quarta-feira, 11 de dezembro de 2019



Perguntas dos leitores


Boa noite. Li com muito interesse o seu texto sobre as vestes sacerdotais. Presentemente, procuro desenvolver uma pesquisa especificamente sobre o vestuário funerário dos padres, i.e., com que veste se sepultam os padres, interessando-me sobretudo aquela que seria a prática nos séculos XVII e XVIII, em Portugal. Grata desde já. em

em 04-12-2019
Resposta: convém ter muito claro a que padres se refere. O clero secular ia a velar e a enterrar com as vestes talares que constavam dos usos e costumes da tradição católica romana, por vezes referidos nos estatutos dos seminários católicos e nas constituições sinodais. A Igreja Católica admitia vestes com morfologias distintas conforme as regiões / continentes, não se podendo falar em vestes padronizadas. Interessa também lembrar que os chapéus e barretes clericais eram ostentados nos velórios e transportados durante os cortejos fúnebres, podendo ser dependurados nas abóbadas das catedrais (caso os galeros dos cardeais).
O clero regular era velado e inumado com as vestes das respetivas ordens que habitualmente vinham referidas nas regras.
Ao contrário dos estatutos corporativos e regulamentos militares do século XIX, que detalham cores, medidas e tecidos, os textos católicos dos séculos XVI a XVIII apenas designam genericamente as vestes e, por vezes, as cores admitidas e proibidas.
A Igreja Católica tinha o cuidado de redigir e publicar minudentes manuais de cerimonial onde os procedimentos fúnebres eram regulamentados com detalhe.


Olá (…) Esse tipo de batina, isto é, batina com cauda, foi abolido? Obrigado! em

em 02-12-2019
Resposta: Caro Pedro, não se pode falar em abolição formal. O que se pode dizer é que no pontificado de Paulo VI as vestes sacerdotais, insígnias, jóias e adereços que se consideravam de luxo ou próprias de uma vida cortesã / aristocrática foram tornadas facultativas. Foi neste ciclo de simplificação do cerimonial romano quinhentista que progressivamente foram abandonadas as vestes talares de seda, as vestes talares de cauda rastejante, os complexos e muito caros chapéus de borlas e as murças de arminhos. Serviu de paradigma às casas dos cardeais e bispos a extinção da clássica corte pontifícia romana. O próprio papa Paulo VI ofertou a última tiara conhecida. Os cardeais romanos deixaram de usar o galero. E a sedia gestatória em breve seria musealizada.
Foi, por conseguinte, no rescaldo do Vaticano II que chegaram ao fim as antigas batinas talares de cauda que se podiam fixar à cintura ou levar de rastos, exigindo um aparato de pajem caudatório para os desfiles e para o senta e levanta, o que não era nada prático.

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