domingo, 13 de maio de 2012

Procissão do Corpus Christi em Úbeda (2011)

Trânsito público da procissão do Corpus Christi nas ruas de Úbeda/Espanha, junho de 2011

A procissão do Corpus continua a ser um excelente mostruário de análise de organização social, seja no antigo regime, seja na época contemporânea. Especialmente em Espanha, cujas confrarias e municípios perseveraram em manter o aparato que precedeu oVaticano II.
Ao longo do cortejo descortinam-se formações de juizes com varas altas. Estes dignitários sinalizam estandartes, pendões e andores. Funcionam como escolta ou guarda de honra de determinadas insígnias, autoridades, relíquias e santos de veneração. E como mestres de cerimónias.
Embora mais singelas, varas da mesma família e com idêntica função são utilizadas nos festejos açorianos do Divino Espírito Santo, donde passaram ao Brasil, aos EUA e ao Canadá. Em certas ilhas as varas são fixadas em quadras, designadas "casolas", formando os "vereadores" e "irmãos" a guarda de honra ao estandarte, ao imperador e ao pároco. Noutras ilhas, as varas transportam-se levantadas (melhor dizendo, alçadas. Vara derreada significa ausência do titular do poder, vara partida significa morte do titular do cargo, vara preta significa luto).
Partindo destes exemplos, tenho-me interrogado sobre a aparente ausência de vereadores em alguns impérios fundantes como os de Alenquer e Eiras (Coimbra), ambos extintos no século XIX, ambos reconstituídos nos últimos 10 anos. Naquele que é considerado o segundo em fundação (Penedo, concelho de Sintra), também não parece haver vestígios de varas. Em sede de uma primeira reflexão sobre o assunto, ocorre-me a seguinte hipótese: em impérios como Alenquer e Eiras terão sido usadas varas em determinados trajetos do cortejo imperial e nas coroações. Só que, como participavam ativamente nestas festividades as santas casas e as câmaras municipais, as varas eram exibidas pelos titulares dos cargos, provedores, presidentes de câmara, vereadores, meirinhos e juizes da terra. Nas irmandades rurais açorianas (impérios da terra, do mar, de meninos), em que não participavam fidalgos nem corporações municipais, a "briança" (vereação) terá sido assumida pelos irmãos convocados pelo imperador/mordomo. Admito contraditório.

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