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sábado, 10 de setembro de 2022

Mistura de cores /mezcla de colores academicos

 

Na tradição das universidades ibéricas e ibero-americanas fundadas até finais do século XVIII foi habitual a mistura de cores distintivas das várias ciências, as quais deveriam estar visíveis nas insígnias correspondentres aos graus de bacharel, licenciado, mestre e doutor. Neste caso, quadro a óleo proveniente do México / século XVIII, relacionado com um doutor em Leis e Cânones pela Real e Pontífica Universidade do Vice Reino da Nova Espanha / México, com distinção das cores verde+vermelho no barrete e no capelo (representação de São Raimundo de Penaforte).



terça-feira, 6 de setembro de 2022

Alterações no dress code de Oxford e Cambridge


Por cá patina-se na maionese. Os dress codes elaborados por grupos ad hoc de estudantes consagraram um mundo de disposições vestimentárias assentes no princípio clássico da discriminação de género segundo o qual homem que é homem veste calças e mulher que é mulher veste saias. Esta visão é relativamente recente, remontando apenas ao século XIX, inspirada pela uniformologia militar. Nos finais do século XX foi alimentada por propostas de designers nem sempre as mais felizes e por um impressionante conjunto de proibições que na era liberal seriam insuscetíveis de regulamentação. Chega a ser ridículo o que se pretende proibir e regulamentar.

Em Coimbra ficou célebre a resposta dada pelo bispo e professor D. António Aires de Gouveia ao reitor Basílio de Sousa Pinto. Gouveia usava bigodaça numa época em que a Polícia Académica fiscalizava os bigodes por ordem do conselho de decanos. Tampouco era bem visto socialmente que um padre ou um bispo usassem barbas, andando em geral os elementos do clero de caras escanhoadas. Interpelado pelo reitor, Gouveia ficou famoso por ter respondido "Na minha cara mando eu!"

Vem tudo isto a propósito de em 2012 a Universidade de Oxford ter reformado oficialmente o dresse code associado aos atos e cerimónias académicas que envolvem estudantes. Tradicionalmente as peças básicas do traje académico (toga, barrete, capelo) eram usadas com traje civil preto, calças compridas para os alunos, saia para as alunas. Respondendo a um pedido de estudantes que visavam acabar com a discriminação de género, o saio ou as calças compridas passaram a ser utilizadas pelos estudantes independentemente do seu género. No ano seguinte, em 2013, e seguindo a posição adotada por Oxford, a Universidade de Cambridge alterou o seu dress code. Não deixa de ter graça lembrar que na escocesa Univ. de Saint Andrews o saio já era usado nos atos académicos solenes.

Que se saiba, nenhuma destas alterações foi referida em Portugal, cujas academias continuam alegremente a seguir disposições integradas em articulados que nunca foram discutidas nem aprovadas oficialmente pelos órgãos de governo das universidades e institutos politécnicos. Basta fazer uma pesquisa em "estatutos" associado às palavras universidade e politécnico. Publicações disponíveis na internet confirmam que na Academia do Minho, o organismo estudantil "Cabido dos Cardeais" aprovou em 05.07.2021 um resolução segundo a qual o traje académico pode ser vestido por qualquer estudante matriculado independemente da dicotomia clássica masculino / feminino. A decisão é pioneira e interessante, mas lida com matéria complexa, se tivermos em linha de conta que o traje do tricórnio instaura no momento alfa da sua origem uma vincada dicotomia M / F assente na diferenciação de peças nucleares básicas como sejam saia / calções. Seria seguramente mais fácil discutir a situação quando as peças nucleares são unissexo como acontece com os corpos discentes das universidades, magistraturas judiciais e ordens de advogados onde a toga / beca é a mesma.

Nos idos de 1988-1990 tentamos sensibilizar um grupo restrito de alunas para a importância de se proceder ao debate dos seguintes desafios: a) seguindo o exemplo das universidades anglo-saxónicas, converter as peças nucleares do traje em elementos unissexo; b) quanto às peças secundárias do traje, começar a generalizar o uso de calças compridas, pelo menos nos meses de inverno, tendo em conta que várias corporações profissionais ocidentais já tinham generalizado os uniformes femininos com calças compridas; c) quanto aos tecidos e formas, pensar em soluções funcionais (confortáveis) e esteticamente felizes. O resultado destas conversas foi dececionante. Que não estava no código. Que era melhor não armar problemas. 

E pronto, enquanto uns se ocupam com tatuagens, piercings e brincos, outros resolvem problemas relacionados com a discriminação. Aqui, vamos pelos britânicos.

Retrato de desconhecidos

 

Retrato de estudantes da Universidade de Coimbra, não identificados, finais do século XIX. Cliché de Sartorio / Coimbra / Rua de Sub-Ripas n.º 14 / sem data. [entre 1870-1880]. Presentes dois estudantes do sexo masculino com capa e batina. Abatina de golas, muito comum nas décadas de 1870-1880. Relógio de bolso visível. Capa debruada. No verso: "Adelino Novais ao centro da photographia".



segunda-feira, 5 de setembro de 2022

D. António Alves Martins

 

Raríssima fotografia do bispo de Viseu /Portugal, D. António Alves Martins (1808-1882), professor, político liberal, religioso católico e coordenador de serviços de enfermagem.

