovidos na cidade de Lisboa pela Santa Casa da Misericórdia.

Como se vê, o elenco de solicitações era vasto. Da mesma forma que os acordeons vitimaram as violas de arame, também as bandas filarmónicas em afirmação no século XIX foram gradualmente afastando os gaiteiros. O combate era desigual. Anteriormente, durante a afirmação dos normativos religiosos conformes aos ideais do Concílio de Trento, vários foram os bispos diocesanos que tomaram medidas para manter os gaiteiros fora das igrejas e afastados do altar-mor. As semelhanças entre a função festivo-litúrgica dos gaiteiros e as folias do Espírito Santo dos Açores são inúmeras e os foliões também não escaparam completamente à severidade de alguns bispos. A partir de certa altura, a Igreja Católica passa a considerar imprópria a presença dos gaiteiros no interior dos templos.
A banda filarmónica triunfaria em todo o Portugal sobre os gaiteiros e as folias do Espírito Santo. Contudo, nunca conseguiria ocupar o lugar de honra na cabeça dos cortejos nem tocar junto ao altar-mor, tradição de que se orgulhavam os gaiteiros e foliões e que ainda hoje se pode confirmar tanto nas Queimas de Fitas da Universiadde de Coimbra como nos festejos açorianos do Divino Espírito Santo.
Em Portugal, os gaiteiros eram referidos pela comunidade como pessoas honoráveis e o instrumento associado ao órgão fálico. Daí que na região de Coimbra sejam conhecidos ditos espirituosos, coplas e melodias alusivas à gaita como sinónimo de pénis e ao toque como manipulação peniana.

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