Virtual Memories

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Homenagem a Câmara Pestana (1899)

Foto-reportagem sobre a "Manifestação à memória do Dr. Câmara Pestana (no cemitério do Alto de São João)", Lisboa, novembro de 1899. Presença de professores da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa com toga e barrete.
Fonte: Brasil-Portugal n.º 21, de 1.12.1899

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Cortesias com os charameleiros da casa real montados, praça de touros do Campo Pequeno, Lisboa, 1902. Muito rara fotografia da charamela da casa real montada, libré e instrumentos de sopro ornados com pendões.
Fonte: Brasil-Portugal n.º 86, de 16.8.1902

Notas: exemplares da libré fini-setecentista no Museu Nacional dos Coches; exemplares dos instrumentos no Museu Nacional dos Coches

O rei D. Manuel II preside à inauguração oficial do monumento ao duque de Saldanha, Lisboa, fevereiro de 1909. Guarda de honra pelo corpo de archeiros da casa real em libré de gala e alabardas. A presença do monarca é sublinhada em vanguarda pelo mordomo-mor com a sua cana (exercia o cargo o conde de Sabugosa com a sua inconfundível bigodaça). Pelo regulamento dos estilos velhos de D. João IV (1643), o mordomo-mor era auxiliado por três oficiais da cana, o porteiro-mor, o vedor e o mestre-sala que nos cortejos e atos solenes ficavam sempre de pé, em fileira, com as canas ou bastões de prata nas mãos. Havia contudo alguns atos em que os oficiais afetos ao governo do cerimonial da corte desfilavam com as canas ao ombro: nos cortejos equestres de entradas régias, nas aclamações e nas paradas de abertura de acortes; nos banquetes de gala dados no paço real, quando as iguarias eram trazidas em cortejo para a mesa, vindo os porteiros da cana com os bordões deitados ao ombro na frente do vedor (Páscoa, Consoada de Natal, dia de Reis, etc.), em que também tomavam parte os porteiros das maças, os reis de armas, os arautos e os passavantes, todos cobertos e com insígnias. Fechava este cortejo o mordomo-mor, com cana ao ombro, seguindo-se as mesuras de estilo e o serviço de mesa.
A composição registada na fotografia corresponde a um arranjo simplificado das disposições do cerimonial. Pelos estilos velhos, o mordomo-mor caminhava sozinho em frente ao rei, e se estivessem presentes oficiais da cana, estes alinhavam em frente ao mordomo-mor, ao centro o porteiro-mor, à direita o vedor, à esquerda o mestre-sala.
Conforme já tivémos oportunidade de referir noutra postagem, a coordenação do cerimonial estava cometida ao mordomo-mor, mas este serviço era garantido nos atos públicos e privados por diversos oficiais da mordomia-mor. Por exemplo, os pregões eram responsabilidade dos reis de armas; as bastonadas de anúncio de altos dignitários eram feitas pelo porteiro de serviço; a apresentação do dignitário era garantida pelo mordomo-mor; a entrada em audiência, com recebimento e retirada estava a cargo de um introdutor designado para o efeito.
Fonte: Brasil-Portugal n.º 243, de 1.3.1909

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Centenário da Guerra Peninsular (1908)

Imagens captadas em Torres Vedras aquando da deslocação de D. Manuel II ao campo da batalha do Vimeiro por ocasião do Centenário da Guerra Peninsular (agosto de 1908).
Expressivo conjunto de fotografias que documenta a forma tradicional de organização de cerimónias públicas participadas por comissões, municípios, estruturas católicas, judiciais e militares, a que concorriam os chefes de Estado. Os dignitários locais apresentavam-se com indumentária profissional e insígnias no local de desembarque do chefe de estado, na fronteira do concelho ou em local convencionalmente designado (ex: o município do Porto ia receber a Grijó, o municipio de Coimbra ia receber a Condeixa e a S. Martinho do Bispo). Este modo de recebimento público era festejado com sinos, foguetes, salvas, colchas, tapetes florais, arcos alegóricos. Manteve-se em diversos municípios até finais do Estado Novo, a fazer fé nos relatos de imprensa que registaram as visitas de diversos titulares de cargos da administração central e as cerimónias de inauguração de edifícios públicos.

