Cerimónia de abertura do ano académico na Universidade de Lisboa, edifício da Faculdade de Ciências, inverno de 1918.
Aspetos da chegada do PRP Sidónio Pais e do ato solene em sala com presença de convidados e professores das várias faculdades. Sentado na 1.ª fila, com a veste da antiga Médico-Cirúrgica, parece estar o ainda muito novo Azevedo Neves que se distinguiu na FM/UL e foi um pioneiro na reforma dos serviços de medicina legal em Portugal.
O protocolo adotado na organização da cerimónia parece-nos decalcado nas cerimónias de abertura do ano académico que se faziam tanto na Academia das Ciências de Lisboa quanto na Médico-Cirúrgica.
Da estrutura do ato constaram:
-receção exterior e apresentação de cumprimentos ao chefe de Estado e ao ministro da Instrução Pública;
-cortejo em direção à sala [possilvelmente sem participação do corpo docente, no que se terá imitado a já tradicional ida dos PRP ao Parlamento. Segue-se o protocolo praticado pela presidência da República, Parlamento e Academia das Ciências na organização do cortejo e na constituição da mesa de honra: PRP preside, tomando a posição central, dá a direita ao ministro da Instrução e a esquerda ao reitor];
-sessão solene com discurso do reitor, elogio/saudação ao PRP [tradição anterior a 1910, também praticada em Coimbra. No rigor dos rigores, quando o chefe de estado participa numa cerimónia universitária deve ser recebido, cumprimentado, saudado em sala e acompanhado à saída. As universidades raramente respeitam esta norma, omitindo a saudação] e distribuição de prémios a estudantes [nas décadas seguintes, a UL passará também a integrar nesta cerimónia a outorga de insígnias e cartas doutorais (e d.h.c.?)];
-oração de sapiência;
-despedida.
Notas:
1 - Preside ao ato não o reitor Pedro Cunha mas o PRP Sidónio Pais que visita a UL revestido com farda militar;
2 - O reitor veste casaca e cartola e ocupa o 3.º lugar na ordem de precedência, à esquerda do PRP;
3 - O ministro da Instrução Pública Alfredo Magalhães veste sobrecasaca e cartola e ocupa o 2.º lugar na ordem de precedência, à direita do PRP;
4 - Conforme se escreveu no corpo da legenda, a UL não organiza a lista de precedências de acordo com a tradição da Universidade de Coimbra pois naquela instituição o PRP não preside aos atos e só pode tomar lugar atrás do reitor (cortejos) ou ao seu lado direito (em sala). Por seu turno, o ministro titular da pasta da instrução/ensino tem precedência sobre os demais ministros mas ocupa o lugar que lhe está reservado no protocolo de Estado, pelo que não pode ladear o PRP nem o reitor, nem usar da palavra;
5 - O artigo refere que os estudantes lançaram as capas no chão, tradição académica ibérica multissecular que se praticava nas universidades e nos seminários católicos.
Fonte: Ilustração Portuguesa n.º 670, de 23.12.1918