Virtual Memories

sábado, 27 de outubro de 2012

Investidura do reitor da Universidade de Santo Tomas

Ato solene de investidura do 96.º reitor da Universidad de Santo Tomás, Filipinas, cortejo, missa, juramento e outorga das insígnias.
Insígnias de inspiração espanhola. Presença de maças de prata. O novo reitor presta juramento de joelhos ante o chanceler com a mão sobre o crucifixo. O que não está nada conforme à tradição das universidades católicas é o novo reitor estar barretado nos momentos que precedem o juramento e a investidura. Gafe protocolar ou ausência de um bom mestre de cerimónias?

Investidura do reitor da Universidade de San Carlos (2010)

Ato solene de investidura do Magnifico Reitor da Universidade de San Carlos/Toma de posesión/Lic. Estuardo Gálvez/Parte 1, Guatemala, 29.6.2010.
Vestes e insígnias sóbrias, de inspiração ibérica.
Fonte: USAC (2010)

O jovem Marcello Caetano durante a arguição de provas escritas para obtenção do grau de doutor em Direito. Lisboa, sala do edifício da Faculdade de Direito/UL, junho de 1931.
Os membros do júri vestem hábito talar masculino de abatina, conforme à tradição conimbricense. Um dos vultos reconhecíveis é Carneiro Pacheco (de pé). MC também traja capa e batina. Sem elementos que o provem, admitimos que este tipo de toilette tenha tido o seu início aquando do doutoramento de Armindo Monteiro, unanimemente considerado o primeiro que teve lugar na FD/UL.
Fonte: Joaquim Vieira (coordenação), Marcello Caetano. Fotobiografias do século XX. Lisboa: Círculo de Leitores, 2002, foto a pp. 32-33.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Barrete académico de graduado em Teologia (franjados de seda branca), Leis (vermelho) e ??? (castanho). Modelo cilindriforme conforme a tradição das universidades ibéricas que viria a prevalecer em Coimbra após a reforma pombalina dos estudos. Borla laureada com franjados simples muito descidos para baixo do rebordo inferior do barrete. Copa plana. Pega de tipo florão armada com parafuso e bolinhas de madeira forradas de fio de seda com remate em florinha de pétalas. Exemplar de 1859. Trabalho manual pouco primoroso.
Fonte: acervo do Complejo Museografico Provincial Enrique Udaondo, Argentina, em linha, http://prodim.ic.gba.gov.ar/

Criação do uniforme da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1856)

Médico-Cirúrgica (1)

Médico-Cirúrgica (2): Decreto de 1 de outubro de 1856, do Ministério do Reino, estabelecendo o uniforme corporativo da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Este seria constituído por um hábito talar de trabalho ou de porte diário, designado por toga, e por uma farda de gala de tipo napoléonico.

Nota 1: o diploma fundacional refere toga e não beca. Contudo, o vocábulo beca ganharia favor na linguagem oral e escrita das escolas superiores radicadas em Lisboa. Do ponto de vista técnico trata-se de uma toga de corpo único que foi buscar à beca judiciária portuguesa (e ao tempo também brasileira) a sobremanga. Este assunto está detalhamente tratado no meu estudo sobre a beca judiciária (2008);
Nota 2: a criação deste traje em 1856 enquadra-se no movimento ocidental de laicização e cientificação do ensino superior, com a consequente consagração das togas de tipo judiciário no mundo académico, a saber França, Itália, Espanha e escolas superiores brasileiras de Medicina e de Direito.

Traje da Academia das Ciências de Lisboa (1856)

Decreto de 30 de setembro de 1856 que cria o grande uniforme e a medalha da Real Academia das Ciências de Lisboa em sintonia com a tradição francesa.
Afigura-se-nos extremamente discutível que este tipo de fardão promilitar fosse o mais indicado para uma academia das ciências, decisão a que não terá sido alheio o profundo fascínio que a cultura francesa exercícia sobre as elites letradas portuguesas.