Foto superior: câmara municipal de Torres Vedras, vereadores de cartola e bengala com faixa azul e branca;
Foto do meio: padres do convento do Varatojo;
Foto inferior: membros da comissão organizadora das comemorações, integrando os dois magistrados da comarca (de beca e chapéu, conforme determinavam os antigos estilos, deveriam aguardar o chefe de Estado, proferir saudação oficial e aguardar a resposta, falando sempre com a cabeça coberta).
Fonte: Brasil-Portugal n.º 231, de 1.9.1908

Embaixada da UC a Lisboa (1908)

Deputação da UC (1): uma embaixada de estudantes e uma deputação oficial da Universidade de Coimbra deslocam-se a Lisboa e prestam fidelidade ao rei D.Manuel II no paço das Necessidades. A marcha dos estudantes, entre a estação do Rossio e as Necessidades, ficaria marcada por escaramuças de rua.

Deputação da UC (2): representação oficial da Universidade de Coimbra de fidelidade ao novo rei D. Manuel II, Lisboa, junho de 1908. Reitor em grande uniforme, lentes das faculdades com hábito e insígnias. Presente o mestre de cerimónias Manuel da Silva Gaio.
O reitor é o bacharel Alexandre Cabral Pais do Amaral, que governou o Studium entre 10.3.1908 e 5.10.1910. Veste grande uniforme com bicórnio. Embora licenciado pela Faculdade de Direito da universidade de que entretanto se tornara reitor, Pais do Amaral não era lente do quadro nem tinha grau de doutor. Estes dois impedimentos não permitam ao reitor usar o hábito talar nem as insígnias doutorais. Se cometesse a imprudência de desrespeitar a praxe académica, o reitor poderia ser punido pelos estudantes, o que poderia causar embaraço. Nas cerimónias intra e extramuros, os reitores da UC que não integravam os quadros docentes nem eram detentores do grau de doutor costumavam envergar os grandes uniformes e hábitos de gala a que tinham direito. Uma tal situação abriu portas ao costume de se perguntar ao reitor cessante como queria ser representado no retrato a encomendar para a galeria dos reitores: como reitor, sendo lente do quadro; como doutor, sendo lente do quadro, ou professor de outra instituição; como dignitário externo (neste caso, indumentária de gala, conforme as situações profissionais configuradas). Ou seja, os reitores externos à instituição tinham direito aos títulos próprios do reitor, mas não ao porte do hábito talar e insígnias doutorais. Esses títulos eram (e ainda hoje são) respetivamente e por ordem de importância Venerando Prelado, Magnifico Reitor, Magno Cancelário (e não chanceler, pois na UC o guarda selos ou chanceler é título reservado ao presidente da Faculdade de Direito, que o exerce de pleno direito por já não existir Faculdade de Direito Canónico).
No início de cada reinado a UC costumava convidar o monarca entronizado a declarar-se protetor oficial, situação que equivalia grosso modo a arranjar um embaixador político-cultural, um mecenas e um defensor dos direitos e regalias da instituição. D. Manuel II foi o último rei a gozar do estatuto de protetor da UC. A aceitação implicava que a UC convocasse o claustro docente e realizasse uma luzidia cerimónia na sala de atos grandes na qual era lida a carta de aceitação e se faziam as manifestações de estilo.
A audiência no paço real seguiu as precedências da praxe, com a seguinte ordenação: 1) decano/representante da Faculdade de Matemática; 2) decano da Faculdade de Filosofia Natural; 3) decano da Faculdade de Medicina; 3) decano da Faculdade de Direito Civil; 4) Decano da Faculdade de Teologia; 5) mestre de cerimónias; 6) reitor.
Fonte: Brasil-Portugal n.º 226, de 16.6.1908

