terça-feira, 26 de agosto de 2008



A Clef d'Ex

A École Nationale Pratique d'Ouvriers et de Contremaires de Cluny foi oficialmente estabelecida na Abadia de Cluny no ano de 1891.

Os alunos adoptaram desde os primeiros anos o uniforme militar gadzart das escolas de artes e ofícios, consagrado em França, então composto por casaca munida de botões dourados, calça comprida, boné francês, laçarote e sobretudo.

Por volta de 1895, o primeiro curso iniciou a realização de uma festa de formatura (Promotion). Símbolo da qualificação técnica dos alunos, foi concebida uma chave de grandes dimensões que os alunos fizeram exibir nas ruas de Cluny durante três dias de festejos, quarenta dias antes do encerramento do ano escolar.

Trata-se, de certo modo, da reciclagem de tradições medievais que identificavam os ofícios através de símbolos como sapatos, serras, tesouras, ferraduras e pás. O arranque das festividades em Cluny coincide, no plano escolar internacional, com iniciativas emergentes em Portugal na Escola Médico-Cirúrgica do Porto (Festa da Pasta), Academia Politécnica do Porto, Escola Politécnica de Lisboa (Enterro da Farpa), Liceu de Braga (Enterro da Gata), Liceu de Ponta Delgada (Enterro da Bicha), Liceu de Beja (Festa do Galo/Enterro do Galo) e Universidade de Coimbra (Queima das Fitas).

Parecendo novas, na realidade estas festividades escolares de julgamento, enterramento e incineração do ano escolar, remontavam ao teatro popular europeu medieval e nos finais do século XIX ainda se podiam apreciar em Portugal, Espanha, Bélgica, França e Itália, através de ritualizações cíclicas como a Queima do Judas, o Enterro do Bacalhau, a Serração da Velha e a Queima do Galheiro.

Em 1997 os antigos alunos da École de Cluny fundaram um museu, onde reuniram maquinaria, maquetas, uniformes e 26 chaves, sendo a mais antiga de 1898.

As chaves são tradicionalmente guardadas por uma espécie de mordomo ou juiz eleito pelos alunos, podendo ser conservadas na casa do guardião, solução tradicionalmente usada nas comunidades rurais portuguesas por irmandades encarregues da promoção de festividades religiosas anuais, e solução anti-roubo praticada desde há séculos para sólios de pálios, coroas preciosas e alfaias litúrgicas. Caso o guardião da chave faleça, a École contacta a viúva do aluno para que esta proceda à respectiva devolução.

Algumas chaves chegam a atingir mais de dois metros de altura. Apresentam num dos lados as letras AM (Arts et Métiers) e no outro EX (Exance), que significa a partida do aluno após a formatura. Em anos mais recentes, as chaves também passaram a ser exibidas na "rentrée".

Fonte: Musée de l'École de Cluny. Association Historique Clunysoise des Arts et Métiers, http://ahclam.gadz.org/Accueil/Voir.

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