Virtual Memories

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Gaiteiros, foliões e charameleiros


Grupo de foliões
Festejos do Divino Espírito Santo, Ilha do Faial, Açores.
A libré multissecular desapareceu mas a composição do grupo com tambor, pandeireta, cantor e alferes da bandeira sobreviveram até aos anos mais recentes. O lugar de honra na cabeça dos cortejos também não sofreu qualquer alteração


Um caso de sobrevivência da cultura tradicional
Folia do Divino Espírito Santo constituída conforme a tradição da Ilha de São Miguel. São mantidas a opa agaloada e a mitra.
Nas restantes ilhas, a libré dos foliões praticamente desapareceu bem como o característico lenço enramado que se usava em torno da nuca


Uma imagem caída no esquecimento dos nossos horizontes visuais. Trompetista da Casa Real Britânica montado a cavalo. Em Portugal, aproxima-se deste figurino a charanga da GNR que por vezes actua em solenidades associadas à presença do chefe de estado.


Os charameleiros de estado da Casa Real Britânica no cortejo fúnebre da Rainha Isabel I, Londres, 1603. Conforme atesta a gravura, vestem o hábito próprio para luto pesado, com capas longas, chapéus desabados e fumos pendentes (fitas longas atadas nos chapéus). Os grandes oficiais envergar vestes semelhantes ao gabão português.


A Charanga de São Jorge, Lisboa, 1907, com o bicórnio posto. Um pouco atrás, um oficial da Casa Real, com libré à antiga portuguesa, segura o arreio do cavalo em cujo lombo já se encontra atada a estátua de São Jorge. E tinha de estar bem atada, uma vez que em muitas localidades de Portugal e Espanha se simulava um combate entre São Jorge e uma serpe maligna ou coca. Embora São Jorge pudesse sofrer algumas estocadas convinha que não desabasse aparatosamente. Perder o combate isso era inadmissível.


Sé de Lisboa, 1907: saída da procissão do Corpo de Deus. A charanga de São Jorge faz um toque solene. Foto de Bonoliel, publicada na "Ilustração Portuguesa" de Junho de 1907. Mantendo a libré agaloada a ouro e a colarinho de canudos, a indumentária chegou a fim com diversas perdas.
A cobertura de cabeça inicial seria uma mitra, mas o chapéu adoptado desde a segunda metade do século XIX era o bicórnio napoleónico de feltro. Os calções e meias altas em tecido branco foram substituídos pelas calças compridas brancas.
Aqui fica o exemplo de como se vestia a Charamela da Universidade de Coimbra antes de o século XIX lhe ter aportado a casaca de abas de grilo.

Nestas gravuras, realizadas pelo artista francês Jean Debret no Brasil durante os anos de presença de D. João VI, fica registada a famosa "charanga dos pretos" que na procissão do Corpo de Deus de Lisboa tocava na frente da estátua montada de São Jorge. O desenho das librés é muito expressivo, tendo sido registado mais tarde no "Álbum das Glórias" (1888) e em fotos de Benoliel. Segundo rezam as crónicas, esta charanga teria sido instituída por D. João I.
O que aqui se vê e infere é que a charanga tinha uma composição e indumentária semelhantes à charamelas que se davam a ver nas solenidades da Casa Papal, Casa Real Britânica, Casa Real Portuguesa, Universidade de Coimbra e universidades italianas.
Na actualidade poucas charamelas restam em actividade. Com interesse digno de registo, tenho notícia das formações activas na Universidade de Coimbra, Universidade de Salamanca e Casa Real Britânica. A de Salamanca esteve inactiva durante o século XIX e na maior parte do século XX, tendo sido revitalizada há poucos anos com presença efectiva de charamelas. Em Coimbra, a Charamela não tem uma única charamela no conjunto dos instrumenos de sopro.
Da Charamela da Universidade de Coimbra se escreveram muitos juizos primários, enfantizando aspectos como a desafinação e o arcaismo, ou mesmo propondo a sua abolição e substituição por grupos corais. A Charamela conimbricense, embora não use a antiga libré, nem aplique bandeiras nos instrumentos, é uma relíquia do igualmente precioso património cerimonialístico que não se sabe bem como conseguiu sobreviver a todos os abolicionismos.
Ainda bem!


