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sábado, 10 de novembro de 2007

Emblemas de Cursos: os atalhos do espontâneo


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O Selo oficial da Universidade de Coimbra, estatutariamente definido, é objecto de consagração escrita pelo menos desde o século XVI, competindo a respectiva regulamentação ao Senado. A sua figuração é obrigatória em mobiliário de estilo, imóveis e propriedades da UC, cabeçalhos de diplomas de aparato, viaturas oficiais, publicações, bastões e varas ligadas ao cerimonial, Bandeira e pendões de charamelas.
Pouco ou nada utilizado nos imóveis da Cidade Universitária edificada sob a égide do Estado Novo, o Sigillum parece conhecer novo refluxo em tempos de grafismo dominado pelas tecnologias informáticas.
O Selo da UC, verde para a Casa Reitoral e suas dependências, mantém os elementos constitutivos basilares multisseculares, apesar de reformado logo após a Revolução Republicana de 1910 segundo desenho do docente da Faculdade de Philosophia Natural António Augusto Gonçalves. A principal diferença entre o antes e o depois radica na consagração da Sapiência em postura erecta, solução que colide com a tradição, e em alterações laicizantes incorporadas na legenda latina que sulca a tarja.
O Selo da Casa Reitoral, Secretaria Geral, Imprensa da UC, Biblioteca Geral, e demais dependências da Reitoria, sempre de formato elíptico, é em verde forte, adoptado a partir da cor da antiga Faculdade de Cânones. A estampagem do selo é geradora de algumas dificuldades no tocante aos contrastes, prevalecendo para todas as situações o exemplo da Bandeira oficial da UC, cujo selo verde é contrastado a nível dos contornos pelo branco (usança que já se observava desde finais da década de 1920 no emblema da AAC e respectiva bandeira. A bandeira da UC só viria a ser criada na década de 1980, durante a prelatura Rui de Alarcão).
A obrigatoriedade do uso do Selo da Casa Reitoral no património móvel e imóvel da UC respeita as seguintes excepções:
a) departamentos posicionados na esfera da Casa Reitoral, detentores de chancela própria, podem optar pelo seu uso em fundo verde. Possuem chancelas próprias a Capela de São Miguel e o Arquivo. O caso do Arquivo é bastante curioso, pois detendo esta instituição chancela privativa modernizada em 1929*, sobre ela paira uma espécie de esquecimento que tem feito os directores oscilarem entre o Selo da Casa Reitoral e uma apropriação vulgar de uma figuração da Sapiência em moldura circular, copiada dos candeeiros da Praça da Porta Férrea (prática espontânea também partilhada pela vizinha Faculdade de Medicina);
b) Faculdades que poderão optar: 1) pela reprodução integral do Selo da Casa Reitoral, mudando o verde para a cor oficial de cada Escola. Esta solução é a mais praticada, pese embora o facto de não identificar a Faculdade, como seria desejável, uma vez que na tarja do selo se reproduzem integralmente os dizeres específicos da Casa Reitoral ("Insignia Universitatis Conimbrigensis"), ficando assim por identificar em latim o nome de cada Faculdade; 2) figuração da alegoria específica de cada Faculdade, sobre campo na cor estatutariamente definida. Nenhuma das Faculdades segue esta tradição e algumas nem sequer conhecem qual seja a sua alegoria. Exemplificando, em Direito sabe-se que é a Ivstitia, em Medicina que é Esculápio, mas não é claro que se saiba que Hygieia representa Pharmacia, Mercúrio simboliza Economia ou a Philosophia congrega a plena representatividade da Faculdade de Letras.
Fazendo eco de uma tradição medieval, cujas raízes mergulham na cultura greco-romana, os estudantes de cada uma das Faculdades continuam a tentar figurar cada um dos ramos do saber ou especialidades académico-científicas, representação que tanto pode ocorrer por Disciplina ou por Curso. Estas figurações, em geral minimalistas e incorrectas, ocorrem à margem de qualquer regulamentação institucional. Não sendo regulamentadas por um Senado ou por Conselho de Veteranos, as opções são em geral incongruentes e pobres, aproximando-se muito do estilo gráfico praticado nos sinais de trânsito. Vãmente se procurarão elementos sobre tal assunto em actas do Senado, estatutos impressos ou códigos de praxe. Nem mesmo o mais recente código de praxe (2007) aflora a temática.
São os cursos reunidos em jantares, as comissões festivas efémeras e os grupos de escolares que em momentos de decoração de carros alegórico-festivos, decidem inventar arbitrariamente emblemas para capas e crachás de lapela. Aquilo que for inventado transita rapidamente para a ornamentação de pastas de luxo, capas de estudante, e para a esfera dos não menos espontâneos "anéis de curso", plaquetes de caricaturas e livros de curso.