Hintze Ribeiro de capa e batina (1869-1870)

Fotografias do advogado e estadista Ernesto Rudolfo Hintze Ribeiro (Ponta Delgada, 1849; Lisboa, 1907), publicadas pela revista Brasil-Portugal n.º 206, de 18.8.1907.
Em três imagens do acervo familiar, Hintze é representado de capa e batina. A imagem de meio corpo a 3/4, sentado, com a pasta de quintanista no regaço, segue a prática instituída pelas casas fotográficas que tinham começado a comercializar cartas fotográficas de curso (orlas de curso, em Espanha) e álbuns de cursos. As duas fotografias em pose ereta são documentos relevantíssimos para a iconografia do hábito talar em Portugal. O jovem estudante de Direito faz-se fotografar em estúdio com a pasta de luxo, capa, batina de modelo comum (hábito curto ou abatina), mas deixando ver os calções e as meias altas que desde o Edital [reitoral] de 10.10.1863 praticamente só eram envergados nos dias de matrícula e nas grandes cerimónias.
É possível que um número diminuto de estudantes, entre os quais se contaria Hintze, usasse ainda o traje de abatina com calções. O cliché de 1869 pode ter sido tirado no ínício do ano letivo de 1869-1870, uma vez que Hintze concluíu o bacharelo de Direito em 11.7.1870 e colou o respetivo grau (=formatura, ritual que se realizava nas salas de aula de cada uma das faculdades) em 22.5.1871. Seguiram-se a licenciatura a 8.2.1872 (este grau era obrigatoriamente colado na capela da Universidade), a arguição das conclusões magnas (dias 1 e 2.7.1872), tendo colado o grau de Doutor em Direito Civil a 14.7.1872.
Nas fotografias de estudante é visível a corrente do relógio de bolso. A corrente prendia num dos botões da carcela da batina e o relógio propriamente dito (conhecido na gíria por "cebola") metia-se num bolsinho da batina rasgado à altura do peito.

Homenagem a Ilídio Amado, fundador da Tuna Académica de Lisboa (1907)

[1]: a Tuna Académica de Lisboa

[2]: parada da Tuna Académica de Lisboa, uma identidade visual comum à maioria das tunas estudantis portuguesas de finais do século XIX/inícios do século XX em contextos de paradas, entradas festivas, desembarques, cortejos fúnebres e bandos precatórios (peditórios na via pública).

[3] Lisboa, cemitério dos Prazeres, 22.1.1907, elementos da Tuna Académica de Lisboa e tunas convidadas prestam homenagem a Ilídio Amado
Fonte: Brasil-Portugal n.º 193, de 1.2.1907

Mais informação sobre a TAL (1895): Eduardo Coelho/Jean-Pierre Silva/João Paulo Sousa/Ricardo Tavares, Qvid tvnae? A tuna estudantil em Portugal. Porto/Viseu/Lisboa: CoSaGaPe, 2012, pp. 191-203.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Funeral do cientista Louis Pasteur, 5.10.1895, tela de Jean-Baptiste Édouard (1897), Palácio de Versalhes
Presença de militares em grande uniforme, estadistas, professores universitários com togas, reitores (os inconfundíveis preto e roxo) e membros do Instituto de França com o fardão de grilo.
Esta pintura foi depois amplamente reproduzida em bilhete postal, conforme atesta um exemplar disponível no acervo da Historical Medical Library of the College of Physicians of Philadelphia, http://www.historyofvaccines.org/content/pasteurs-funeral.

