domingo, 6 de novembro de 2011

O comandante e a tripulação do couraçado brasileiro Benjamim Constant, fundeado no Tejo, promovem um convívio a bordo da nave com aspirantes da marinha portuguesa em 9.2.1904. Aspecto do momento do brinde oficial e do baile.
Na segunda metade do século XIX os estilos de vida aristocráticos, considerados o paradigma ideal de civilidade, são apropriados pelas empresas ferroviárias, hotéis, termas de águas medicinais e empresas de navegação atlântica que promovem cruzeiros de luxo. As carruagens de 1.ª classe, os vapores de luxo e os hoteis são concebidos e decorados como fascinantes palácios e casas de ópera onde imperam os mais surpreendentes revivalismos artísticos (ainda não chegamos aos parques de diversões da Disney). Os empregados são fardados com uniformes que imitam a grande casaca de corte e as fardas militares. Assiste-se, por conseguinte, a uma deslocação dos eventos galantes das casas aristocráticas para os empreendimentos da alta burguesia capitalista que credibiliza os seus projectos e afirma a sua imagem pública imitando o estilo de vida da aristocracia. À época toda esta parafrenália poderia parecer bizarra aos olhos dos portugueses, país que não vivera uma consistente revolução industrial e onde o capitalismo era incipiente. Desde cedo, o capitalismo empreendedor adoptou técnicas de publicidade e marketingue que passavam pela reciclagem do património cerimonialístico da aristocracia. Nos USA, por detrás da puritana imagem do capitalista de sobrecasa preta e cartola aninhavam-se estratégias de aquisição de património, de expensão de mercados e produtos e de fidelização de clientelas que conviviam bem com a cultura de distinção social. Em Portugal, só após a revolução de 1974 é que ganha importância o protocolo empresarial, justamente quando a uma sociedade arcaica, assente numa agricultura de subsistência e no analfabetismo, sucedem uma mobilidade social intensa e a afirmação da economia capitalista de tipo concorrencial.
Neste jantar, realizado a bordo, presença de alguns sinais de distinção: oficialidade fardada; candelabros sobre a mesa; empregados do serviço de mesa em grande casaca preta civil, calções e meias altas.
Fonte: Ilustração Portuguesa n.º 15, de 15.2.1904

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