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quarta-feira, 14 de novembro de 2007

KLERICALE KOPFBEDECKUMGEN
Clerical Hats
Chapéus clericais e religiosos
Uma das matérias menos conhecidas e estudadas em Portugal é seguramente a da indumentária e chapelaria religiosa. Os soslaios manifestados há uns bons anos pelo Dr. João Afonso relativamente ao clero açórico não suprem a lacuna geral. E, relativamente à Igreja Católica, a simplificação da indumentária implementada pelo Papa Paulo VI no primeiro trimestre de 1969, não gerou nenhum movimento de âmbito musealizar. Cá e lá, em núcleos de arte sacra, aparecem peças soltas como sapatos, meias, luvas bordadas, mas as apetências deste tipo de museus centram-se claramente nas peças de grande aparato (casulas, dalmáticas, pluviais, mitras...).
O vestiário da sacristia da Sé de Braga será talvez um dos derradeiros exempos de manutenção de peças vestimentárias bastante diversificadas, abrangendo batinas, capelos de cónego, murças de arminhos, barretes, cintas de seda. Torna-se cada vez mais difícil, para não dizer impossível, encontrar em Portugal uma manufactura de paramentaria capaz de confeccionar uma loba, uma matelleta, um mantelone, um ferraiuollo, um "capello romano", uma murça de arminhos, um capelo de cónego capitular à portuguesa, uma capa magna ou um "galero".
Temáticas consideradas de menor categoria no mundo historiográfico, não será exagerado afirmar que o vestuário fala a sociedade que o veste/vestiu. Além do mais, muitos são os pontos de convergência entre a indumentária eclesiástica ocidental/oriental e os universos do judiciário e do universitário.
Algumas respostas visuais podem ser fornecidas através do site KLERICALE KOPFBEDECKUNGEN, http://www.dieter-philippi.de/mydante_1479.html, fundado e gerido pelo cidadão alemão Dieter Philippi.
Dieter Philippi nasceu em Saarbruken, Alemanha, no ano de 1962. Concluiu os estudos secundários em 1983 e cursou Economia na Universitat des Saarlands. Possui uma vasta colecção particular de chapelaria clerical, abrangendo o clero católico romano, o clero ortodoxo oriental, do Médio Oriente e Norte de África. Tem recolhido exemplares extra-europeus, passando ainda pelos islâmicos, protestantes, anglicanos e de minorias religiosas.
Este coleccionador não se limita adquirir exemplares de chapelaria ainda confeccionáveis em casas da especialidade na Grã-Bretanha, Alemanha, Espanha, Itália, Grécia, Roménia, Rússia, etc.. Através de esculturas e de gravuras credíveis intenta a reconstituição de espécimes dados como desaparecidos. Em paralelo dedica-se à recolha de exemplares de coberturas de cabeça usadas em algumas universidades ocidentais, sobretudo nos casos em que os laços de família entre clerical e académico estão historicamente comprovados.
Outro aspecto importante do site gerido por Dieter Philippi assenta na preocupação em dar a conhecer manufacturas de confecção dos exemplares adquiridos e na disponibilização de literatura de apoio.
É também possível aceder a este site através do endereço "Biretta", http://www.en.wikipedia.org/wiki/Biretta-26k, seguindo por "Pictures of birettas, information and literature in german language". Outro espaço que aborda esta questão, com apoio de fotografias, é o blog "Dappled Photos", http://dappledphotos.blogspot.com/.
Thanks and congratulations Mr. Philippi.
AMN

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Hats/Chapéus (I)
Mulher de Vila Nova de Famalicão, Portugal, inícios do século XX, com chapelinho de feltro (portuguese peasent woman with a black pompom hat ressembling oriental skophia). Constituído por rebordo ou virola exterior e calote semi-rígida, exibe a toda a volta do rebordo superior da copa pompons pretos de aparato.
Este tipo de chapéu feminino conheceu ampla voga no Baixo Minho, Douro Litoral e Beira Litoral. De ilharga mais baixa ou alteada, sem ornamentação, já a imitar tendências fidalgas burguesas, chega a exibir florinhas artificiais, penas e pompons. Nalgumas localidades, como Vila Nova de Gaia (zona de Grijó), os pompons eram popularmente conhecidos por "maçanetas".
De Coimbra para sul, sofreria modificações, a tal ponto que na Nazaré, tomaria configuração distintiva, com a abinha atrofiada e agigantado pompom preto lateral. Na Região de Santarém voltam a emergir os modelos de feltro retesados, mais próximos dos padrões da Beira Litoral e Douro Litoral. O Grupo Académico de Danças Ribatejanas, de Santarém, possui um exemplar preto, com ornamentação singela à base de penas de ave, cuja estrutura é a mesma do barrete/"skophia" dos bispos cristãos da Etiópia.
Estes chapelinhos femininos portugueses despertam as atenções, seja pelo seu aspecto ostentatório (que os aproxima das coberturas de cabeça judiciárias e de docentes universitários), seja pela insólita familiaridade com as skophias clericais romenas e etíopes.


Hats/Chapéus (II)
Mulheres de Oliveira de Azeméis, Portugal, inícios do século XX, com chapelinhos tradicionais de feltro, cuja estrutura é estranhamente semelhante à observada no chapéu clerical romeno e etíope (skophia).


Hats/Chapéus (III)
Skophia ou barrete redondo (pileus rotundus), cobertura de cabeça tradicionalmente usada pelos bispos da Roménia. O barrete de estilo romeno comporta calote mole e estrutura circular exterior rígida, forrada de tecido e duplamente fendida na parte superior das duas costuras.
Este tipo de barrete tem aparecido nos anos post Queda do Muro de Berlim como chapéu doutoral adoptado em algumas universidades dos antigos Países de Leste, incursão deveras curiosa pois no Ocidente a tendência foi de sentido exactamente inverso.
Semelhante a este modelo, mas sem rebordo superior fendido, é o chapéu dos bispos e cardeais católicos da Etiópia. Todos estes modelos podem visualizar-se no site de Dieter Philippi.
AMN