Jubileu de Louis Pasteur, grande anfiteatro da Sorbonne, 27.12.1892, quadro de J. A. Rixens
O Presidente da República Sadi-Carnot, em grande casaca civil preta, acompanha Pasteur, também ele em casaca. Adianta-se para felicitar o cientista o académico escossês Joseph Lister. Presentes no anfiteatro docentes de diversas faculdades, revestidos de toga, e membros do Instituto de França com o "habit vert".

Como seria o barrete doutoral das universidades ibéricas na transição do século XV para o século XVI: um camauro de tecido preto, rematado por borla de seda na cor da especialidade científica sobre o qual se avista já a formulação do florão que nos séculos XVI e XVIII atinge o auge.
Jacente funerário do Doutor Juan del Grado, cónego da catedral de Zamora/Espanha (escultura funerária na igreja de Zamora).
Fonte: "Escultura Castellana", http://esculturacastellana.blogspot.pt/2012/06/escultura-funeraria-ii.html.

Os painéis de Veloso Salgado sobre os saberes médicos na Médico-Cirúrgica de Lisboa (1906)

EMCL (1): retrato de D. Carlos I por José Malhoa

EMCL (2)

EMCL (3)

EMCL (4)

EMCL (5): em 1906 ficou concluída a obra de  pintura do novo edifício da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, que até à década de 1950 foi considerado o mais importante edifício expressamente concebido e construído em Portugal para o ensino de ciências médicas.
Para além do retrato do rei D. Carlos I, pintado por José Malhoa, o pintor Veloso Salgado realizou na sala de atos um expressivo conjunto de afrescos historiados, com mais de 100 figurantes, que se propunha contar a História da Medicina.
A narrativa plástica inicia-se na Grécia Clássica, passa pela Medicina Árabe, revisita a Medicina Medieval, bem como os processos de experimentalismo do Renascimento, da cientificação dos séculos XVII e XVIII e do positivismo laico do século XIX. A Medicina Portuguesa, com Garcia de Orta e outros, é convocada e integrada na história da Medicina ocidental.
A estrutura narrativa e discursiva é prejudicada pelo positivismo que à época dominava o ensino das ciências médicas nas escolas ocidentais europeias e americanas, expresso nos títulos atribuídos a alguns dos panneaux: "História da Medicina na sua feição teológica e sacerdotal", "História da Medicina Laica". Seja como for, Veloso Salgado constroi uma convincente imagem dos saberes e das práticas médicas que traduz a perceção predominante entre as elites que integravam os quadros professorais das escolas públicas em atividade em Lisboa, Coimbra e Porto. Que professores da EMCL terão fornecido a Veloso Salgado informações e nomes para serem incluídos nos afrescos?
Vale a pena revisitar estas construções narrativas de inícios do século XX, muito marcadas pelos referentes da descristianização, fixadas em importantes edifícios como a Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, a sala do tribunal do comércio do Palácio da Bolsa do Porto e a caixa das escadarias da Academia Politécnica do Porto. Apesar de estarmos em presença de instituições não universitárias e de orientação marcadamente prática, nem por isso estavam ausentes os referenciais eruditos, o gosto aristocrático e o culto da cultura clássica.
Fonte: Brasil-Portugal n.º 174, de 16.4.1906

domingo, 12 de agosto de 2012

Curso do 5.º ano médico, Lisboa (1905)

Fotografia do curso do 5.º ano da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Os estudantes de ambos os sexos vestem indumentária civil, como era próprio das escolas politécnicas fundadas em Lisboa no século XIX. Os dois uniformes estabelecidos em 1856 neste estabelecimento de ensino abrangiam apenas os professores. No início de cada ano académico realizava-se uma cerimónia solene de abertura, na qual eram distribuídos prémios a alunos distintos, mas não há notícia de qualquer cerimónia de formatura de estudantes nem de imposição de insígnias a professores. Era emitido diploma de curso (que no caso da Médico-Cirúrgica do Porto tinha fita amarela e vermelha) mas não se tratava de carta de grau.
Fonte: Brasil-Portugal n.º 153, de 1.6.1905