Da pragmática estatutária clássica, os inventores de emblemas pouco aproveitam, limitando-se as mais das vezes à cor oficial do curso, cor que passa a ser aleatoriamente combinada com outras não autorizadas. Das Faculdades mais antigas, ou com maior peso simbolizador clássico, poderão ser aproveitados eventuais conjuntos como a balança/espada (Direito), ou a cegonha/bastão de Esculápio (Medicina). Porém, o mais frequente é verem-se em circulação elementos destituídos de qualquer fundamentação em termos de história e de mitologia clássica, servindo de exemplos a palmeira (Farmácia), o cifrão/euro (Economia), capacete militar/espadas, tudo combinado com a frase proferida por César na Gália (História).
A arbitrariedade das combinações e a ausência de suportes históricos é de igual modo visível na falsa heráldica que sustenta o mercado dos anéis de curso. Não possuindo suporte estatutário, os chamados anéis de curso, com base em ouro e pedra na cor da especialidade científica, começaram a aparecer em Coimbra espontaneamente pela década de 1950, primeiro nas Faculdades consideradas detentoras de maior prestígio sócio-profissional como Direito e Medicina. Eram ofertados aos neo-formados pelas noivas e madrinhas, tal qual sucedia no século XIX com as pastas de luxo dos quintanistas. Não se sabe se estes anéis sugiram em Coimbra ou se foram importados de outras universidades. Na actualidade proliferam anéis de formatura para bacharéis, licenciados e mestres, tanto em universidades, como politécnicos, escolas militares e de polícia, em Portugal, nos EUA, Brasil e países da América Central.
No após 1974, a massificação do ensino superior ditou o sucesso dos anéis. Em muitas situações observadas, as cores presentes nestes anéis e os motivos cinzelados são puras invenções, sobretudo em escolas superiores onde os órgãos de gestão nunca aprovaram cores oficiais, insígnias ou emblemas. A pedra oval (modelo feminino), ou poligonal (modelo masculino), também não resulta de qualquer fundamentação heraldística ou estatutária, refectindo apenas convenções publicitárias socialmente inculcadas, do tipo o azul celeste representa os bebés e o cor-de-rosa as bebés.
Relativamente ao caso conimbricense, os anéis de curso, germinados à margem da instituição, faziam eco do desconforto resultante da prolongada ausência dos rituais de formatura no tocante ao bacharelato e à licenciatura, cujo cerimonial foi suspenso em 1910 e não retomado ulteriormente. Os anéis de bacharel/licenciado, proliferantes no mercado, configuram-se como falsas insígnias académicas, ventilando uma emblemática de difícil compreensão: 1) prémanufacturados e do tipo "pronto-a-comprar", os ourives cinzelam habitualmente nestes anéis elementos turísticos e falsos motivos como sejam a Torre da Universidade; 2) a pedra na cor da especialidade científica do graduando é em Coimbra tradição específica dos detentores do grau de doutor, não extensível a bacharéis, licenciados ou mestres (não obedecendo a uma configuração específica, o anel doutoral conimbricense admite duas cores quando estas representam a especialidade científica de uma Faculdade, mas nunca autoriza mistura de cores de Faculdades distintas, regra comum a todas as universidades católicas). Mas quem quereria usar um anel manufacturado integralmente em ouro, opção menos vistosa, contudo mais próxima de Oxford e Cambridge?
O contrário da arbitrariedade, vazado na regulamentação minuciosa, nem sempre conduz às soluções mais avisadas. Recorde-se o exemplo da longa reforma da heráldica municipal portuguesa, concretizada entre finais da década de 1920 e meados da década de 1930. A Comissão de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses padronizou centenas de brasões municipais e de juntas de freguesia, tarefa que se prolongou pelas décadas seguintes e ainda hoje continua em aberto (a cargo do Instituto Português de Heráldica).
Nos esforços menos conseguidos dessa comissão conta-se a invenção nem sempre convincente de espigas de milho, cachos de uvas, peixes, barcos e pássaros... no caso concreto dos municípios açoreanos, o Coronel Linhares de Lima, movido por uma espécie de febre das aves, infestou a maioria dos brasões camarários com uma autêntica praga de milhafres (muitos deles a pairar sobre vulcões), fazendo tabula rasa sobre situações portadoras de alguma riqueza, como sucedia nos municípios cujas pedras de armas figuravam ostensivamente as armas de D. Manuel I.
