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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A antiga cerimónia de entrega de prémios na Universidade de Coimbra

Ao longo do século XIX a Casa Reitoral da Universidade de Coimbra realizou anualmente uma cerimónia solene de entrega de prémios a alunos distintos. Os laureados eram estudantes matriculados em todos os anos de cursos das Faculdades.
A solenidade decorria habitualmente na Sala dos Actos Grandes, no dia 8 de Dezembro, data que desde o século XVII estava associada ao culto da Imaculada Conceição.
Quando o monarca reinante não comparecia, a cerimónia era presidida pelo Reitor. Na impossibilidade deste, a presidência cabia ao Vice-Reitor.
O programa consagrado pela tradição apresentava a seguinte estrutura:
1.Concentração dos alunos premiados em hábito talar na Sala dos Actos Grandes, por hierarquia das Faculdades;
2.Cortejo interno dos membros da Casa Reitoral da Reitora para a Sala dos Actos Grandes, vindo na frente a Charamela, depois os doutores segundo as precedências das Faculdades e antiguidades das posses, os oficiais maiores, o Reitor e os convidados;
3.Discurso do Reitor em louvor das ciências, do mérito e da excelência
4.Discurso de um membro do corpo docente (rotativo por Faculdade)
5.Chamada nominal em voz alta dos alunos premiados de cada Faculdade pelo Secretário-Geral, começando no 1.º ano e acabando no último, com a seguinte ordem: Teologia, Direito, Medicina, Matemática, Filosofia Natural
6.Entrega individual do diploma (pergaminho) pelo Reitor
7.Baile de gala dos premiados numa das salas da Reitoria
Caso se deslocassem a Coimbra os reis, com as respectivas deputações de dignitários, o programa passava a ter a seguinte estrutura:
1. Alinhada no Largo da Feira, a Universidade recebia o rei na porta da Sé Nova, apresentando cumprimentos oficiais o Reitor
2. Recebido o rei com pálio pelos cónegos do Cabido de Coimbra, seguia-se um Te Deum Laudamos no interior da Sé
3. Organizava-se um cortejo desde a Sé Nova até ao Terreiro do Paço das Escolas segundo os estilos tradicionais, com toque de charamela, repiques de sinos e engalanamento das ruas. O pálio era transportado pelos Decanos das Faculdades
4.Realizava-se um banquete de gala no Paço das Escolas (na Sala das Congregações)
5.Seguia-se o cortejo interno, da Reitoria para a Sala dos Actos Grandes
6.Estando os estudantes laureados já sentados nos bancos do público, as Faculdades ocupavam os doutorais e constituía-se o paraninfo, presidindo o rei
7.Segundo o protocolo clássico, era obrigatório a Universidade saudar o rei visitante com uma beve Oração proferida na cátedra por lente de Teologia
8.O rei respondia a esta Oração com palavras de circunstância
9.A charamela executava o hino nacional, seguindo-se o hino académico de Coimbra
10.Discurso do Reitor
11.Discurso do corpo docente
12.Chamada nominal dos estudantes premiados
13.Entrega dos diplomas pelo rei
14.Encerramento do acto
15.Cortejo de saída e despedimento dos visitantes
Pelo que conseguimos averiguar, em alguns anos chegaram a ser entregues 4 classes de prémios e ainda o chamado "Partido" que era reservado aos alunos de Medicina.
Conquanto prestigiada e cobiçada, a cerimónia dos prémios foi alvo das mais mordazes troças por parte dos estudantes e da literatura memorialística. Desdenhava-se dos diplomas, tentava-se diminuir o mérito dos premiados. Os melhores alunos eram alvo das troças académicas, sendo conhecidos na gíria local por "ursos" e "marrões". Havia os "ursos maiores" e os "ursos menores", categorias associadas à actividade dos saltimbancos e domadores de circo que faziam dançar os animais. A palavra "marrão" encerrava um mundo de preconceitos e ambiguidades, podendo remeter para os judeus marranos, para os touros de investiam com os chifres contra as sebes e para os pedreiros que golpeavam os rochedos com marretas de ferro.
O baile de gala dos alunos premiados era justamente conhecido por "baile dos ursos".
Dois acontecimentos ligados à festa dos prémios causaram duradouro escândalo na Universidade de Coimbra e fora dela:
-em 8 de Dezembro de 1862, e na sequência de protestos contra a gestão do Reitor Basílio Alberto Sousa Pinto, os estudantes presentes na cerimónia abandonaram ruidosamente a sala quando o Reitor proferia o seu discurso. O líder do movimento foi o estudante de Direito Antero de Quental. Este acto de protesto ainda hoje é lembrado em Coimbra;
-em 20 de Novembro de 1908, estando D. Manuel II a proceder à entrega dos prémios na Sala dos Actos Grandes, os estudantes premiados de Matemática Fernando Bissaia Barreto (exacto, o futuro médico) e Aureliano de Mira Fernandes não responderam às chamadas do Secretário-Geral nem se levantaram para receber os respectivos prémios, atitude que causou tremendo embaraço protocolar.
A Reitoria da Universidade de Coimbra já não chegou a realizar a cerimónia prevista para 8 de Dezembro de 1910. Chegara a República. Traumatizada com as sucessivas campanhas de desacreditação promovidas pelos estudantes mais radicais e com os escândalos de 1862 e 1908, não mais a Reitoria retomou esta antiga festa de premiação.
O século XX veio provar que as cerimónias públicas de premiação do mérito e da excelência tinham pertinência. É ver as datas de arranque de eventos mediáticos anualmente realizados como o Prémio Nobel (1901), Prémio Pulitzer (1917), Academy Awards (Oscars, 1929), Leão de Ouro (1932), Golden Globe Awards (1944), Emmy Arwards (1949), Urso de Ouro (1951), Palma de Ouro (1955), Bola de Ouro (1956), Grammy Award (1959), Bota de Ouro (1967-1968), e Prémio Sveriges de Ciências Económicas (1969), de que há derivados na maior parte dos países ocidentais.
A lista dos alunos premiados em 1862 foi publicada no Diário de Lisboa, n.º 21, de 3.ª feira, 28 de Janeiro de 1862.
Citar: Nunes, A. M. - A antiga cerimónia de entrega de prémios da Universidade de Coimbra. In: Virtual & Memories, 28.1.2011

