quinta-feira, 22 de julho de 2010


Festejos carnavalescos promovidos pela Escola Politécnica de Lisboa, Inverno de 1911
O n.º 263, da revista I. P. de 6 de Março de 1911 editou uma foto-reportagem intitulada "A festa dos estudantes da Escola Polythechnica" com nove fotografias. A reportagem não se limita a registar a mascarada, dando conta de viaturas alegóricas, figurantes, lançamento de foguetes, toque de tambores, travestis em parada, realização de um bazar e exibição de uma peça de teatro burlesco.
A promoção de festividades estudantis foi iniciada em Lisboa pelos cursos da Escola Médico-Cirúrgica, na década de 1890. Directamente inspiradas nas récitas de quintanistas levadas à cena em Coimbra e nas latadas, as festividades consistiam no ensaio e exibição de uma récita de fim de curso no pátio do Hospital de São José e na realização de uma parada em trajes carnavalescos. Distinguiu-se na realização destas festividades o estudante Ilídio Amado que estive directamente ligado à fundação da Tuna Académica de Lisboa e ao uso da capa e batina.
Na transição da década de 1890 para os anos inciais do século XX, os cursos da Politécnica tentaram concorrer com os da Médico-Cirúrgica, ambiente competitivo que originou o arranque de programas festivos estruturado em feira de barraquinhas, récita grotesca e corso de viaturas e mascarados. Quer a Médico-Cirúrgica, quer a Politécnica se inspiraram nos costumes académicos de Coimbra, a primeira afirmando a sua identidade visual com recurso à capa e batina, a segunda mantendo-se apegada ao uniforme militar.
À data da publicação das reportagens de 1911, embora os estudantes de Coimbra gostassem de pensar que eram os únicos a promover festividades anuais, a informação da época testemunha uma realidade bastante mais ampla:
-festividades na Médico-Cirúrgica e na Politécnica do Porto;
-festividades na Médico-Cirúrgica e na Politécnica de Lisboa;
-festividades em alguns liceus portugueses como Braga (Enterro da Gata) e Guimarães (Nicolinas ou o São Nicolau dos Estudantes);
-festividades em universidades da Suiça, França, Bélgiça, Suécia, Áustria e Alemanha, Grã-Bretanha e EUA, com bailes de gala, bailes de carnaval, paradas públicas e regatas.
A presença de viaturas motorizadas não esconde a permanência da estrutura das festividades arcaicas europeias ou charivaris de Carnaval e Quaresma, com cortejos burlescos, inversão momentânea da ordem, libações báquicas, julgamentos de alegorias e bonecos, pregação de sermões, leitura de testamentos, enterramentos, serrações e queimas. No caso de Coimbra queimam-se as fitas e enterram-se as cinzas, na Politécnica do Porto uma irmandade transporta um caixão com a Farpa, no Liceu de Braga os estudantes levam a enterrar a gata ou raposa dos chumbos.
Festividades estudantis ou festividades tradicionais populares apropriadas e adaptadas pelos estudantes? Se pudessemos viajar ao Portugal provincial de entre 1890-1910 no período de entre Carnaval e Páscoa não teríamos a menor hesitação em afirmar que aquilo que os estudantes estavam a fazer nas cidades era a mesma coisa que as comunidades tradicionais faziam nas aldeias, vilas e bairros das cidades com a designação de Queima do Judas, Serração da Velha, Julgamento do Bacalhau, Latadas de Noivos, Cornetadas ou Chocalhadas. Quando é que a "queima das fitas" e outras queimas deixaram de parecer populares e passaram a ser "genuinamente" académicas? A resposta é simples, à medida que as práticas cíclicas comunitárias foram caindo em desuso.

1 Comentários:

Blogger Franz Kiña disse...

Enquanto isso, na cidade onde nasci, no Brasil, até hoje se queima o Judas.

16 de abril de 2011 às 20:01  

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