Percorramos as imagens fotografadas por Rui Lopes:
Fotografia 1 - em cima, selo elíptico da UC, aplicado à Faculdade de Medicina, em campo amarelo ouro, com os contornos, cenário arquitectónico neogótico, Sapiência e dizeres da traja em branco. Solução correcta de adaptação do Selo da Alma Mater a uma das suas Faculdades, seguindo o exemplo configurado no tratamento da Bandeira da Casa Reitoral, pese embora o problema (não resolvido) da não identificação da Faculdade. Em plano inferior, falso selo da Faculdade de Medicina, contendo diversas arbitrariedades. Recorre a um desenho alternativo, que não consta do Selo da Casa Reitoral nem polariza a alegoria institucional (Esculápio). Esta solução não comporta originalidade alguma, constituíndo uma transposição de um ornato em bronze que remata os postes de iluminação da Praça da Porta Férrea e artérias adjacentes, inaugurados nas décadas de 1950/1960. Igual motivo chegou a ser impropriamente usado em publicações do AUC (Arquivo da UC), comportando na parte inferior um listel identificativo com o vocábulo «arquivo», quando o Arquivo tem chancela privativa. Outro erro bem patente nesta figuração resulta do usos indevidos dos contornos a preto, considerando que a cor deveria ser o branco. Embora identifique a Faculdade, a legenda deveria ser em latim, faltando à tarja o contorno interno;
Fotografia 2 - emblema da Faculdade de Medicina sobre escudete amarelo, contendo elementos antigos como a Cegonha, livros de Medicina e o Bastão de Esculápio. Figuração incompleta e com erros. Na parte superior deste tipo de escudetes à portuguesa deve constar uma estilização da Borla Doutoral na respectiva cor institucional e, em situação de contiguidade, a identificação da Escola em latim. Os contornos foram indevidamente estampados a preto, por imitação da ornamentação praticada pelos estudantes quartanistas nos carros alegóricos da Queima das Fitas. Ao lado, emblema de Curso de Medicina Dentária, contendo os mesmos erros e lacunas do anterior;
Fotografia 3 - emblema produzido para o Curso de Arqueologia, variante da especialidade em História (a Faculdade de Letras). Configuração sobre campo rectangular impróprio e bizarra bordadura em forma de selo postal à base de cores erradas. O selo deveria assentar em escudete azul escuro, contrastado a branco, e não em campo azul claro (cor da Faculdade de Ciências), não sendo aceitáveis os rebordos a castanho e preto. Na parte superior do escudete deveria constar o chapéu doutoral em azul escuro. A esfinge egípcia, apesar de correcta, apresenta desenho tosco. A legenda é insuficiente, omitindo a Faculdade que ministra o curso, e a tarja inexistente;
Fotografia 4 - emblema do Curso de Farmácia, enfermando das mesmas lacunas anteriormente apontadas. O roxo forte contrasta com o branco e não com o preto. A legenda, inscrita em tarja, deveria identificar o Curso e a Faculdade em dizeres latinos. Na parte superior do escudete falta o Chapéu doutoral. No tocante aos adereços de Hygieia, a Serpente enrosca no pilão do almofariz ou taça, sendo a palmeira um falso elemento popular colhido em antigas tabuletas de boticas e vasos cerâmicos usados pelos boticários anteriormente ao advento das farmácias;
Fotografia 5 - emblema adoptado pelos estudantes da Faculdade de Economia após 1974, primeiramente com o Cifrão do Escudo Português, e mais recentemente com o símbolo do Euro. Figuração de difícil descodificação. As cores oficiais, o vermelho e o branco, não são originárias de Coimbra. Terão aparecido pelos finais da década de 1920 no Instituto Superior de Comércio do Porto, donde transitaram em 1953 para a Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Em Coimbra registou-se alguma dificuldade na aprovação da cor oficial, uma vez que tendo a Faculdade de Economia debutado com uma comissão instaladora maioritariamente dominada por docentes da Faculdade de Direito, nela prevalecia uma facção inclinada para a escolha do vermelho tout court. Tal solução não poderia vingar, dado que o vermelho rubi era a cor oficial da Faculdade de Direito. Quando se iniciaram experiências para a estampagem do Selo da Faculdade de Economia, logo se verificou que o vermelho rubi não poderia ser adoptado, pois quando contrastado com o branco, resultava exactamente igual ao Selo da Faculdade de Direito. Assim, no tocante ao Selo e às Insígnias Doutorais, a cor da Faculdade de Economia, influenciada pela experiência prévia da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, é o Vermelho e o Branco, mas em vez do vermelho rubi (privativo da Fac. de Direito), o vermelho de Economia é de tipo carmezim ou bordeaux. Esta solução, de carácter institucional, nunca foi adoptada pelos estudantes, pelo que ao nível de grelos, fitas, cartolas e bengalas, continua a prevalecer incorrectamente o vermelho rubi combinado com o branco. E não se ficam por aqui as incongruências de Economia. O emblema, assente no Cifrão/Euro constitui importação directa de emblema germinado na Faculdade de Economia da UP, havendo fotografias do curso 1956-1961 que já o mostram em campo oval na pasta de uma aluna fitada (Cf. o álbum de António Almodovar, Faculdade de Economia do Porto. 