Exemplo da actuação de uma formação musical do tipo charamela numa procissão religiosa do século XVII. Estas formações, que podiam actuar a pé e a cavalo, remontavam ao império romano, tendo sido mantidas pelas casas reais, universidades e Igreja Católica.

Duo de gaiteiros da Saint Andrew Pipe and Drums, de Kansas City, no interior de um tempo, durante a celebração de uma cerimónia religiosa.
Aqui fica exemplificada uma tradição que já foi prática corrente em Portugal mas que caíu em desuso. Na cultura anglo-saxónica, os gaiteiros participam regularmente nas mais diversas manifestações da vida sócio-institucional: paradas militares, cerimónias religiosas, cerimónias fúnebres, casamentos...
Em Portugal, a actividade dos gaiteiros e os instrumentos que lhes estavam associados têm vindo a ser alvo de grande atenção:

-recolhas de campo e edição de fontes sonoras em suportes duráveis;
-integração de gaitas de foles em gravações urbanas de grupos musicais;
-abertura de escolas-oficinas de estudo, recolha, divulgação e ensino;
-formação de associações cívicas vocacionadas para o estudo, salvaguarda deste património tradicional e sinalização de fontes sonoras, testemunhos de vidas, espécimes de fabrico vernáculo, fontes impressas e iconografia.

Uma forma de revalorizar esta arte passaria por incentiver e apoiar as universidades e as confrarias báquicas e gastronómicas na utilização regular de gaiteiros/zés-pereiras em cortejos públicos, encontros internacionais e cerimónias de investidura. A iniciativa não seria totalmente descabida, atendendo a que nos últimos anos a Confraria do Vinho do Porto utilizou bandas filarmónicas na abertura de cortejos públicos entre o Palácio da Bolsa e a Alfândega.
No caso específico da Univ. de Coimbra, onde persiste a tradição da abertura de préstitos com charamela, sou de opinião que a retoma das cerimónias anuais de colação dos graus de licenciado e de mestre (e esperemos que venham a ser retomadas com as necessárias actualizações, até como cartão de visita, estratégia de markting institucional e reforço da ligação entre a Alma Mater e os formandos), poderia passar pela inclusão de gaiteiros.
Eis duas exemplificações do que poderia ser feito por instituições culturais radicadas nas regiões da Covilhã, Vila Real, Braga e Coimbra:
-Cerimónia de formatura na University of Brunswich, 28.05.2009, http://wwwfacebook.com/video/video.php?v=2020000017;
-Cerimónia de formatura na University of Chicago, abertura do cortejo público, http://www.youtube.com/watch?v=ZLAGF8Ts_pU


Uma tradição que já se viu em Portugal: gaiteiro solista abre o cortejo dos noivos numa cerimónia de casamento. Trata-se de um elemento da Saint Andrew's Pipes and Drums de Kansas City, EUA.

Pipe band do Saint Andrew's College, Ontário, Canadá, em actividade continuada desde 1915.
Fonte: http://kilby.sac.on.ca/ActivitiesClubs/cadets/Piping/

Alguma universidades da Escócia, EUA e Austrália possuem bandas de gaiteiros às quais se tributa o maior desvelo. Na Escócia, os festivais de gaiteiros rivalizam com os mais concorridos encontros ibéricos de filarmónicas, grupos folclóricos e tunas académicas.
Em Portugal Continental, até bem entrado do século XIX, os gaiteiros ou formações de zés-pereiras gozaram de incontestado prestígio.
Exemplos de presenças regulares:

-procissões, em especial a do Corpo de Deus;
-visitações de presépios, como atestam as composições de Machado de Castro e seus discípulos;
-casamentos, com entrada dos gaiteiros na igreja, à cabeça do cortejo e toque solene junto ao altar-mor;
-festividades municipais, como acontecia em Coimbra, cuja câmara municipal teve uma folia;
-festividades cíclicas dos estudantes da Universidade de Coimbra, tradição que ainda se mantém;
-arraiais e romarias;
-festas populares como a Queima do Judas, a Serração da Velha e o Enterro do Bacalhau, celebradas um pouco por todo o Portugal entre o Carnaval e a Páscoa, em cujos cortejos alegórico-burlescos tomavam parte os gaiteiros. Por vezes deslocavam-se montados em burros e sobre carros de bois, sublinhando a entrada do tribunal e a aplicação da pena de morte aos condenados pelo tribunal do povo;
-peditórios de irmandades e confrarias, como acontecia na região de Lisboa com os gaiteiros associados às festividades do Espírito Santo;
-peditórios para a sopa dos presos, promovidos na cidade de Lisboa pela Santa Casa da Misericórdia.

