domingo, 22 de abril de 2012

Um cardeal romano com hábito privado ou hábito civil curto, gravura de Buonnani, 1720
A peça nuclear é a chamada túnica persa ou justaucorps, difundida nas cortes de Paris e de Londres na década de 1660. A partir da segunda década do século XVIII este traje foi usado na Universidade de Coimbra mas sem consagração estatutária e em situação de coexistência com os demais trajes autorizados e considerados de grande cerimónia. O seu derivado direto é a "capa e batina" masculina, dado que o "traje feminino" vem dos corpos de enfermeiras da Grande Guerra de 1914-1918.
A primeira instituição escolar portuguesa a adoptar este traje foi o Real Colégio dos Nobres, fundado por Carta de Lei de 7.3.1761 e solenemente instalado em 19.3.1766. No art.º 8.º, Título VI, "Dos colegiais" (estatutos de 1761), sobre o enxoval dos estudantes internos prescrevia-se:

"A mesma igualdade se observará nos vestidos. Em casa usarão todos do vestido talar, a que chamam vulgarmente garnacha. Quando sairem fora do colégio poderão os primogénitos usar casacas, e vestidos de pano, ou quaisquer outros estofos que não sejam de seda. Os que forem filhos segundos, ou terceiros, usarão de vestidos chamados de abatina, talares, ou de capa curta conforme as ocasiões. E todos usarão de hábito distinto, pendente, e uniforme, no qual haverá de uma parte a imagem de Nossa Senhora da Conceição, e da outra a inscrição do colégio".

Notas:
1) a garnacha é a beca judiciária portuguesa;
2) a abatina corresponde à veste civil desenhada por Buonnani, também conhecida por hábito privado hábito [civil] de abade e justaucorps (veste de um corpo, carcela integralmente fechada na frente, mangas afuniladas, sem colarinho, dois machos e racha metidos nas abas dorsais, bainha entre o joelho e a meia perna, conjunto complementado por meia capa ou ferraioletto);
3) por "casacas" entendo ser o habit de cour ou grande casaca civil aberta na frente;
4) por "hábito distinto, pendente", entendo poder ser a beca ou estola de ombros, usada nas universidades, colégios e seminários católicos;
5) entre os adeptos do(s) traje(s) académico(s) utiliza-se frequentemente o argumento da "igualdade" para rebater as teorias da hierarquização e diferenciação, supondo-se que este possa ter origem nos costumes académicos de Coimbra. Como se pode constatar, a palavra "igualdade" é empregue pela primeira vez em 1761 nos estatutos do Colégio dos Nobres. Deixo aos exegetas o dilucidar se se estaria a falar de igualdade entre os estudantes matriculados ou de uniformização da indumentária corporativa para tentar nivelar a nobreza num contexto marcado pelo despotismo iluminado.

Fonte: http://liturgia.mforos.com/; http://araldicavaticana.com/

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