segunda-feira, 13 de agosto de 2012

EMCL (5): em 1906 ficou concluída a obra de  pintura do novo edifício da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, que até à década de 1950 foi considerado o mais importante edifício expressamente concebido e construído em Portugal para o ensino de ciências médicas.
Para além do retrato do rei D. Carlos I, pintado por José Malhoa, o pintor Veloso Salgado realizou na sala de atos um expressivo conjunto de afrescos historiados, com mais de 100 figurantes, que se propunha contar a História da Medicina.
A narrativa plástica inicia-se na Grécia Clássica, passa pela Medicina Árabe, revisita a Medicina Medieval, bem como os processos de experimentalismo do Renascimento, da cientificação dos séculos XVII e XVIII e do positivismo laico do século XIX. A Medicina Portuguesa, com Garcia de Orta e outros, é convocada e integrada na história da Medicina ocidental.
A estrutura narrativa e discursiva é prejudicada pelo positivismo que à época dominava o ensino das ciências médicas nas escolas ocidentais europeias e americanas, expresso nos títulos atribuídos a alguns dos panneaux: "História da Medicina na sua feição teológica e sacerdotal", "História da Medicina Laica". Seja como for, Veloso Salgado constroi uma convincente imagem dos saberes e das práticas médicas que traduz a perceção predominante entre as elites que integravam os quadros professorais das escolas públicas em atividade em Lisboa, Coimbra e Porto. Que professores da EMCL terão fornecido a Veloso Salgado informações e nomes para serem incluídos nos afrescos?
Vale a pena revisitar estas construções narrativas de inícios do século XX, muito marcadas pelos referentes da descristianização, fixadas em importantes edifícios como a Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, a sala do tribunal do comércio do Palácio da Bolsa do Porto e a caixa das escadarias da Academia Politécnica do Porto. Apesar de estarmos em presença de instituições não universitárias e de orientação marcadamente prática, nem por isso estavam ausentes os referenciais eruditos, o gosto aristocrático e o culto da cultura clássica.
Fonte: Brasil-Portugal n.º 174, de 16.4.1906

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