Virtual Memories

domingo, 30 de novembro de 2008

Estudantes Germânicos (II)


Wohlauf, die luft geht frish und rein

Was klingt und singet die strabe herauf


Wasdie welt morgen bringt

Bruder lagert euch im kreise


Alt-Heidelberg, du feine


Noch ist die bluhend, goldene Zeit


Der Mond steht uber dem Berge


Der Mai ist geokommen


Wer nicht liebet wein, weib und Gesang

Von allen Madchen


Oalt Burchenherrlichkeit


Nun lebe wohl, du klein gass

Komm, wir Zusammen in Mondschein

Schomollis antragend

Mensurkritik


Maibowle


Coulerdienner beim Speereinziehen


Landesvater


Imersten Semester

Ein Prosit


Rezeption


Ein flotter Bursche


Die Herren Chargierten


Bierduell

Renommierbummel

Prosit


Cantus

Auf die mensur
Duelo de estudantes alemães pertencentes a uma agremiação de esgrima, com os seus bonés prussianos típicos, assinalados em iconografia universitária desde pelo menos 1815.
Ao longo de todo o antigo regime, liberalismo e período de entre guerras mundiais, os universitários alemães viveram intensamente os clubes de esgrima. Símbolo de valentia, garbo e virilidade, a esgrima era admirada entre pares e pelas mulheres. Nos meios académicos, os estudantes germânicos discutiam acaloradamente o antes e o depois dos duelos, as cicatrizes no rosto e os ferimentos, com a mesma intensidade com que desde a década de 1930 os estudantes de Coimbra começaram a discutir as tácticas e os resultados da sua equipa de futebol.
Porque de imaginários académicos históricos se trata, grandes eram as semelhanças entre as normas e costumes de Coimbra e os das várias universidades alemãs: festividades cíclicas anuais, recepção báquico-burlesca a barris de cerveja ou vinho, paradas cívico-alegóricas, acolhimento ritualizado de novatos em agremiações/repúblicas, ornamentação de quartos, militância em clubes de esgrima e de ginástica (vários existiram em Coimbra, Suécia, Suiça, Alemanha...), a cadeia académica, a construção belle-époque da imagem estudante de Coimbra/tricana, e ou esgrimista académico alemão/criada de servir, a dureza dos rituais de iniciação de caloiros...
A realidade académica alemã era relativamente bem conhecido na Coimbra do século XIX e dos primeiros anos do século XX. Teófilo Braga, na "História da Literatura Portuguesa" e na "História da Universidade de Coimbra", fustiga violentamente os costumes académicos masculinos conimbricenses, mas ao enunciar os dos alemães revela-se indiferente. Está bem de ver que à luz da mentalidade do tempo em que viveram intelectuais como Teófilo Braga, a cultura militar gosava de favores que só no entardecer do século XX perderia. Como tal, parecia mais bárbaro coleccionar cortes de cabelo de caloiros (Coimbra) do que exibir o rosto pejado de cicatrizes (Alemanha). Apesar de não tosquiarem caloiros, os estudantes alemães cobriam os alunos do primeiro ano de escarros. Para se compreender um pouco melhor esta visão benevolente, relembre-se que o duelo, apesar de proibido pelo código penal português, era frequentemente protagonizado por parlamentares monárquicos e republicanos, antes e depois de 1910. O duelo e as bengaladas, a últimas celebrizadas ad aeternum pela actriz e fadista Maria Vitória no "Fado do 31" dos idos de 1913.
Outra semelhança que os críticos dos costumes conimbricenses secundarizavam ou omitiam era a existência de prisões académicas nas universidades alemães. E se a de Coimbra foi encerrada por António José de Almeida em Outubro de 1910, as alemães ainda funcionavam nos anos da Grande Guerra de 1914-1918. Relendo hoje as empoladas críticas juvenis à prisão académica, há que não levar muito a sério o teor de tais erupções. Em geral, os processos da polícia académica e os acórdãos disciplinares do Conselho de Decanos carreiam provas de culpa que os jovens académicos ocultavam ou desvalorizavam. Por outro lado, nos cárceres universitários de Coimbra e das universidades alemães só se estava preso fisicamente, pois quanto ao resto, os dias de prisão davam direito a toques de viola e guitarra, cantorias, visitas masculinas e femininas, cartas e recados levados em mãos de alcoviteiras, leitura livre em prosa e verso, escrita, charutadas, petiscos e recepção de cestas com doces e acepipes.
Na Europa central e do norte, a cultura estudantil alemã exerceu alargada influência sobre as vivências académicas de países como a Suiça, a Áustria, a Bélgica, a Dinamarca, a Finlandia, a Noruega e a Suécia.
Nesta segunda série de imagens sobre aspectos do quotidiano dos estudantes alemães, aproveitamos para divulgar reproduções de um conjunto de cerca de 30 pinturas realizadas em 1900 por George Muhlberg (1863-1925). O autor, recorrendo por vezes a títulos sarcásticos, capta com grande argúcia vivências estudantis do período belle-époque como o duelo, os cantos goliardos, os rituais iniciáticos, os divertimentos nocturnos, as passeatas, os piqueniques e o relacionamento com o sexo feminino.
A maior parte destas imagens encontra-se reproduzida em http://burchenschaft.de/server/gfbg/bilder/georg_muehlberg_serie/index.htm.