Carte-visite realizada em Lisboa (?) na década de 1870.

A indumentária corresponde à versão portuguesa do traje de abatina para elementos do clero secular romano: sapatos pretos de fivela de prata; meias de seda cor-de-rosa; calções pretos de seda avivados; redingote preto de seda avivado nas bainhas e orlas (colarinhos, bocamangas, portinholas dos bolsos); colete preto, de seda; cabeção preto e volta branca; solideu episcopal; mantéu romano curto à francesa, em seda preta, com cós plissado; capelo romano (saturno) de castorina, com cordões e bolotas verdes (?); cruz peitoral em ouro. Esta fotografia serviu de base a uma caricatura desenhada por Bordallo Pinheiro no Álbum das Glórias (1881), e foi a fonte direta da estátua de bonze deste prelado ereta em Viseu.

Há três elementos neste conjunto indumentário que confirmam o ideário liberal constitucional de D. António Alves Martins e a sua vontade de distanciamente do clero ultramontano romano: a abatina curtinha e desabotada; o capelo romano de aba curtinha, dito saturno, que desde as décadas de 1850-1860 vinha a substituir o antigo chapeirão de abas (tricórnio); o não uso da chamarra romana na via pública, hábito privado que na década de 1850 fora generalizado na corte pontifícia.




quarta-feira, 13 de abril de 2022

Raizes

 

Por onde começou um percurso pouco conhecido e pouco documentado: o hábito de cidade / hábito de corte que teve grande voga entre o reinado de Luís XIV e a década de 1850, com sinalizações na Grã-Bretanha e domínios, França, Suécia (Faculdade de Teologia, Universidade de Upssala), corte pontifícia romana, Portugal (traje de redingote) e Universidade de Coimbra. 

Hoje em dia ainda substistem resíduos em alguns estabelecimentos de ensino superior (Univ. de Coimbra, Univ do Porto, Univ. Católica Portuguesa, Instituto Superior Politécnico de Tomar) e na Univer. de Upssala.

O modelo mais recuado conhecido foi sinalizado em estampas do reinado de Luís XIV, fixando um hábito civil preto em tecido de seda, composto por calções de balão, meias altas, colete e casaca de tipo túnica persa (justaucorps), com capa de seda curta. Como acessórios, sapatos pretos de pele, chapéu redondo ou tricórnio, solidéu, bengala de castão e colarinho em forma de bacalhau. Este hábito foi mantido em seda preta integral, com e sem lavores (França, Portugal, Grã-Bretanha, Suécia, USA) ou enriquecido com vivos nas cores das dignidades eclesiásticas (Corte pontifícia romana).


Hábito de abade / hábito curto / hábito de cidade, versão francesa primitiva, ca. 1670-1680, ainda com o sombreiro de abas redondas e a capa de tipo mantéu embainhada sensivelmente pela altura dos joelhos. Gravura da coleção do Britsh Museum.





Versão francesa generalizada na Europa, finais do século XVII, com os sapatos pretos de pele avivados de vermelho, moda lançada pela corte de Luís XIV. Alguma deriva entre os termos justaucorps e sotanelle (à italiana).


Nesta gravaura da coleção da Bibliothèque Nationale de France, o mesmo traje, acrescido de um regalo de felpudo que se usava no inverno. Chapéu ao colo.

Reconstituição do hábito curto pela Compagnie du Costume. Trabalho bem feito, rigoroso e minucioso, com falhas na confeção da capa, https://www.compagnie-du-costume.com/costumes/tenues-religieuses/xviie-abbe_light2/. Na versão portuguesa os botões eram sempre bordados a fio de seda ou revestidos de tecido, com formato plano (tipo moeda), e uma grande carcela fingida. Na UC este traje deixou de ser de uso obrigatório em 1910 (o que se usava diariamente desde 1863 era uma versão ordinária, com calças compridas, tipo pequeno uniforme ou farda de trabalho). Seria retomado em 1915-1916 numa versão simplificada ao nível dos tecidos e da confeção, já com botões pretos de massa à vista. A versão docente feminina resulta de uma adaptação feita em maio-junho de 1945 na UPorto por duas professoras da FC / UP.

Colarinho à italiana, constituído por cabeção de seda preta e volta branca. Foi usado pelos membros dos corpos docente e discente da UC entre o século XVIII e 1863, ficando reservado para as cerimónias entre 1863-1910.