Protocolo usado nas sessões solenes da Academia de Belas Artes de Lisboa

Entre o século XIX e os inícios do século XX realizava-se na Academia de Belas Artes de Lisboa uma sessão solene com o seguinte programa:
1. Recepção ao Chefe de Estado e membros do Governo junto à porta principal do edifício
2. Constituição da mesa de honra, presidindo o Chefe de Estado
3.Discurso de abertura proferido pelo Director da Academia
4.Leitura do relatório de actividades por um membro do corpo docente
5.Chamada nominal dos alunos premiados e entrega de prémios
6.Visita do Chefe de Estado e demais convidados a uma exposição de objectos patentes nas salas da Academia
7. Despedida dos visitantes
Trata-se de uma cerimónia académica simples, de cariz laico, semelhante a outras que pela mesma época tinham lugar nos liceus e nas escolas politécnicas. De acordo com os preceitos do cerimonial público da época seria considerado um acto de pequena gala.
Os prémios eram constituídos por um diploma, uma medalha de ouro e uma medalha de prata.
Uma descrição deste evento, realizado em 29 de Março de 1862, encontra-se no Diário de Lisboa, n.º 78, de 7 de Abril de 1862. O discurso e o relatório desse ano aparecem integralmente publicados no Diário de Lisboa, n.º 111, de 17 de Maio de 1862.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


Retrato a óleo do Bispo D. José María de Jesús Diez Sollano y Dávalos, por D. Juan de Herrera. Dávalos (1820-1881) foi bispo de Leon, México. Era doutorado em Teologia pela Real y Pontificia Universidad de Mexico (1846), instituição de que foi penúltimo reitor.
Sobre a mesa e um pouco atrás da mitra encontra-se uma extraordinária e a todos os títulos excepcional figuração do barrete doutoral de Teologia (Branco) e Filosofia (azul) ornado de láurea franjada, coroa de passamanaria e pega superior.
Fonte: Galeria del Salón de Cabildos de la Catedral de Léon, Guanajuato, dispoinível em http://www.ruelsa.com/gto/leon/leon8.htm

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Conselho de Protocolo

Decreto n.º 11.669, de 19 de Maio de 1926, da Presidência do Ministério
Tendo-se suscitado dúvidas acerca das precedências a estabelecer nos actos e cerimónias da República, devido não só à criação de novas funções, como à deficiência da legislação por onde possam regular-se essas precedências;
Considerando que os funcionários encarregados de regular casos dessa natureza não dispõem dos necessários elementos de informação, nem dos necessários e indispensáveis elementos de colaboração;
Considerando a necessidade urgente de estabelecer de uma forma definitiva um regulamento de precedências dos Altos Poderes do Estado, corpos administrativos e funcionários civis e militares da República, entre si, e nas cerimónias em que intervenham ou tenham de comparecer os Embaixadores e outros membros do Corpo Diplomático:
Hei por bem, sob proposta do Presidente do Ministério e Ministro do Interior e do Ministro dos Negócios Estrangeiros e usando da faculdade que me confere o artigo 47.º da Constituição Política da República Portuguesa, criar o Conselho do Protocolo e nomear para dele fazerem parte o Secretário-Geral da Presidência da República, [o] chefe de protocolo da Presidência da República, [o] chefe da 2.ª Repartição da Direcção Geral dos Negócios Políticos e Diplomáticos e um chefe de repartição do Ministério do Interior.
Este Conselho deverá propor, com a possível brevidade, ao Governo da República, um regulamento de precedências e servirá de consultor em todas as circunstâncias em que a sua intervenção for necessária.
Paços do Governo da República, 19 de Maio de 1926.
Bernardino Machado, António Maria da Silva, Vasco Borges.
Fonte: Diário do Governo, n.º 107, 4.ª feira, 19 de Maio de 1926
Nota: não conhecemos quaisquer trabalhos desenvolvidos por este conselho. Não terá chegado a ser constituído devido às mudanças trazidas pela Revolução de 28 de Maio de 1926