domingo, 6 de novembro de 2011

Festejos carnavalescos promovidos pelos estudantes do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa
O ócio, as pausas e a festa faziam parte da cultura organizativa e afectiva das comunidades tradicionais, Igreja Católica, monarquia, escolas, particularmente nos paradigmas societários mediterrâneos. A cultura empresarial mostraria desde cedo dificuldade e desconforto em articular o seu projecto com o calendário tradicional. Pareciam festas a mais, pareciam feriados a mais. As elites letradas e as figuras da alta finança capitalista alimentaram um discurso que denunciou mais ou menos continuadamente o perigo da preguiça, da marginalidade, do abaixamento da produtividade, da malformação da personalidade. A cultura humanística ocidental nunca conseguiria verdadeiramente convencer os seguidores do paradigma industrial da importância das pausas e das festividades. Contudo, à medida que as perversidades da industrialização e da exploração do operariado foram surgindo (das armas letais à poluição, das doenças profissionais à monotonia e robotização dos gestos), a discussão sobre a importância da festa tornou-se inevitável. Os primeiros importantes contributos viriam de onde menos se esperaria. Foram as empresas capitalistas japonesas a surpreender os ocidentais no após segunda guerra mundial com a implementação de ginástica no local de trabalho e de programas de relaxamento face à monotonia e violência no trabalho que gerava rotinas e baixas de produtividade. Os ocidentais começaram por pensar que os japoneses estavam loucos, numa altura em que algumas empresas podiam não ter a contabilidade em dia e os livros de actas estavam em branco mas carimbavam com zelo os livros de ponto e policiavam as idas dos trabalhadores ao WC. Quando as escolas de gestão começaram a falar em inovação, satisfação de colaboradores, criação de vantagem competitiva e sustentabilidade, os capitalistas ocidentais deixaram de pensar que os japonses estavam loucos. Claro que nem todos os empresários foram adeptos das solução enunciadas como menos positivas. São conhecidas em Portugal experiências notáveis, vindas do século XIX, que radicavam em modelos de gestão integrados de raiz filantropista, à luz dos quais a fábrica disponibilizava bairro operário, creche para filhos de trabalhadores, escola de primeiras letras, salão de festas/teatro, refeitório colectivo, enfermaria, bombeiros e formas espontâneas de convívio (teatro amador, banda filarmónica). Um dos mais interessantes casos portugueses de sucesso foi protagonizado pela Fábrica de Porcelanas da Vista Alegre, em Ílhavo, em cujo terreiro se terá começado a praticar o futebol trazido de Inglaterra. Os casos de sucesso e de excelência têm vida longa.
Fonte: Ilustração Portuguesa, n.º 15, de 15.2.1904

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