Colarinho à francesa, seda e lã, com vivos, cerca do ano de 1800. Composto por plastron e cabeção.


sexta-feira, 25 de março de 2022

Beato João Escoto

 

Retrato imaginário do beato João (Juan) Duns Escoto (escossês), por Miguel Cabrera, pintor mexicano ativo entre 1715-1768. Óleo sobre tela proveniente da cidade de Tepotzotlán, integrado nas coleções do Museo Nacional del Virreinato, ID 1029, fotografia de Maria Rosario Leal, disponível em http://52.183.37.55/artworks/1029

O religioso é representado com hábito regular da respetiva ordem, ostentando insígnias de Teologia / Sagrada Escritura: capelo de duas murças, deitado pelos ombros, constituído por murça interna preta, com capuz, e murça externa branca, com carcela; sobre a mesa de trabalho, barrete doutoral de quatro picos, forrado de seda preta, com borla e pega em seda branca. A figuração corresponde no essencial ao modelo de insígnias ibero-americanas em uso na Real e Pontifícia Universidade do México, anteriormente ao processo de barroquização que se veio a verificar pelos meados do século XVIII. Este modelo de capelo universitário, sem alamares, com o estofo nas cores científicas, é o que ainda hoje está generalizado em universidades de Espanha, México e Filipinas. O mesmo já se não dirá do barrete que passou a ser o judiciário hexagonal ou octogonal, mantendo a borla e a franja mas sem o florão ou pega que apenas sobreviveria em Coimbra e nalgumas universidades do Brasil.




quinta-feira, 3 de março de 2022

Jovem aluno

 

Retrato a óleo de um jovem aluno, por Nicolas Bernard Lépicé, datável de cerca 1775-1780, coleção do Museum of Fine Arts / Boston.

Pasta estofada de tecido branco, revestida de pele castanha, com motivos desenhados, fitilhos e um pequeno tinteiro. Por aqui se pode ver que a chamada pasta do quintanista de Coimbra nem sempre foi considerada exclusiva dos estudantes de Coimbra.




terça-feira, 4 de maio de 2021

Capote escolar

 

Capote de aluno do primeiro ciclo / escola primária, França, modelo em uso entre a 2.ª metade do século XIX e a 2.ª  Guerra Mundial. Lã e botões.

Integra o Musée du Chateau, França, n.º de Inv. 84.16.4, sendo datável dos anos de 1939-1940, https://webmuseo.com/ws/musees-regioncentre/app/collection/record/10317





domingo, 2 de maio de 2021

Pillbox hat

 

Pillox hat, tmabém conhecido por barretina e tacho, fabricado em Londres na segunda metade do século XIX, 

https://www.ima-usa.com/products/original-british-victorian-era-pillbox-hat-by-hobson-sons-of-london?variant=12153816154181

 Esta cobertura de cabeça foi amplamente usada na Europa, nas academias militares, em colégios privados e como parte integrante das librés dos empregados de hotelaria (hotéis e barcos-cruzeiros).

Atualmente faz parte do uniforme de gala do Colégio Militar. Entre as décadas de 1890-1920 foi usado pelos estudantes dos liceus de Lisboa e de Évora, sendo conhecido como tacho e / ou tachinho.



domingo, 23 de fevereiro de 2020



Enxoval de aluna de colégio privado

Enxoval e "trastes" exigidos às alunas do Colégio Português, situado na Praça da República, em Coimbra, segundo o regulamento editado em 1923.

Acervo e digitalização: João Baeta




Editada uma monografias sobre as vestes talares no judiciário brasileiro

No dia 18/02/2020 foi apresentado em Brasília o livro de Katia Albuquerque, A toga e a beca, vestes talares.




Enxoval de um estudante (1867)

Relação de peças de indumentária que o estudante Álvaro Adolpho Avelino Henriques levou para Coimbra em 7 de outubro de 1867, constituindo o seu enxoval civil, com destino à frequência do 1º ano da FD/UC: «Relação da roupa, fato e calçado que trouxe para Coimbra».

Acervo e digitalização: João Baeta


quarta-feira, 11 de dezembro de 2019



Perguntas dos leitores


Boa noite. Li com muito interesse o seu texto sobre as vestes sacerdotais. Presentemente, procuro desenvolver uma pesquisa especificamente sobre o vestuário funerário dos padres, i.e., com que veste se sepultam os padres, interessando-me sobretudo aquela que seria a prática nos séculos XVII e XVIII, em Portugal. Grata desde já. em

em 04-12-2019
Resposta: convém ter muito claro a que padres se refere. O clero secular ia a velar e a enterrar com as vestes talares que constavam dos usos e costumes da tradição católica romana, por vezes referidos nos estatutos dos seminários católicos e nas constituições sinodais. A Igreja Católica admitia vestes com morfologias distintas conforme as regiões / continentes, não se podendo falar em vestes padronizadas. Interessa também lembrar que os chapéus e barretes clericais eram ostentados nos velórios e transportados durante os cortejos fúnebres, podendo ser dependurados nas abóbadas das catedrais (caso os galeros dos cardeais).
O clero regular era velado e inumado com as vestes das respetivas ordens que habitualmente vinham referidas nas regras.
Ao contrário dos estatutos corporativos e regulamentos militares do século XIX, que detalham cores, medidas e tecidos, os textos católicos dos séculos XVI a XVIII apenas designam genericamente as vestes e, por vezes, as cores admitidas e proibidas.
A Igreja Católica tinha o cuidado de redigir e publicar minudentes manuais de cerimonial onde os procedimentos fúnebres eram regulamentados com detalhe.