50 anos, Porto, FEUP, 2003, p. 36. Outros elementos transpostos da UP para a Fac. de Economia de Coimbra no após 1974 foram a roseta de lapela e o papillon). A opção conimbricense é ponderosamente duvidosa, tanto mais que o símbolo mais correcto, longamente glosado por associações comerciais e ateneus comerciais, é o deus greco-romano Hermes/Mercúrio e respectivo caduceu. O Cifrão/Euro, parecendo insólito, explica-se. Nos atributos de Mercúrio constavam as sandálias aladas, o capacete alado, o caduceu de mensageiro, um bode, um galo e, na mão, uma bolsinha de moedas, simbolizando a fortuna/riqueza. De resto, são aplicáveis ao escudete deste emblema as demais observações formuladas supra. Quanto à escolha da cor, o escolhido escolhido está, mas o Senado da UC pode e deve prestar atenção às cores consagradas nas universidades históricas do Ocidente. Ora, no caso de Espanha, a cor oficialmente aprovada desde a década de 1940 para os cursos/faculdades de Ciências Políticas, Ciencias Empresariais e Sociologia era o cor-de-laranja! Nesta situação, o escudete à portuguesa deveria ser bipartido, tendo de um lado o branco e, do outro o carmezim, e a encimar a Borla doutoral com as cores misturadas. Os elementos mais correctos a figurar são o caduceu alado de Mercúrio e várias moedas sobrepostas, em cuja face se poderá aceitar a figuração do €. A identificação da Faculdade/Curso faz-se em legenda latina inscrita em tarja;
Fotografia 6 - emblema da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, em escudete sobre campo cor-de-laranja e contornos a preto. A letra PSI, extraída do alfabeto grego, está popularizada no Ocidente como símbolo da Psicologia. As razões da opção institucional conimbricense pelo cor-de-laranja não são muito óbvias. Terá havido alguma influência da então também muito jovem Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto? A diferença de nascimento entre as duas escolas é curta, mas a congénere portuense emergiu primeiro, não se sabendo em que data deliberou a cor entretanto institucionalizada. Em Coimbra, dado que a comissão instaladora da Faculdade de Psicologia surgiu no interior da Faculdade de Letras, seria eventualmente de esperar uma deriva para os terrenos do azul escuro. Alguns dos primeiros lentes do corpo docente de Psicologia, como o Prof. Doutor Joaquim Ferreira Gomes, usaram até borla, capelo e anel em azul escuro (docente da área da História).
A verdade é que a cor escolhida não reflecte as ligações umbilicais à Faculdade de Letras, nem a pragmática espanhola, que identifica Psicologia com o lilás e Ciências da Educação com o "verde Málaga". Segundo nos foi dado apurar, a opção pelo cor-de-laranja baseou-se nas existências prévias de universidades com as quais mantinham ligações científicas membros da comissão instaladora da Faculdade de Psicologia. Algures entre a Suiça de Jean-Piaget e o cor-de-laranja de Psicologia da Universidade Católica de Lovaina se encontarão as sementes da colheita conimbricense. Quanto ao emblema, os contrastes devem fazer-se a branco e não com recurso ao preto das flores dos carros alegóricos da Queima das Fitas. Na parte superior do escudete fenece o chapéu doutoral, e a identificação latina da Faculdade/curso está incompleta.
=/=
* A chancela oficial do AUC é referida pelo menos desde o Decreto de 10 de Junho de 1903, artigo 21º, alínea 7. Em 1929 foi alvo de reforma, segunda proposta do respectivo Director. Aprovada pelo Ministro da Instrução Pública Artur Ivens Ferraz, veio o respectivo desenho publicado na Portaria Nº 6.575, de 9 de Dezembro de 1929. Trata-se de uma chancela oval, de estampagem verde, desenhada sob orientação do Doutor António de Vasconcelos, tendo ao centro a Sapiência entronizada e coroada, rodeada pelos atributos estatutários. A toda a volta da tarja ocorre a legenda latina «Sigillum Tabullarii Universitatis Conimbrigensis".
