Virtual Memories

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Abertura solene da Universidade de Coimbra (1899?)

Fotografia de conjunto captada nas escadarias da Via Latina do pátio das Escolas após a cerimónia solene de abertura dos cursos que ao tempo caía a 16 de outubro e integrava: a) missa de invocação do Divino Espírito Santo na capela da UC; b) préstito do claustro; c) ato solene de abertura (discurso do reitor, oração de sapiência); d) entrega dos prémios aos alunos que se tinham distinguido no ano letivo anterior.
Estão representados os lentes doutorados do quadro das faculdades maiores então existentes [Teologia, Direito, Medicina, Matemática, Filosofia Natural] e os dignitários e oficiais da Casa Reitoral: corpo de archeiros em grande libré napoleónica; guarda-mor das escolas com traje de mantéu e vara; bedeis; mestre-de-cerimónias; contínuos. O reitor ao tempo era o lente da Faculdade de Medicina Manuel Pereira Dias, representado nas suas ausências pelo vice-reitor António José Gonçalves Guimarães. Ladeiam o reitor os decanos das faculdades. Atrás do prelado avistam-se os bedeis, o mestre-de-cerimónias, alguns oficiais e archeiros.
São reconhecíveis figuras mediáticas como Bernardino Machado, o jovem Sidónio Pais (colara grau de doutor em Matemática a 24.7.1898), o muito jovem José Alberto dos Reis (colara grau de doutor em Direito a 16.4.1899) e Afonso Costa (colara grau de doutor em Direito a 9.6.1895).
A fotografia não está datada mas deve ter sido tirada na abertura solene de 16.10.1899, o mais tardar em 16.10.1900.
Não é percetível na imagem, mas os lentes da Faculdade de Teologia ainda usavam hábito talar de seda preta com batina comprida pelo calcanhar, grande mantéu e calções com meias altas de seda. Atente-se na amplitude das bainha e das abas dianteiras da capa, cujo modelo é o do chamado grande mantéu espanhol que vinha do século XVI, aqui graciosamente apanhado na frente. Com o século XX adentrado perder-se-á a velha tradição do desfilar nos cortejos com as mãos a segurar as generosas abas da capa. Uma certa alfaiataria malandreca e mal jeitosa tratará de retirar pano à capa, de tal modo que esta começará a encolher na bainha, na dianteira, no panejamento, passando de grande mantéu a meio mantéu. Caso para dizer, encolhidinha mas nem por isso mais baratinha!
Fonte: Ilustração Portuguesa n.º 683, de 24.3.1919

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Orfeon Português do Brasil (1923)

Imagens promocionais do Orfeon Português do Brasil e da Tuna do Orfeon Português do Brasil, com atividade no Rio de Janeiro. Ambas as formações, cujos associados são emigrantes, usam capa, procurando replicar a imagem corporativa do Orfeon e da Tuna dos estudantes da Universidade de Coimbra. O estilo de traçar a capa corresponde à moda predominante na UC nas décadas de 1870-1880.
Fonte: Ilustração Portuguesa n.º 887, de 17.2.1923

1.ª queima das fitas na Universidade de Lisboa (1923)

Quadros da primeira Queima das Fitas promovida pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e participada por estudantes do quinto ano das restantes faculdades [Medicina, Ciências, Letras, Farmácia], Lisboa, 26 de maio de 1923.

1-foto de conjunto, os estudantes de capa e batina e pastas com fitas. Pelo meio uma aluna à civil com capa e pasta;
2-fogueira no chão, ao Campo de Santana, com estudantes a queimar as fitas [segue-se aqui o primitivo modelo coinimbricense da queima no chão do Largo da Feira dos Estudantes, que na passagem para o século XX passou a ser feita em ara com penico ou "doutor"];
3-trecho do cortejo alegórico.
Fonte: Ilustração Portuguesa n.º 902, de 2.6.1923

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Evocação do Comércio Marítimo, vulto escultórico em bronze assinado por Eugène [?] Benet, s/d, Rio de Janeiro, jardim junto à rua Russel. Inscrito no soco "28 janeiro 1808 abertura dos portos". Exibe um remo e uma âncora. Desde o século XVII, no ciclo áreo do mercantilismo, que começaram a proliferar alegorias da Navegação, Comércio e Marinha Mercante. A questão do Comércio estava de antemão resolvida com Mercúrio/Hermes. Para a Navegação comercial os artistas oscilaram entre uma figura masculina de navegador com astrolábio e uma ninfa com Leme, Roda do Leme, Âncora e Caravela na mão. Estas representações confundem-se frequentemente com a simbologia adoptada pelas escolas de Náutica, como aconteceu com a Âncora, o Farol e a Caravela, incorporados no todo ou em parte nos brasões da Aula de Náutica do Porto (1762...), a Academia Real da Marinha e Comércio do Porto (1803..., com Âncora e Caravela), Academia Politécnica do Porto (1837-1911, com Âncora e Caravela), a Faculdade de Ciências da UP (1911...) e a Faculdade Técnica/Engenharia da UP (1915...).

Celebração do Comércio Marítimo, estátua em bronze da autoria de Eugène [?] Bénet, jardim junto à rua Russel, s/d, Rio de Janeiro. A figura feminina está sentada sobre fardos e pacotes (=mercadorias) e exibe um escudo e o caduceu de Mercúrio. Apresenta a inscrição "28 janeiro 1808 abertura dos portos".

Curiosa alegoria às estradas de ferro/caminhos de ferro. Figura feminina sentada, em bronze, com locomotiva aos pés. Esta escultura integra a base da estátua do Eng. João Teixeira Soares, implantada na praceta junto à entrada do trem/elevador de acesso ao Cristo Redentor do morro do Corcovado [Rio de Janeiro].

Grupo escultórico alusivo à LEX com espada, escudo do Brasil e feixe de varas (lictório romano depois apropriado por Mussolini). Edifício da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. A coroar a fachada principal, vultos plenos da Lei, Comércio, Indústria e Agricultura.

Alegoria da Lei entronizada (matrona romana com barrete frígio), tendo aos pés a córnua da abundância/prosperidade. É ladeada pela figura ereta do Comércio (caduceu de Mercúrio) e da Indústria (roda dentada). Grupo escultórico servindo de guarda-avançada ao peristilo da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

A "Indústria", ou melhor, Vulcano, fachada principal do edifício onde foi instalada a Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. Figura masculina de vulto, em bronze, combina os atributos greco-romanos (malho de ferreiro e bigorna) com a roda dentada da época da revolução industrial.

Conjunto de estátuas ornamentais representando alegorias relativas às principais atividades licitamente enquadradas pelo ordenamento jurídico de finais do século XIX/inícios do século XX (códigos civil, penal e comercial) que incarnavam os valores inscritos no ideal do progresso: Indústria, Comércio, Agricultura, Arquitetura (e Artes?). Este tipo de produção, em pedra e em barro vidrado (caso da famosa fábrica de cerâmica das Devesas) destinava-se a consumo de empresas e famílias abastadas nos espaços metropolitanos e ultramarinos. Abrangia casas de habitação, sedes de empresas e palacetes. Recorria-se a figuras de deusas, deuses, musas e ninfas do panteão greco-romano e alegorias inventadas. Os atributos atualizam o legado greco-romano mas apresentam não raro propostas ecléticas. É o caso da Indústria que mantém do deus Hefesto/Vulcano o malho e bigorna (nem sempre) e acrescenta a roda dentada da máquina a vapor que passara a simbolizar a engenharia, os engenheiros e a euforia da primeira revolução indústrial.
Prédio urbano em Lisboa, rua Vitor Cordon.