Olá (…) Esse tipo de batina, isto é, batina com cauda, foi abolido? Obrigado! em

em 02-12-2019
Resposta: Caro Pedro, não se pode falar em abolição formal. O que se pode dizer é que no pontificado de Paulo VI as vestes sacerdotais, insígnias, jóias e adereços que se consideravam de luxo ou próprias de uma vida cortesã / aristocrática foram tornadas facultativas. Foi neste ciclo de simplificação do cerimonial romano quinhentista que progressivamente foram abandonadas as vestes talares de seda, as vestes talares de cauda rastejante, os complexos e muito caros chapéus de borlas e as murças de arminhos. Serviu de paradigma às casas dos cardeais e bispos a extinção da clássica corte pontifícia romana. O próprio papa Paulo VI ofertou a última tiara conhecida. Os cardeais romanos deixaram de usar o galero. E a sedia gestatória em breve seria musealizada.
Foi, por conseguinte, no rescaldo do Vaticano II que chegaram ao fim as antigas batinas talares de cauda que se podiam fixar à cintura ou levar de rastos, exigindo um aparato de pajem caudatório para os desfiles e para o senta e levanta, o que não era nada prático.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019


Cerimónias de d.h.c. na UP (1943)

Fonte: Vida Mundial Ilustrada, nº 111, edição de 1.06.1943


domingo, 13 de outubro de 2019



Retrato de Roberto Frias

Retrato do médico Roberto Frias, membro do corpo docente da Escola Médico-Cirúrgica do Porto em 1907.
Veste toga preta talar, de mangões de boca de sino, com sobremangas à maneira da beca de juiz, fartos plissados nas costilhas e peito. Conjunto completado por barrete preto de copa oitavada e borla central em forma de pompom. Esta cobertura de cabeça comportava um galão de cetim preto em torno da base. Era o uniforme corporativo de uso comum, correspondente ao pequeno uniforme, existindo um grande uniforme à base de casaca e espada. A toga tinha as suas origens na veste adotada um bom meio século antes da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, apresentando embora algumas variantes no feitio das rosetas peitorais e especialmente na copa do barrete (o de Lisboa tinha base circular, copa circular e quatro cristas encimantes).
Com a transformação da EMC do Porto em faculdade e respetiva integração na UP (1911) este traje continuou a ser usado pelos membros do corpo docente da FM/UP. Nas demais faculdades verificou-se preferência pelo hábito talar de matriz conimbricense (com e sem borla e capelo). Faculdades havia em que o traje conimbricense era usado ao longo de toda a carreira docente nas cerimónias a que concorriam os professores. Noutras, os docentes começavam por usar o traje de matriz coimbrã, mas na promoção a professores catedráticos passavam a trajar a toga.
O traje de toga foi substancialmente reformado nos inícios do século XXI, sendo hoje em dia cada vez mais raros os docentes da UP que ainda usam a antiga toga. Outra tendência que se generalizou após 1974 foi o abandono do barrete.

Fonte: revista Argus, nº 1, maio de 1907

quinta-feira, 29 de agosto de 2019



Dúvidas sobre os trajes de bedel (sécs. XVII e XVIII)

Caro João Durães

Não há uma resposta única para o que seriam os trajes de bedel na Europa e na América dos séculos XVII e XVIII.
No caso dos auxiliares de cerimónias religiosas católicas importa ver com cuidado o significado de opa. Tanto eram opas túnicas sem mangas vestidas pelos membros das irmandades, como também eram opas as complexas vestes de seda das santas casas de misericórdia. Existem gravuras coloridas de época e fotografias do século XIX que documentam em Itália, Espanha, Grã-Bretanha e França como eram as antigas vestes de bedel nas universidades, sinagogas e catedrais. No geral eram vestes do tipo toga / túnica com barrete e insígnias da arte. No caso específico da Universidade de Coimbra, as antigas vestes de bedel que constam nos Estatutos não eram o traje palaciano de capa e espada mas sim a loba, uma complexa veste talar de dois corpos sobrepostos que admitia pelo menos 3 variantes morfológicas. No caso de Espanha, pelo menos nas procissões do Corpus Christi alguns cabidos catedralícios mantiveram a indumentária específica dos maceiros e dos pertigueros (bedéis, porta-varas). Nas catedrais anglicanas essa tradição ainda mantém acentuado vigor.
Espanha: Leia informação complementar em https://liturgia.mforos.com/1699102/8004367-pertigueros-maceros-y-pajes-de-hachas/. Para o contexto anglo-saxónico pode pesquisar "cathedral vergers").
Alemanhahttp://philippi-collection.blogspot.com/2011/04/barett-of-kirchenschweizer.html
O traje usado na atualidade pelos bedéis da UC não é minimamente fiável para fins comparativos, uma vez que o que se vê nos filmes do youtube e em fotografias editadas na internet é um vulgar traje de passeio com uma capa que não corresponde às caraterísticas do traje de capa e espada requerido pela etiqueta.