Disposições sobre o traje profissional na Universidade de Lisboa (1960)

Hábito talar UL (1)

Hábito talar UL (2)

Hábito talar UL (3)
Circular reitoral de 27 de maio de 1960 dispondo sobre a generalização do traje herdado da antiga Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa na Universidade de Lisboa com as reformas introduzidas por Fernando de Almeida da Academia de Corte Maguidal na passagem de 1959 para 1960. É muito evidente a opção por uma solução racionalista e geometrizante, podemos dizer "pró empresarial", imagem de marca do modus faciendi de Fernando Almeida que se acentua na década de 1980 quando participa ativamente no processo de criação de trajes para novas universidades portuguesas. A redução da sobremanga a uma tirinha plissada acabaria por se generalizar, a meu ver sem proveito estético e sem reflexão histórico-etnográfica, na beca dos magistrados.
Com esta reforma, a  Universidade de Lisboa é a primeira instituição de ensino superior portuguesa a apresentar uma veste profissional com distinções morfológicas consoante a posição hierárquica dos membros do corpo docente. O desenho do barrete não está visível na gravura anexa à circular.
Fonte: Boletim Trimestral da Universidade de Lisboa, 3.º e 4.º trimestres de 1960, Lisboa, 1960. Agradecemos ao Dr. Paulo Dias da Silva o envio deste documento.
Saber mais: Armando Luís de Carvalho Homem, «O traje dos lentes» (2007)

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Cerimónia de abertura da Universidade de Lisboa (1918)

Cerimónia de abertura do ano académico na Universidade de Lisboa, edifício da Faculdade de Ciências, inverno de 1918.
Aspetos da chegada do PRP Sidónio Pais e do ato solene em sala com presença de convidados e professores das várias faculdades. Sentado na 1.ª fila, com a veste da antiga Médico-Cirúrgica, parece estar o ainda muito novo Azevedo Neves que se distinguiu na FM/UL e foi um pioneiro na reforma dos serviços de medicina legal em Portugal.
O protocolo adotado na organização da cerimónia parece-nos decalcado nas cerimónias de abertura do ano académico que se faziam tanto na Academia das Ciências de Lisboa quanto na Médico-Cirúrgica.
Da estrutura do ato constaram:

-receção exterior e apresentação de cumprimentos ao chefe de Estado e ao ministro da Instrução Pública;
-cortejo em direção à sala [possilvelmente sem participação do corpo docente, no que se terá imitado a já tradicional ida dos PRP ao Parlamento. Segue-se o protocolo praticado pela presidência da República, Parlamento e Academia das Ciências na organização do cortejo e na constituição da mesa de honra: PRP preside, tomando a posição central, dá a direita ao ministro da Instrução e a esquerda ao reitor];
-sessão solene com discurso do reitor, elogio/saudação ao PRP [tradição anterior a 1910, também praticada em Coimbra. No rigor dos rigores, quando o chefe de estado participa numa cerimónia universitária deve ser recebido, cumprimentado, saudado em sala e acompanhado à saída. As universidades raramente respeitam esta norma, omitindo a saudação] e distribuição de prémios a estudantes [nas décadas seguintes, a UL passará também a integrar nesta cerimónia a outorga de insígnias e cartas doutorais (e d.h.c.?)];
-oração de sapiência;
-despedida.

Notas:
1 - Preside ao ato não o reitor Pedro Cunha mas o PRP Sidónio Pais que visita a UL revestido com farda militar;
2 - O reitor veste casaca e cartola e ocupa o 3.º lugar na ordem de precedência, à esquerda do PRP;
3 - O ministro da Instrução Pública Alfredo Magalhães veste sobrecasaca e cartola e ocupa o 2.º lugar na ordem de precedência, à direita do PRP;
4 - Conforme se escreveu no corpo da legenda, a UL não organiza a lista de precedências de acordo com a tradição da Universidade de Coimbra pois naquela instituição o PRP não preside aos atos e só pode tomar lugar atrás do reitor (cortejos) ou ao seu lado direito (em sala). Por seu turno, o ministro titular da pasta da instrução/ensino tem precedência sobre os demais ministros mas ocupa o lugar que lhe está reservado no protocolo de Estado, pelo que não pode ladear o PRP nem o reitor, nem usar da palavra;
5 - O artigo refere que os estudantes lançaram as capas no chão, tradição académica ibérica multissecular que se praticava nas universidades e nos seminários católicos.
Fonte: Ilustração Portuguesa n.º 670, de 23.12.1918