terça-feira, 15 de novembro de 2011

O bispo Alves Martins na famosa estátua de bronze erguida em Viseu.
Que indumentária enverga o prelado? Alves Martins traja o chamado hábito curto, hábito privado, hábito de abade ou como se diria em Coimbra com a maior das desenvolturas a "abbatina". Em Lisboa, há quem tenha usado a expressão redingote, proposta que teremos de rejeitar de tal modo é incorrecta.
Este traje ordinário foi usado desde ca. 1660 por toda a Europa e territórios ultramarinos. Consta de sapatos de fivela, meias altas pretas ou na cor da dignidade (em seda, obviamente), calções, volta branca inteiriça e cabeção, colete masculino civil, sobrecasasa (inicialmente com carcela fechada e sem colarinho algum) e capa curta que na verdade tem feitio de ferraioleto.
A sobrecasaca era forrada de cetim, preto, ou na cor da dignidade. Podia levar vivos nas bainhas, carcela, colarinho, bocas de mangas e portinholas dos bolsos. A capa tinha cabeção derreado pelas costas (uma pala rectangular), tombando verticalmente numa espécie de belo plissado. Algumas eram forradas de cetim. Trazia-se a escorregar pelas costas, presa com dois fitilhos que apertavam no pescoço.
Na mão, o que parece ser simples bengala, é o bastão ou cana dos prelados, à época usual entre os prelados ibéricos, que a partir de 1850 passou a ser insígnia obrigatória de todos os reitores espanhóis. Uma cana para ser cana deve ter cordão trançado e glandes na cor da dignidade. Consta, no dizer de Ramalho Ortigão, que Alves Martins, não se ensaiava nada em puxar de umas bengaladas nas famosas caminhadas entre o paço de S. Vicente e o parlamento.
São raríssimas as fotografias de eclesiásticos portugueses com o traje de abatina, matriz da capa e batina dos conimbricenses. A pergunta é onde se inspirou o escultor?
Os clérigos ingleses também usaram este mesmo traje, mas com variantes dignas de registo. Por baixo da sobrecasaca uma sotaina preta de fechamento assertoado. Na cabeça, com bastante frequência, uma cartola de presilhas (aba ligada copa por cordões) e as inseparáveis polainas.

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