A "opa de bedel" sinalizada nos documentos poderia ter alguma semelhança com os hábitos dos camareiros e oficiais da corte papal, por exemplo, com o traje de porta sedia (sediari) que se usou até finais da década de 1970:

Fotografia storica militare / la corte e i cardinale / famiglia pontifícia, https://myarchiviostoricofotografico.com/2019/01/cardinali-e-personaggi/


Bedéis de igreja com maças de prata, vestindo os hábitos talares do ofício e barrete. Cortejo fúnebre de Carlos XIII, duque da Lorena, em Nancy, no ano de 1608. No essencial corresponde à morfologia observada para a mesma época em trajes italianos, espanhóis, franceses e portugueses para uso em universidades, tribunais e catedrais. A "verger gown" anglo-saxónica ainda mantém as linhas básicas desta veste. Já divulgamos neste blogue este tipo de veste, tendo em conta um exemplar completo que pertenceu a São Vicente de Paula. Cópia oitocentista do original, anunciada para venda, https://www.akg-images.com/CS.aspx?VP3=SearchResult&VBID=2UMESQ5G2XA5V9.

Reitor, decanos e bedéis da Universidade de Perpignan, França, finais do século XVIII (ca. 1787), disponível em https://www.mairie-perpignan.fr/fr/culture/patrimoine/monuments/lancienne-universite

O traje referenciado no documento pode ser do tipo supra, neste caso loba fechada de dois corpos, barrete de Teologia/Filosofia e beca de ombros, conforme usança nos colégios maiores de algumas universidades espanholas (ex: Valladolid), e em colégios superiores da América espanhola que concediam graus académicos. Como traje de alguns seminários episcopais sobreviveu em Espanha até à década de 1960. A sobreveste podia ser preta, vermelha, azul e castanha (pardacenta), em tecidos que iam da lã fina, à sarja, ao adamascado e à seda lavrada. É a este tipo de indumentária que se referem os velhos estatutos da UC quando mencionam lobas para bedéis.
Retrato setecentista integrado no Museu del Virreino / Universidad Nacional de México, http://pem.facmed.unam.mx/index.php/salas/pinacoteca-virreinal


A referência documental deve reportar-se ao tipo de indumentária fixado nesta imagem. Bedel (pertiguero) da catedral e basílica de Barcelona com a antiga veste talar e maça de prata do ofício. Traja chapéu quinhentista à Filipe II (ainda hoje usado pelos maceiros municipais de Pamplona), loba de dois corpos (a interna em veludo escuro; a sobreveste em seda lavrada de padrão banco?), beca de compridas pontas dorsais e gorjeira à século XVII. Nos acessórios, luvas brancas, calções, meias altas e sapatos pretos de fivela de prata. Fotografia de 1916.




terça-feira, 27 de agosto de 2019


Representações de São Cosme e São Damião

Imagens sacras em madeira entalhada, estofada e policromada de São Ivo e São Cosme, venerados como santos médicos. São por vezes figurados na arte sacra luso-brasileira e hispano-americana como médicos com vestes talares universitária e insígnias doutorais de Medicina.
Estas duas imagens parecem replicar outras duas, do século XVII (?) existentes na igreja da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da cidade do Recife / Brasil.
Ostentam os barretes com franjas de seda amarelas, cor científica da Medicina em Portugal e em Espanha. Vestem o famoso traje talar multissecular de loba fechada (ou cerrada), composta por duas amplas túnicas pretas, ou uma em preto e a outra em castanho, de vestir e despir pela cabeça. A veste de baixo, designada sotaina, tinha carcelas sobre o peito e nas bocamangas. A sobreveste (beca, garnacha fechada) tinha largas cavas para a saída dos braços e falsas mangas pendentes.
Sinalização não identificada, disponível em http://santossanctorum.blogspot.com/2010/09/sao-cosme-e-sao-damiao.html

 As imagens recifianas, já anteriormente editadas.


Imagem sacra (Mafra)

Imagem de vulto, de Santo Ivo (?) com hábito de coro e insígnias doutorais conforme as usadas na Faculdade de Direito Canónico da Universidade de Coimbra. Altar, igreja do convento de Mafra, Portugal, século XVIII. Capelo de duas murças, com capuz e alamares. Barrete quadrangular com láurea barroca e pega.


 Exemplo de trabalho de passamanaria em fio de ouro, aplicado em frontal de altar, museu de arte sacra, convento de Mafra / Portugal. Ornamentação com galão de florinhas, franjas torsas e de pingentes florais, comum ao barrete doutoral conimbricense.

sábado, 24 de agosto de 2019


Gafezinhas protocolares, pois sim senhor!

Aproveitamos para sinalizar algumas gafes protocolares associadas ao protocolo académico, tendo em conta a visualização de filmes e fotografias circulantes na internet. O porte da indumentária académica, seja a clássica, sejam os novos trajes aprovados por comissões de estudantes a partir de 1990, segue disposições protocolares de há muito consagradas em cerimónias religiosas, militares e universitárias. Mesmo quando se trata de um traje de origem e /ou inspiração etnográfica, é importante saber que os camponeses usavam os chamados trajes de festa / domingueiros segundo determinadas regras no que respeita a cumprimentar, saudar, entrar e estar em templos, palácios e tribunais. É da mais elementar sabedoria popular o conhecimento de regras básicas relativas ao porte de gabões, capas, capotes e chapéus. Sendo certo que as regras de protocolo e civilidade são evolutivas, não é propriamente simpático visualizar imagens de cerimónias nas quais representantes de órgãos como associações de estudantes desfilam e usam da palavra sem conhecer os básicos do protocolo associado ao uso de capas, capotes e coberturas de cabeça. Como compreender o excesso de regulamentadorismo e proibicionismo nos chamados códigos de praxe proliferantes e os chutos para canto em meia dúzia de regras protocolares que são do senso comum? A compra de um bom velho manual de etiqueta num alfarrabista poderia ajudar.

