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quarta-feira, 19 de março de 2008

Caeremoniale Conimbrigensis
[cont.] Actos do Dia do Capelo

No dia designado para a cerimónia, logo pela manhã, após o toque da Cabra, entre as 7.45h e as 8:00h, dobra festivamente na Torre da Universidade o Sino dos Capelos, convocando lentes, estudantes e funcionários a Capelo.
Os candidatos à investidura, familiares e padrinhos, concentram-se na Biblioteca Joanina, o mesmo acontecendo com o Corpo dos Archeiros, Charameleiros, Guarda-Mor das Escolas, Bedéis e Secretário-Geral. Os Novos Doutores que vão receber insígnias deverão estar em Hábito Talar convencional, trazendo o capelo doutoral conimbricense deitado pelos ombros, com os alamares internos abotoados. Junto a eles estão os “pajens da borla”com salvas de prata e, dentro destas, as borlas doutorais, anéis doutorais e livros da Sapiência.
Segundo a antiga tradição, os doutorandos deveriam saudar o Magnífico Reitor com momentos musicais festivos, sendo desejável que os archeiros em duas alas, os Bedéis, o Secretário e a charamela atravessem o Pátio das Escolas e vão buscar o Reitor à Casa Reitoral. Sobem o Secretário, Bedéis e Guarda-Mor, trazendo o Magnífico Reitor pelo modo tradicional, ladeado pelo Director da Faculdade de Letras e Director da Faculdade de Direito[1]. Ao assomar o Reitor à Porta de São Pedro, o sineiro repica festivamente os sinos na Torre, interpretando a Charamela o Hino Académico de Coimbra.
Conduzido o Reitor à Biblioteca Joanina, e feitos os devidos cumprimentos, organiza-se o saimento do préstito dos capelos em direcção à Sala dos Actos Grandes, ouvindo-se o Sino dos Capelos e as peças instrumentais executadas pela Charamela.
Abre o préstito a Charamela[2], indo na frente o regente em fato de cerimónia de grande orquestra e os músicos com uniforme militar adequado, dispostos aos pares. De acordo com as antigas usanças, os instrumentos musicais deveriam ornar-se com pendões de brocado verde, cordões e borlas pendentes, tendo estampadas as armas de Portugal e o Selo da Universidade de Coimbra. O grande uniforme dos charameleiros era em Portugal e Espanha a “cota”, termo que congloba os tabardos, as dalmáticas de brocado e galões, e as opas de mangas, com as armas nacionais bordadas sobre o peito, costume que paulatinamente foi cedendo lugar a uniformes militares de época[3].
Notas
[1] Na Universidade de Coimbra o Director da Faculdade de Direito detém a função e título de Chanceler, isto é, de Guarda-Selos. Assim sendo, é “Inter Cancellos” ou “Scriniarius”, mas não “Cancellarius”, dado que o último título e função são privativas do Rector Magnificus.
[2] Elemento comum à estrutura do cortejo triunfal romano.
[3] Em Espanha, as dalmáticas ainda são usadas no cerimonial da Casa Real, municípios, cortejos e procissões. Em Portugal, poderão eventualmente encontrar-se resquícios destas antigas librés em algumas procissões religiosas. Para os tabardos dos reis de armas da Casa Real Portuguesa, veja-se um exemplar do acervo do Museu Nacional dos Coches, no catálogo “O Museu Nacional dos Conches”, Lisboa, Instituto Português de Museus, 1993 (p. 113, tabardo; p. 114, maça de prata da época de D. José I; p. 114, trombeta da Charamela Real com pendão); para a opa usada pelos trompetistas da Procissão do Corpo de Deus (em Lisboa), vide a gravura colorida “O Preto de São Jorge”, em “Álbum de Costumes Portugueses”, 2ª edição, Lisboa, Perspectivas e Realidades, 1987 (1ª edição de 1888).