Virtual Memories

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

«Fátima, terra de fé», filme a preto e branco do realizador português Jorge Brum do Canto [1943]
Ao minuto 31.09 o protagonista, Dr. Silveira, profere uma oração de sapiência em representação da Faculdade de Medicina na cátedra da sala dos atos grandes da Universidade de Coimbra. Durante aproximadamente seis minutos é possível acompanhar um trecho da cerimónia solene de abertura da UC, e muito particularmente o papel do mestre de cerimónias. Muito bem documentado o trajeto do orador, desde a saída da cátedra até ao seu lugar no doutoral com observância das cortesias às autoridades, convidados e sua própria Faculdade. Uma pequenina falha se anota neste cerimonial restaurado em 1918, expressa pela ausência do bedel da escola do orador, que deveria obviamente caminhar na sua frente, sob pena do ato em si mesmo estar ferido de legitimidade. O Dr. Silveira tem sido interpretado como uma projeção do percurso ideológico do médico Bissaia Barreto.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

"Saint Theresa of Avila, Doctor of the Church", pagela devocional a preto e branco, século XX, possivelmente impressa no México.
Apresenta dois erros iconográficos:
a) o remate do barrete doutoral sugere uma borla branca de tipo pompom, quando toda a iconografia coeva (do século XVI a inícios do século XIX) evidencia sempre uma pega ou florão armado sobre a copa. Nas universidades de Espanha, Coimbra e Peru (Lima) o florão era segmentado em bolbos de madeira forrados de seda, situação que se repetia nos colégios superiores colombianos autorizados a conceder graus académicos. Destaca-se deste modelo comum nos séculos XVIII e XIX a universidade do México, com a ornamentação do barrete doutoral a seguir as capelas florais de grande aparato usadas pelos dançarinos ibéricos nos carnavais e procissões;
b) a estrutura do capelo doutoral branco, aqui com singela guarnição preta, quando na verdade os capelos doutorais ibéricos e americanos eram de duas murças/mucetas sobrepostas, situação que ainda pervive em Coimbra. A guarnição preta é bastante insólita, sabendo-se que foi muito usada nos capelos de Teologia da universidade de Lima, primeiro circunscrita aos alamares (século XVI), mas evoluindo rapidamente para imaginosos axadrezados que passaram a ser usados nas restantes cores científicas até inícios do século XIX.