-Cerimónia comemorativa do 44º aniversário da UA, galeria fotográfica da PR, veja-se o representante dos estudantes no uso da fala com o gabão ao ombro, 15.12.2017, http://www.presidencia.pt/?idc=10&idi=140666
-Comemorações do Dia da UAlg., 15.12.2018, registando-se: na comitiva estudantil que transporta as insígnias a conferir ao d.h.c., duas estudantes apresentam-se de capa ao ombro; mais à frente, o presidente da associação de estudantes faz as saudações e discursa de capa ao ombro, https://www.youtube.com/watch?v=PtHvvvIm5wM
-Dia da UP, 22.03.2019, cerimónia sem reparos protocolares dignos de nota. Apenas salientar a duplicidade de critérios do órgão organizador, que tanto aceita indumentária e adereços de cerimónia (capas, togas, grandes colares, medalhas), como premiados em mangas de camisa. Não parece haver da parte do órgão organizador da cerimónia um conceito congruente de indumentária adequada ao evento e, caso exista, o mesmo não terá sido explicitado nos convites, https://www.youtube.com/watch?v=xHBPEfQGEt0.
-Diversas problemas com a capa, ou a falta dela, em cerimónias na UMinho, como sejam o dia da fundação, a investidura de reitores e d.h.c.. Exemplo: https://www.youtube.com/watch?v=6Gqddw5e9eA. No filme relativo à investidura e proclamação do novo reitor, com data de 28.11.2017, podem observar-se dois estudantes auxiliares do protocolo a percorrer o paraninfo sem capa, enquanto que o presidente da associação estudantil inicia a sua intervenção de capa ao ombro e não se descobre para fazer as cortesias, https://www.youtube.com/watch?v=1R1jCku0oGw.
-Não é propriamente gafe protocolar mas sim crescente desconhecimento dos procedimentos artesanais de confeção do hábito talar (capas transformadas em meios capotes, batinas convertidas em casaquinhos de 3/4), o que em termos de impacto visual e de imagem institucional sugere uma certa carnavalização e uma guinada para as fatiotas do tipo rececionista de hotel e vendedora da Charles. Quando se chega aqui, mais vale fazer as arguições em traje civil ou então criar um vestiário com peças de vários tamanhos para uso dos elementos dos júris. Vejam-se as fotos das arguições de provas doutorais na UC, https://www.uc.pt/fctuc/dei/NOTICIASEVENTOS/ProvasdeDoutoramento.



Primeiras mulheres doutoradas em Espanha

1-Maria Isidra Quintino de Guzmán y la Cerda (1767-1803), doutorada em Filosofia y Letras pela antiga Universidad de Alcalà de Henares, em 1785. Insígnias em azul claro.



 2 - Martina Castells Ballespí, em Medicina, na Universidad de Zaragoza, 1882. Insígnias em amarelo.

3 - Angela García de la Puerta (1903-1992), doutorada em Ciências pela Universidad de Zaragoza, 1928. Insígnias em azul escuro, conforme a cor usada na Faculdade de Filosofia Natural/Universidade de Coimbra entre 1772-1911. Imagem disponível em https://letrasdesdemocade.com/2017/12/11/las-primeras-doctoras-de-ciencias-de-espana/. 




Dois barretes académicos doados à Universidade das Baleares

Dois exemplares originais de barretes académicos, de estilo barroco, doados à Universitat des Illes Baleares pelo colecionador privado Josep Carles Tous, https://www.ultimahora.es/noticias/local/2001/09/27/827427/dos-birretes-con-historia-para-la-uib.html

O primeiro é em forma de chapéu preto /sombrero dos altos dignitários da China e Tibete, com as abas dispostas em três cantos e a copa ornada de florão de passamanaria. Nos séculos XVI-XVII os doutores não eclesiásticos da antiga Universidad de Alcalà de Henares usaram um sombreiro doutoral semelhante.
O segundo é um barrete preto quadrangular (de quatro picos) ornamentado com laurea franjada (flecos) e florão encimante, próximo do usado nas universidades de Cervera, Coimbra, México, Lima e Guatemala, e no Colégio Mayor do Rosário (Bogotá/Colombia).
Nos dois barretes, uma parte da franja é urdida em rede de pesacador, solução que também se usou em alguns barretes da UCoimbra na primeira metade do século XIX.


Cerimónia de colação do grau de doutor em Teologia, antiga Universidad de Alcalà de Henares, inícios do século XVII, tela existente na Universidad Complutense de Madrid. Um doutor em Direito Civil e dois doutores em Direito Canónico ostentam o mesmo tipo de sombreiro doutoral, com ampla franja de seda, mas sem o florão encimante. A simbologia é sempre a mesma, fazer ressaltar em todo o seu esplendor a árvore da ciência e os seus frutos.



