Virtual Memories

quinta-feira, 8 de abril de 2010


Alma Mater, Minerva
Reitoria da Universidade de Turim (Torino), Itália, escultor Elihu Vedder, 1896


Alma Mater, Pallas Atheneia
University of Albany, USA, 1888


Alma Mater, Minerva
Um exemplo da escultura monumental fascista, Reitoria da Universidade de Roma, La Sapienza, 1934-1935


Alma Mater
Graciosa figuração da Alma Mater Conimbrigensis em postura erecta sobre a Porta de Minerva. Trabalho em pedra de Ançã, 1724. A Alma Mater Studiorum, frequentemente designada por Sapientia e Minerva, é de representação obrigatória em todos os edifícios e bens que integram o património material e simbólico da Universidade de Coimbra.
Nem sempre assim tem sido, sendo grande o desleixo verificado desde o século XVIII: intromissões do brasão régio e das armas de estado, recurso à filósofa Santa Catarina de Siena e indecisões no imenso estaleiro de obras que foi a edificação da cidade universitária durante o Estado Novo. Pior andam os bens culturais criados pela Universidade de Coimbra, que delidos pela tradição oral, são livremente apropriados e comercializados em todo o país. A institucionalização da Marca Universidade de Coimbra implica repensar o merchandising institucional e fazer reverter os seus proventos a favor dos cofres da instituição.

Alma Mater
A matria dos estudos na University of Illinois, USA
Grupo escultórico de Lorado Taft, 1929


Alma Mater
Figuração da matria dos estudos na University of Columbia, USA
Escultura em bronze assinada por Charles Follen Mackim. A matria, conhecida por sapiência, sabedoria, Minerva e Pallas Atheneia, encontra-se sentada na cathedra grega (klimos), exibe a coroa de louros de Apolo, um ceptro e uma bíblia aberta sobre o regaço. As duas chamas nascentes dos braços da cátedra aludem à Sapientia e à Doutrina.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Vida em Poitiers


Primeira cerimónia de entrega dos diplomas aos novos doutores na Fac. de Droit, em 15 de Dezembro de 2009
A fotografia do periódico "La Nouvelle République" regista os cumprimentos do reitor (toga roxa) a um dos diplomados. A partir de 2005 várias foram as antigas universidades europeias que na sequência do Processo de Bolonha começaram a realizar cerimónias de entrega de diplomas segundo o paradigma norte-americano.
Em França trata-se de uma espécie de day after após o fim da modernidade de pulsão linear, monocultural e abolicionista. Sobre os despojos dos abolicionismos, inventa-se um sincretismo estilístico sem geo-referenciação onde todos os ecletismos parecem legitimados. Uma espécie de amnésia institucional que não parece reflectir sobre o ridículo e o kitsch.
De acordo com declarações do reitor Jean-Pierre Gesson, a "remise des diplômes de doctorat" é um processo em vias de invenção em algumas universidades e politécnicos franceses. À universidade-marca importa promover publicamente os seus graduandos como mercadorias convenientemente embrulhadas.
A fazer fé no evento filmado, este tem lugar num auditório onde tomam assento os novos doctores com toga preta e barrete replicado a partir das universidades dos EUA. No palco constitui-se uma mesa de presidência (reitor e docentes de Direito, em toge). A cerimónia apoia-se em teconologia audivisual (ecrã gigante, som, microfones). Um docente em toge segura um microfone e apresenta o evento, seguindo o estilo dos apresentadores televisivos. Uma oradora convidada discorre sobre a sua tese e os trabalhos de pesquisa subjacentes. Os graduandos deslocam-se ao palco, recebem uma écharpe de cetim, uma medalha e um diploma.
Conforme já se dicorreu noutro local, as universidades históricas que estão a adoptar a festa de diplomatura correm deliberadamente o risco de não ser levadas a sério, na medida em que não estão em condições de fazer melhor do que as mediáticas cerimónias televisivas de entrega de galardões a actores, realizadores de cinema, músicos e atletas.
Outra cerimónia realizada anualmente pela UPoitiers é a Rentrée, cuja estrutura não difere grandemente da "remise".


Cartaz da 69.ª semana estudantina promovida pela Ordre du Bitard
Apesar de muito contestadas por alguns sectores estudantis, as festividades anuais da goliardia poitevina são apoiadas pela universidade e pela câmara municipal.


