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domingo, 11 de setembro de 2011



Entrega de diplomas aos novos mestres, ISEG, 17.11.2010.




Acto de entrega de diplomas a novos mestres que obtiveram aproveitamento no Mestrado em Economia Monetária e Financeira pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade Técnica de Lisboa, 17.11.2010. Discurso do representante do corpo docente. Bancada da presidência com três docentes sentados, entre eles o Presidente do ISEG. Mesinha lateral de apoio ao evento.




Original de lã tinta de vermelho da antiga capa feminina setecentista com a sua roda pregueada, cabeção e capuz de travesseiro.




Algumas das variantes presentes nos desenhos, nomedamente B e C, parecem familiares? Eu já vi isto em qualquer lado, não me lembro é bem onde... trata-se de um modelo de capa feminina aristocrática usada na Europa e na América entre ca. 1750-1810. No auge do período napoleónico, a moda império trouxe os capotes e capotões de tipo militar, que em Portugal logo foram adoptados com nomes como josezinho, capote, capote alentejano, capote militar.


Era constituída por ampla capa talar de bainha em godés, em lã preta, azul ferrete ou vermelha. Podia ser forrada nos modelos de confecção rica. Apertava na frente com um cordão cosido ao colarinho. Algumas variantes destacavam-se pela exibição de uma meia capa ou romeira fixada em torno dos ombros, modelo que se radicou nas mulheres fidalgas e nas camponesas abastadas da Ilha Terceira, Açores (ali conhecida por capote e capelo, peça distinta do mais ancestral manto). O colarinho era guarnecido por um cabeção de bainha recortada, rematado em bico no meio das omoplatas. Peça obrigatório era o capuz, do mesmo pano da capa, pregado ao colarinho e fechado em forma de saco. Num ou noutro modelo, do fundo do capuz pendia um adorno à base de cordão e borla.


A moda pode ter muitas vidas. Com a designação de capote esta antiga capa reganhou novos usos unissexo entre os estudantes do Instituto Superior Politécnico de Bragança.




Sente-se confuso? Está a pensar que os professores e estudantes da Universidade de Coimbra não usavam gravatão de bacalhau em torno do colarinho da batina? Pois, o fotografado é um clérigo norte-americano surpreendido por volta de 1910, numa época em que o chamado hábito privado ou hábito doméstico [também] era usado por padres, bispos, cardeais e capelães militares. Uma espécie de variante deste modelo era igualmente usada pelos estudantes japoneses.

Aspecto frontal do cho ran.



Costas do cho ran. O cho ran é uma frock coat de tecido liso, linhas cilindriformes, com o pano das costas direito (não tem machos, franzidos, rachas), usada pelos estudantes japoneses de algumas escolas de ensino secundário. A frente é abotoada com carcela direita integralmente fechada. Trata-se de uma peça de indumentária praticamente desconhecida no Ocidente, com presença rarefeita na internet, muito próxima da batina corrente vulgarizada pelos estudantes da Universidade de Coimbra na segunda metade do século XIX.



Aspecto do dólman prussiano clássico (gakuran) usado pelos estudantes japoneses do ensino básico desde finais do século XIX. Na sua versão original, o conjunto era constituído por calças compridas, dolman, boné de pala e capote embainhado pela meia perna.



Uniforme dos alunos da Pai Chai High School, Coreia, que pertence ao acervo do Rev. Taylor, identificada no documento seguinte. Feitio das costas do dolman com dois panos costurados na vertical e racha central.




Alunos da Pai Chai High School em formatura, instituição estabelecida em Seoul, Coreia, em 1866. Fotografia da colecção do Rev. Corwin Taylor, missionário metodista na Coreia entre 1908 e 1922. Uniforme masculino de tipo militar constituído por calções, dolman e boné, de tecido ordinário. Calções simples, talhados por baixo da linha do joelho. Dólman geométrico, com frente e costas lisas, munido de mangas compridas tubulares, carcela frontal fixada por cinco botões de massa, colarinho degolado e três bolsos metidos, dois no baixo ventre e um terceiro, de menor dimensão, sobre o peito esquerdo. Boné de tecido branco assente em aro e pala de couro preto. Peças secundárias constituídas por sapatos pretos de couro e meias altas de cor branca.


A opção pelos uniformes de inspiração militar nos colégios religiosos, casas de correcção e escolas privadas ocorreu um pouco por todo o ocidente e nos países orientais (Japão, Coreia) entre finais do século XIX e a Segunda Guerra Mundial. Havia um consenso generalizado entre as elites e as famílias quanto às vantagens do paradigma uniformológico militar. Com efeito, considerava-se que o uniforme à militar era o melhor posicionado para incutir nos estudantes e menores internados valores como aprumo, higiene, sentido do dever, disciplina e autocontrolo. A escola passa a ser vista como uma antevisão do quartel. Nos exércitos e na disciplina militar repousariam os valores perenes das nações, dizia-se. O corte fortemente geometrizado raramente respeitava a morfologia corporal, procurando antes disfarçá-la, não raro adoptando modelos de confecção grosseira ( daí que, no período após ditaduras de entre guerras tenha sido necessário estampar na legislação que os uniformes das instituições públicas de internamento de menores e adultos não poderiam revestir carácter degradante). Os tecidos mais utilizados oscilavam entre as gangas vulgares, a sarja e a lã, texteis baratos destinados a porte diário e lavagem frequente, sinais que apontam para os chamados pequenos uniformes ou fardas de trabalho. O dimorfismo de género é outra nota dominante neste tipo de uniformes da época vitoriana. Ao contrário dos hábitos talares judiciários e académicos, rapidamente convertidos em trajes unissexo, os uniformes victorianos de inspiração militar assentavam em princípios de rígida segregação de sexos. No caso das universidades escandinavas, as mulheres docentes usaram cartola e espadim mas não a grande casaca preta. Quanto ao Instituto de França será necessário vencer o século XX para que as mulheres proclamadas académicas possam envergar uma versão modificada do grande uniforme. No caso da Universidade de Coimbra, o traje estudantil ensaia uma tentativa unixesso por mão de duas alunas da Faculdade de Direito em 1949 (frock coat, saia, capa e gorro), mas breve o Conselho de Veteranos impõe o tailleur preto civil (1954), decisão que exemplifica a cedência da cultura académica aos valores morais e estéticos do Estado Novo.


Tudo isto para dizer que nos últimos vinte anos foram adoptados em estabelecimentos de ensino superior portugueses uniformes escolares facultativos que nalgumas situações parecem fazer eco dos uniformes high school ou school boy uniforms. Por exemplo, o modelo de uniforme registado nesta fotografia de uma escola coreana coincide em traços gerais com a versão masculina do traje aprovado pelos estudantes do Instituto Superior Politécnico de Bragança. A peça principal de envolvimento do tronco é um dolman militar curto semelhante ao usado pelos estudantes do ensino básico e secundário do Japão (gakuran) e da Coreia.


Estudantes japoneses fotografados na segunda década do século XX com traje tradicional e boné.



Estudantes japoneses de inícios do século XX, com diferentes modelos de uniformes coexistentes: o fatinho saylor ou marujinho (calças compridas, blusa, cabeção e boné, em azul marinho); o antigo traje escolar japonês à base de saio-cação e quimono; o gakuran, de origem militar, introduzido em finais do século XIX, na sua versão completa constituído por calças compridas, dólman, boné de pala rígida e capote.