Morfologia do capelo académico espanhol

Morfologia interna e externa do capelo/muceta universitário espanhol.
Capelo de duas murças/mucetas sobrepostas, cortado em meio círculo, com a murça interior em preto integral, capuz dorsal, murça superior aberta verticalmente sobre o peito e ornamentada com carcela de botõezinhos revestidos. O direito, normalmente em cetim de bom padrão, é na cor científica em que o detentor obteve o grau académico, podendo os botões levar mistura de cores.






Estranha indumentária de um antigo estudante da UC (1891)

Estranha combinação de cores na indumentária católica romana de um padre que se formou na Universidade de Coimbra em 1891.
Retrato de corpo inteiro, sentado, do Padre-Bacharel José Rodrigues Liberal Sampayo (1846-1935), natural de Vila Real. Após a sua ordenação sacerdotal na arquidiocese de Braga, e tendo trabalhado como sacerdote e professor, matriculou-se em 1886 na Universidade de Coimbra, tendo seguido os cursos de Teologia e Direito. Formou-se e colou grau em 1891.
Não se estranha nesta carte visite o facto de Liberal Sampayo envergar hábito talar romano de batina e ferraiollo com cabeção preto, volta branca, calções, meias altas, sapatos pretos de fivela e faixa de seda. O que se estranha são as cores presentes nas meias de seda e na faixa, algures entre o cor-de-roxa e o arroxeado. Sendo simples padre, os regulamentos vestimentários católicos não lhe autorizavam outra cor além do preto. Poderia meter vivos e galões na batina e na capa, mas obrigatoriamente de cor preta. A ter outra dignidade eclesiástica superior à de padre, seria cónego, e daí o colorido das meias e da faixa de cintura?
A fotografia não documenta coberturas de cabeça que seriam um solidéu preto e um barrete tricórnio.
Segura na mão direita uma pasta de luxo de quintanista fitado em Teologia (fitas brancas de seda) e Direito (fitas vermelhas de seda), com talas cartonadas e forradas de veludo vermelho e branco (?) com ornatos de prata (habitualmente iniciais do portador entrelaçadas artisticamente; símbolos dos cursos: cálice e óstia /balança e espada).
Três notas breves: a) de realçar que a pasta com fitas exibida durante o último ano do curso e nos momentos pós-formatura não era uma insígnia de grau. Era transportada pelo graduando no momento em que colava o grau de bacharel, mas o que se colocava na cabeça do graduando para lhe conferir o grau era o barrete doutoral do professor que presidia ao ato; b) embora seja situação omissa nos códigos protocolares conimbricenses, os trajes eclesiásticos M/F, regulares e seculares, são para todos os efeitos equivalentes ao traje académico, e o mesmo acontece nas universidades históricas britânicas, hispânicas e escandinavas (pelo menos em Uppsala). Portanto, se a coisa estiver omissa ou negada, será por puro desconhecimento do "legislador"; c) ontem como hoje, na UC e nas universidades hispânicas, sempre que o graduado detém especialização em mais do que uma ciência, misturam-se as cores dessas ciências nas insígnias.

Fonte: Velharias, http://velhariasdoluis.blogspot.com/2019/03/os-condiscipulos-de-coimbra-de-liberal.HTML, edição de 28.03.2019. 


Exemplos:

1-Portugal / Universidade de Coimbra: o bispo católico D. Manuel Trindade Salgueiro com insígnias doutorais (borla e capelo) com mistura das cores científicas de Sagrada Teologia (branco) e Letras (azul escuro). Ostenta ainda o epitógio de Teologia da Universidade de Estrasburgo. Fotografia de ca. 1940.
 2. Universidades espanholas: mistura das cores científicas de Medicina (amarelo) e Farmácia (roxo).

3.Antiga e extinta Univ. Real e Pontíficia do México, século XVIII: mistura das cores científicas de Sagrada Teologia (branco) e Filosofia (azul claro).
Saber mais (dicas úteis):
Em Portugal, após a revolução de 1974, muitas foram as novas universidades e institutos politécnicos cujos alunos decidiram consagrar cores distintivas para uso individual e grupal. Nalguns casos essas cores foram copiadas de universidades mais antigas, replicando tradições de Coimbra e do Porto. Noutros casos, as cores foram inventadas por grupos ad hoc de estudantes, ou por membros de associações de estudantes, sem qualquer diálogo institucional com os órgãos de gestão (senados, reitorias, outros) das instituições de ensino superior. Um exemplo de legalidade muito duvidosa que tinha as suas raízes no popular código da praxe de Coimbra, de 1957, cujos redatores tinham tomado disposições sobre trajes e precedência de faculdades sem qualquer concertação oficial com o senado/reitoria daquela instituição. Esta ausência de escrutínio (nem os estudantes envolvidos quiseram trabalhar em equipa com a reitoria /senado, nem a reitoria de Maximino Correia estava sensibilizada para trabalhar em grupo com os estudantes) fez com que tivessem ficado em letra de artigo alguns disparates e erros básicos como a precedência das escolas que nesse texto vem atribuída a Medicina! Sem prejuízo de se trabalhar em equipa com comissões de estudantes, ou mesmo de aproveitar o trabalho que já tenham realizado, não se pode esquecer que as universidades e institutos politécnicos possuem órgãos próprios de estudo, deliberação e aprovação, como reitorias, senados e conselhos gerais, e é aí que devem ser aprovados trajes corporativos, cores e insígnias.
https://web.ua.es/es/protocolo/documentos/preguntas/catalogo-orientativo-sobre-los-colores-del-traje-academico.pdf
http://online.unl.pt/xivencontroprotocolo2015/images/Estanislao_de_Luis_Calabuig.pdf

sexta-feira, 23 de agosto de 2019


Panorama evolutivo dos uniformes nos liceus, escolas técnicas e colégios franceses