Como se vê, o elenco de solicitações era vasto. Da mesma forma que os acordeons vitimaram as violas de arame, também as bandas filarmónicas em afirmação no século XIX foram gradualmente afastando os gaiteiros. O combate era desigual. Anteriormente, durante a afirmação dos normativos religiosos conformes aos ideais do Concílio de Trento, vários foram os bispos diocesanos que tomaram medidas para manter os gaiteiros fora das igrejas e afastados do altar-mor. As semelhanças entre a função festivo-litúrgica dos gaiteiros e as folias do Espírito Santo dos Açores são inúmeras e os foliões também não escaparam completamente à severidade de alguns bispos. A partir de certa altura, a Igreja Católica passa a considerar imprópria a presença dos gaiteiros no interior dos templos.
A banda filarmónica triunfaria em todo o Portugal sobre os gaiteiros e as folias do Espírito Santo. Contudo, nunca conseguiria ocupar o lugar de honra na cabeça dos cortejos nem tocar junto ao altar-mor, tradição de que se orgulhavam os gaiteiros e foliões e que ainda hoje se pode confirmar tanto nas Queimas de Fitas da Universiadde de Coimbra como nos festejos açorianos do Divino Espírito Santo.
Em Portugal, os gaiteiros eram referidos pela comunidade como pessoas honoráveis e o instrumento associado ao órgão fálico. Daí que na região de Coimbra sejam conhecidos ditos espirituosos, coplas e melodias alusivas à gaita como sinónimo de pénis e ao toque como manipulação peniana.


Uma boa notícia sobre os gaiteiros de Figueiró dos Vinhos pintados por José Malhoa
"(...) Lembrei-me de uma mensagem (...) que continha uma imagem de um grupo de gaiteiros desenhada por José Malhoa:

http://guitarradecoimbra.blogspot.com/2006/04/gaiteiros-de-malhoa-satisfazendo-um.html

Lembrei-me porque esse quadro, em relação ao qual é dificil encontrar imagens e referências, vai estar exposto em Viseu, no Grão Vasco.

Em anexo envio-lhe o folheto.

Achei que gostaria de saber.

Eu se puder vou lá, tentar arranjar uma cópia, no catálogo da exposição, nalgum postal (...).

Ah, é de notar que essa imagem retrata um grupo de gaiteiros de Figueiró dos Vinhos.

É curioso pois existem 3 quadros do Carlos Reis que retratam um grupo de Miranda do Corvo.
Ou seja, tudo na zona de Coimbra".

Henrique Oliveira

Irmãos Gaiteiros
Dado o interesse demonstrado pelo Eng. Henrique Oliveira, da Associação Gaita-de-Foles, na edição on line de dois postais ilustrados de gaiteiros de Coimbra, damos a conhecer estes gaiteiros de uma irmandade do Divino Espírito Santo em peditório pelos finais da década de 1830. O trio é composto pelo alferes da bandeira, gaiteiro e tocador de caixa. O local de captação da imagem é de geografia incerta, podendo ser Lisboa, povoados da Estremadura ou Beira Litoral. Não cremos que possa tratar-se de evento relacionado com Coimbra, pois além da ostensiva ausência do Zé-Pereira, não há conhecimento de nas célebres festas do Divino Espírito Santo de Eiras (cuja cavalgada imperial vinha até à cidade) figurarem gaiteiros.
O gaiteiro traz chapéu de feltro com aba larga, copa troncónica, pompons e travincas, como que a remeter para Ovar ou Ílhavo. Completam o figurino um jaleco esverdeado, camisa clara e calção azul sem atilho. O caixa veste com simplicidade, sapatos escuros, meias brancas, calção avermelhado, cinta, camisa branca e gorro. O alferes traja opa vermelha com romeira verde, lenço, fraque preto e calças compridas listadas. Além do cesto das esmolas, segura o estandarte vermelho com a pomba.
A coordenadora do estudo que acompanha esta recolha sugere que este trio de gaiteiros tenha sido surpreendido pelo aguarelista anónimo algures entre Ílhavo e Ovar. No entanto, o único argumento sólido que permite sustentar tal hipótese é o chapéu do gaiteiro, chapéu que também se usou na Estremadura. A gravura pode muito bem ter sido captada em Lisboa, cidade aberta a migrantes beirões.
Fonte: Ana Paula Assunção - Costumes Portugueses. Aguarelas inéditas. Novos contributos para o estudo do trajo popular em Portugal. Século XIX. Lisboa: A Nova Eclética, 1999, Figura 50.