O flamejante edifício da Fac. de Sciences Humaines et Arts, que a partir de 1919 albergou a Fac. de Letras no centro histórico (Hôtel Fumé)
A maior parte das faculdades, bibliotecas, auditórios, institutos, laboratórios e residências de estudantes da UPoitiers estão localizados no Campus Universitaire, à direita e à esquerda da Av. Rectuer Pineau. O campus, inaugurado por volta de 1970, segue o tipo norte-americano, correspondendo na actualidade a uma "cidade morta" após cada entardecer.
Na década de 1980 as residências universitárias eram de tipo misto, com aparelhos de televisão conectados a canais privados, existência de lavandarias automáticas (coisa de todo desconhecida nas residências portuguesas dos anos 1980-1990), cantinas em proximidade e excelente serviço de transportes públicos entre o campus e a cidade. Em 1992 a Biblioteca Geral já tinha implementado cartão electrónico de utente e era banal o empréstimo de obras impressas interbibliotecas.
A UPoitiers, fundada em 1431, e abolida pela Convention em 1793, integra o Coimbra Group. No rescaldo do Mai 68 a toge e as cerimónias académicas foram abolidas. À entrada da década de 1990 voltou a realizar-se a Rentrée Solennelle no auditório da Fac. de Droit, com cortejo docente intramuros, toge, o bedeau com a sua maça de latão amarelo e os discursos oficiais.
Algumas franjas estudantis, rotuladas de monárquicas, tinham voltado a usar a gorra de veludo (faluche). Como que imune às modas, a Ordre du Bitard mantinha a festa estudantina anual, com fanfarra, caçada e libações que punham a cidade em transe.


Medalha neo-gótica da Faculdade de Medicina e Farmácia da UPoitiers concebida pelo docente jubilado Roger Gil

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Vida em Montpellier


Um exemplo de um pin para aplicação na gorra
Estudante de Medicina com bata e faluche, sentado numa seringa e garrafa de vinho


Exemplos de pins aplicados numa gorra académica da década de 1930
O costume parece ter começado nos anos que se seguiram à Grande Guerra graças ao processo de heroicização de antigos combatentes e ao culto do soldado desconhecido. Com efeito, quem usava abundantemente desde finais do século XVIII distintivos metálicos nos uniformes eram os corpos militares. Outro ponto comum entre os distintivos militares e os distintivos estudantis radica na prodigiosa capacidade inventiva que alavanca a produção de simbologia kitsck.


Selo de 1938 com representação da gorra académica (la faluche)
Os estudantes da UMontpellier elaboraram um código de uso e aplicação de emblemas e pins na gorra académica, "Le code montpelliéraine" [version 2002], http://florent.jault.free.fr/article.php3?id_article=213.


Membros da associação de estudantes da UMontpellier em 1891 com a gorra de veludo trazida de Bolonha em 1888. Nesta fase inicial, a imagem não regista emblemas nem pins.


Cartão oficial distribuído na cerimónia de abertura solenne na UM2 em 2008


Membros do corpo docente da UM2 na rentrée solennelle de 2.10.2008, a primeira que se fez nesta instituição

O chancelier da UM2
Conforme se pode ver pela fotografia supra o capelo de cetim roxo e arminhos aparece na Univ. de Montpellier (2008)


Honoris causa em Montpellier
Momento da investidura do Presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, no dia 31 de Março de 2009, na Faculdade de Direito da Universidade de Montpellier.
A toge de tipo francês (na verdade modelo napoleónico) corresponde a um modelo uniformizado que se usa nas universidades, politécnicos e escolas normais desde a época napoleónica. Na década de 1960 a toge foi profundamente desacreditada pelas elites juvenis e franjas radicais de docentes. Na sequência, a toge deixou de ser usada por longos anos nas universidades francesas. Nos anos 70 e 80 do século XX alguns momentos relevantes da vida universitária francesa foram vividos em indumentária civil ou em casaca de abas de grilo (defesa de teses de doutoramento). Situação idêntica seria vivida nas universidades alemães, país onde se nota um tímido regresso à toga desde 2005.
O processo de Bolonha conduziria os órgãos de gestão das universidades francesas a repensar o abolicionismo e a total ausência de ganhos símbolos daí resultantes. Enquanto algumas universidades francesas continuam a praticar os dogmas do abolicionismo sixtie, outras enveredam pela replicação dos eventos norte-americanos e outras há que começam a reinventar-se através da sua própria tradição (via diferenciadora).
Montepellier 1, fundada em 1289 e membro do Coimbra Group, apresenta sinais de retorno à toge de modelo geral, mas volta-se para o barrete doutoral à Rabellais e para o capelo de dupla romeira.