Fonte: Les petits mains, edição de 13.09.2018, https://les8petites8mains.blogspot.com/2018/09/histoire-de-l-uniforme-scolaire-en.html

Estudante dos liceus, França, inícios do século XIX.




Boné dos estudantes germânicos

Studentenmutze / Schulermutze, boné de pala preta rígida com copa de tecido mole, no qual se usam abundantes pin's desde a década de 1930.

"Studentika", postal ilustrado de 1908, documenta o tratamento dos ferimentos sofridos por um estudante de Heildelberga num duelo com espadas (academic mensur). Os membros dos dois clubes de esgrima apresentam-se com o studentenmutze.

Um aspeto da ornamentação de um schulermutze, década de 1930


Imagens do boné dos estudantes das universidades e politécnicos da Polónia

Czapka Studencka é um boné de pala preta rígida, com copa de tecido, adotado pelos estudantes polacos das universidades e politécnicos, no qual se costumam aplicar pin's e crachás. Constitui uma variante do modelo de boné consagrado no século XIX nas universidades escandinavas e germânicas, com um arco de popularização que vai da Suíça à Islândia.
Informação e imagens:https://sites.google.com/site/czapkastudencka/co-to-jest-czapka-studencka/rozne-artykuly-o-czapce-studenckiej




Dois postais ilustrados

Fonte: coleção digital da Secção Filatélica da AAC


Cortejo alegórico da Queima das Fitas e Enterro do Grau de Bacharel, Coimbra, 31 de maio de 1905. Descida de viaturas de tração animal junto ao cunhal dos paços do concelho, vendo-se do lado oposto um edifício que foi demolido para a construção da caixa geral de depósitos. Postal ilustrado, edição da Papelaria Borges.

Estudantes da Escola Nacional de Agricultura de Coimbra, inícios do século XX, com o uniforme de porte diário: botas de cano alto, em couro; calças compridas; blusa de ganga (camiseiro de tipo farmer britânico); chapéu de feltro de aba larga. Postal ilustrado, edição da Papelaria Borges.



Uma dissertação de doutoramento sobre a história da associação de estudantes da Faculdade de Farmácia de Lille (2016)

Parece pouco comum que os investigadores que não sejam de História ou de Ciências da Educação escrevam teses sobre as associações de estudantes e a vida estudantil. Eis um caso curioso em que M. Anthony Canonne escolhe para tema da sua dissertação de doutoramento em Farmácia a  história da associação de estudantes da Universidade de Lille: L'Association Amicale des Étudiants en Pharmacie de Lille, un mythe de 1878 à la reconaissance officielle de 19 mars 1930, Lille, Université de Lille 2, 2016, disponível em https://docplayer.fr/89695069-These-pour-le-diplome-d-etat-de-docteur-en-pharmacie.html
Este trabalho contém abundante iconografia e informação histórica sobre o gorro académico (la faluche), com alusão a cores, ornamentação com fitas e pins. Segundo Canonne, as fotografias dos estudantes de Lille anteriores a 1910 apenas permitem reconhecer uma fitinha de cetim verde aplicada como um galão em torno da base das gorras. Bem ao contrário dos estudantes de Montpellier que na década de 1890 já tinha aplicado gomos vermelhos nas copas das suas gorras à Rabelais. A partir de 1910 os afiliados da associação de estudantes de Farmácia de Lille terão começado a ornar os rebordos das suas gorras com pines metálicos dourados com o símbolo da Faculdade de Farmácia. O exercício de análise das imagens selecionadas por Canonne confirma que só pelos meados da década de 1920 é que os estudantes de Lille generalizaram o uso de fitas coloridas e de uma crescente parafernália de pines metálicos nas suas gorras.
Atualmente existem nas universidades francesas códigos que explicitam as cores e o design dos pines, dando conta de uma capacidade inventiva muito duvidosa que rivaliza com muitos dos regulamentos portugueses publicitados na net.

Ler mais:
Le code (de la faluche) Montpellierain, http://gnarflesite.free.fr/LE%20CODE%20MONTPELLIERAIN(faluche.net).pdf


Cores adotadas nos barretes das goliardias italianas

Tabela com a explicitação das cores usadas desde 1888 nas goliardias universitárias italianas, nos barretes (berretto / feluca), adorno de cabeça consagrado no jubileu da Universidade de Bolonha, em 1888, ainda com o feitio de orsina, http://sitogratis.wedesa.com/goliardia-istituzionale/codici/4d-de-berrettaculum.html