Este texto foi editado no webblog Guitarra de Coimbra I, de 12.04.2006


Gaiteiros de Malhoa: uma pista
Satisfazendo um convite do Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, o pintor José Malhoa realizou naquela instituição uma importante amostra dos seus trabalhos, corria o mês de Maio de 1906. Os preparativos da viagem e a selecção das obras a transportar de Lisboa para o Rio de Janeiro foram alvo de reportagem na "Illustração Portugueza", II Série, Nº 11, de 7 de Maio de 1906. Uma das telas reproduzidas a preto e branco nessa revista era a "Chegada do Zé Pereira ao Arraial". De acordo com o texto de apresentação, Malhoa teria colhido os apontamento de reportagem directamente num local "do Norte". O cronista conferia destaque ao povoado engalanado para o arraial popular, ao ar de festa dado pelos balões, enfeites e foguetes e à entrada dos gaiteiros. Ainda de acordo com a imaginação do cronista, os moradores da aldeia retratada levariam "vida feliz". Este quadro de cerca 1902-1903 nunca aparece nos catálogos dedicados à obra de Malhoa. A total ausência de elementos não nos permite saber a que "Norte" se quer referir o autor dessa reportagem de 1906.
Esta imagem foi editada em Abril de 2006 no webblog http://guitarradecoimbra.blogspot.com/2006/04/gaiteiros-de-malhoa-satisfazendo-um.html, sem que à data se soubesse se fora preservado este quadro pintado em Figueiró dos Vinhos.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Vida na Alma Mater Studiorum


Bolonha: manto preto da Goliardia Cricca Marchigiana


"I manti", ou manto, é um adereço indispensável na indumentária das confrarias académicas de goliardos existentes em diversas universidades italianas, a quais celebram baco, o latim, as cantorias e as delícias da juventude.
Na imagem, o manto vermelho identifica a Goliardia Feudo Romagnolo, com sede em Bolonha.


"La Feluca", o chapéu dos estudantes universitários italianos inventado nos finais do século XIX


Bolonha: entrega de diplomas a alunos de mestrado, em presença do Reitor, Ministro da Inovação e representante de um importante grupo económico. Exemplo de uma universidade histórica que sacrifica a cerimónia da colação dos graus ao modelo empresarial asssente na atribuição de prémios de desempenho. Porém esta não parece ser a solução mais comum, com as universidades francesas, italianas e polacas de olhos postos no modelo norte-americano

Bolonha, 4.12.2007: honoris causa de Eduardo Lourenço


Bolonha: exemplares das antigas maças das faculdades que eram carreadas pelos bedeis


Bolonha, 2009: discurso de investidura do novo reitor Dionigni. Na sua frente foram dispostas as antigas maças que já não são carregadas nos cortejos


IX Centenário, 1988: a longa fila dianteira foi reservada aos reitores das universidades convidadas, divisando-se hábitos talares nortea-americanos, polacos e franceses, entre outros. Sem total segurança, o Magnifico Reitor Rui de Alarcão parece divisar-se no meio de outros colegas.


