terça-feira, 21 de agosto de 2012

Receção aos caloiros na FL/UL (1923)

Foto ao fundo da página: sessão solene de abertura, presidida pelo Prof. José Leite de Vasconcelos, das festas de Receção aos Caloiros da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que tiveram lugar em 8.12.1923. Professores e estudantes "à futrica". Leite de Vasconcelos era um académico de formação positivista oriundo da Médico-Cirúrgica do Porto/Curso Superior de Letras de Lisboa e um antripraxista assumido. Deixou escritos onde condena explicitamente a importação dos costumes académicos conimbricenses pelos liceus e novas universidades republicanas.
Há quem diga que tem, mas a receção aos caloiros não tem origem coimbrã, embora em 1904 se tenha constituído na Universidade de Coimbra uma comissão de estudantes republicanos e antipraxistas que dinamizou um programa chamado de receção. Esta iniciativa ficaria em letra morta até inícios da década de 1950, altura em que a AAC tentou realizar uma receção que também não teria continuação. A chamada "semana de receção ao caloiro" só viria a ser implementada pela AAC entre 1979 e 1987 no contexto traumático de restauração das tradições académicas e de lutas incendiárias entre as juventudes partidárias. Era uma festa banal e incaracterística que procurava concentrar ao longo de uma semana uma imitação pobre da Queima das Fitas (de tal arte que na serenata monumental se interpretavam em início de ano escolar peças de despedida), a imposição de insígnias dos novos grelados e novos fitados, a latada das faculdades e até as comemorações da Tomada da Bastilha, junção aberrante que deixava os antigos estudantes à beira de um ataque de nervos). Alguns dos antigos estudantes adeptos fervorosos da restauração das tradições académicas no após 1974 que tinham vindo a aconselhar a DG-AAC a promover a "semana de receção" eram também os primeiros a criticar a probreza do programa e a denunciar que se tratava de uma importação acrítica e politizada de festas que antes de 1974 se faziam na FL/UL e com maior incidência nos magistérios primários. Aliás, o imaginário kitsh de tipo creche avultava nos bibes, nas chupetas e nos biberons abundantemente registados nas fotografias [que eram um dos grandes negócios da festa cujos lucros revertiam integralmente para as casas fotográficas].
Nos festejos de 1988 muito se procurou melhorar. Uma das pequenas grandes vitórias consistiu em convencer os dois autores do cartaz a pintar em letras garrafais "festa das latas e imposição de insígnias". Esta facécia alimentaria troca de galhardetes entre as duas juventudes partidárias que dominavam o rotativismo eleitoral da DG-AAC, mas a "receção" ficou na prateleira. Para não destoar, o autor da iniciativa não receberia agradecimento. Mas voltemos à fotografia e à conversa inicial: a UL não criou apenas a receção. Foi igualmente no seio dos seus estudantes católicos que nasceu na década de 1920 a "consagração dos finalistas ao Sagrado Coração de Jesus", que levada para a UC e para a UP deu vida à "missa de consagração dos quintanistas católicos", ou em linguagem vulgar "missa da benção das pastas", que nas décadas de 1980-1990 seria globalizada e mediatizada.
Fonte: Ilustração Portuguesa n.º 930, de 15.12.1923

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