IX Centenário, 1988: cerimónia de assinatura da Magna Charta Universitatum na Piazza Magiori, estando o Rettore Magnifico acompanhado pelo Sindaco de Bolonha


Bolonha, IX Centenário, 1988: o Rettore Magnifico recebe o Papa João Paulo II e o Cardeal Biffi. A cadeira do governo é protocolarmente cedida ao Papa.
Em termos de cerimonial académico, a recepção de um papa constitui um momento particularmente difícil. No que toca às universidades históricas, não restam dúvidas que os reitores em exercício devem convidá-los a ocupar a presidência, em atenção ao facto de os antigos graus de Teologia e Direito Canónico serem atribuídos pelos cancelários como comissários papais. Bem mais difícil é decidir a contento o que entregar a um papa caso este seja laureado honoris causa. A Universidade de Coimbra viveu esta situação em Maio de 1982, quando foi visitada pelo Papa João Paulo II, a quem atribuiu o grau de doutor por todas as Faculdades então existentes. O Reitor de então, Prof. Doutor Ferrer Correia, entendeu que atendendo à história da instituição, o Cancelário-Reitor não deveria impor insígnias a um papa. Mas entendeu mal, tendo a Casa Reitoral oferecido à comunicação social mundial um dos momentos menos conseguidos do seu cerimonial. Nem a UC recebeu o Papa conforme as disposições estatutárias, ou seja, in forma prestiti e com pálio de varas (protocolo oblige), nem houve confecção de borla com mistura de cores, nem anel, nem imposição. O que se viu foi a entrega de um canudo, pelo que em bom rigor não houve colação mas sim proclamação.


Bolonha, Maio de 1834: cerimónia de atribuição da laurea em Física a Gugliemo Marconi


Registo fotográfico do VIII Centenário da Universidade de Bolonha que teve lugar entre os dias 11 e 14 de Junho de 1888. Este evento reuniu em Bolonha múltiplas legações de universidades europeias e esteve na origem da invenção de barretes académicos que ainda hoje estão em uso em Itália e em França.


Bolonha: momento dos abraços de acolhimento


Bolonha: imposição do barrete a Barish


Bolonha: lectio doctoralis proferida por Glashow (2.10.2006). Em pano de fundo avista-se o estandarte oferecido à Alma Mater Studiorum Bononiensis em 1888.
Na maior parte das universidades onde se realizam doutoramentos honoris causa, o laureado profere uma lição que é parte integrante do rito de investidura. Por estranho que possa parecer, isto não acontece em Coimbra, instituição onde o laureado é elogiado e se limita a solicitar o grau ao Cancelário Reitor com uma breve frase latina. Trata-se evidentemente de uma má interpretação estatutária, assumida em 1916, quando se restaurou o cerimonial após a sua suspensão pela Revolução Republicana de 5.10.1910. As regras do cerimonial conimbricense são bem claras em todos os estatutos, postulando que os candidatos à colação do grau de doutor tinham de proferir pelo menos uma lição perante um júri. Mas este aspecto do cerimonial conimbricense não foi revisto após a retoma dos doutoramentos honoris causa (1978 e ss.), inércia que configura um desrespeito pelas normas estatutárias e para com os homenageados.


Bolonha: constituição da mesa da presidência. A organização da mesa segue a prática protocolar registada na maior parte das universidades ocidentais (Itália, França, Espanha, Brasil) e nos eventos promovidos por municípios e empresas.


Bolonha, 2.10.2006: laurea ad honorem em Física de Barry Barish e Sheldon Glashow. Momento da entrada do cortejo na aula magna.
A Alma Mater Studiorum, fundada em 1088, integra o Coimbra Group. Rica em património, Bolonha já não realiza as antigas cerimónias de raiz medieval, não obstante a investidura do rettore magnifico, a inaugurazione dell'ano academico, o conferimento da laurea hononris causa e a entrega de diplomas a formandos.
Uma análise do material fotográfico recolhido informa que as cerimónias do calendário bononiense se baseiam essencialmente no protocolo de estado. A abertura de préstitos com formações instrumentais ou o desfile de maças é algo caído em desuso, não obstante a presença das maças aquando das tomadas de posse dos reitores. A entrega de diplomas a detentores do grau de mestre é um evento civil, idêntico ao praticado por diversas instituições culturais, comerciais e empresariais.