AMN

CAEREMONIALE CONIMBRIGENSIS
Cerimonial Fúnebre na Alma Mater Studiorum Conimbrigensis
[1]
Por AMN


A inumação de corpos acompanhados de comida, flores, jóias, armas e objectos pessoais é uma prática que remonta à Pré-História. A exumação arqueológica de diversos túmulos de antigas civilizações da orla mediterrânea testemunha e confirma a continuidade destas práticas funerárias ao nível dos altos dignitários monárquicos, eclesiásticos, militares, judiciários e académicos.
Os “enterramentos e exéquias que a Universidade manda fazer”, continuam, no essencial, a reger-se pelo disposto nos “Estatutos da Universidade de Coimbra”, de 1559, e especialmente Título XVI dos “Estatutos Velhos”(1653), homologados no reinado de D. João IV, e ainda pelos usos e costumes de que há memória. Consoante as circunstâncias, cumpre à Reitoria e ao Mestre de Cerimónias solicitar a comissões de colaboradores competentes e conhecedores a reformulação e actualização do Cerimonial Fúnebre.

I - Das Exéquias
Quando na Capela da UC ocorrerem exéquias solenes por morte de Chefe de Estado, antigos Chefes de Estado que foram Protectores da Alma Mater Studiorum, Reitores, Vice-Reitores, Pró-Reitores e Lentes falecidos, os lentes marcam presença em Hábito Talar sem insígnias.
O Magnífico Reitor, ou o seu representante oficial nestes actos, enverga Hábito Talar e luvas pretas, sendo o único a usar Barrete doutoral (casa seja doutorado). Na Capela de S. Miguel do Paço das Escolas senta-se em cadeira de espaldar alto, forrada de verde, aposta do lado do Evangelho, junto ao altar-mor. Ao lado da cátedra reitoral dispõe-se a peanha para a Borla reitoral.
Nos convites oficiais, encabeçados pelo Selo da Alma Mater”, costuma indicar-se “Hábito Talar sem Insígnias”.
Os estudantes fecham as batinas e apertam as capas em sinal de luto, não podendo trazer pastas com fitas soltas, e tomam assento no corpo do templo, para baixo da teia.
Nas bandeiras e estandartes relativos a agremiações das Faculdades, funcionários ou estudantes, são colocados “fumos” negros.
O Coro da Capela e o órgão participam nas exéquias solenes, com reportório musical adequado.
Os lentes doutorados tomam lugar nos doutorais da Capela-Mor por hierarquia de Faculdades, guardando entre si as antiguidades. Os lentes detentores de ordens sacras seculares ou regulares podem comparecer a estes actos em hábito talar eclesiástico, barrete preto quadrangular, ou “capelo romano” e luvas pretas[2].
Altos dignitários, como o Núncio Papal e o Chefe de Estado, ou o Chefe de Estado de país amigo de Portugal, caso estejam presentes, tomam assento junto ao altar-mor, o legado papal do lado esquerdo do altar, e o Chefe de Estado à mão direita do Reitor. A cadeira do Chefe de Estado, sempre de espaldas, tem cabeceira mais alta do que a do Prelado Universitário e tradicionalmente deveria estar enquadrada por um baldaquino.
Os convidados de honra, particularmente os representantes do governo, município, exército, poder judicial, grupos profissionais, Sé Catedral de Coimbra, devem acomodar-se em bancos dispostos no transepto, dentro da teia[3].
No corredor central são instalados um estrado e um cataflaco, e sobre este coloca-se uma eça em câmara ardente[4], rodeada por seis tocheiros. Em cada um dos tocheiros são fixados brasões de Portugal (por chefes de Estado) ou selos da UC (verdes para a Reitoria e suas dependências, na cor de cada Faculdade para as restantes situações). Caso as dependências da Casa Reitoral tenham chancela privativa, como acontece com a Capela de São Miguel e o Arquivo da UC, estas deverão figurar nos tocheiros. Sobre a urna, coberta com a bandeira oficial da Universidade[5], são dispostos retratos ou bustos do(s) homenageado(s). Ao fundo do catafalco fica uma credencia com almofada verde[6], ou na cor de cada uma das Faculdades, e sobre ela exibem-se os barretes doutorais ou as insígnias dos chefes de Estado.
O catafalco é guardado por uma força da Guarda dos Archeiros, em grande uniforme e alabardas com fumos longos[7].
Nas exéquias por Chefe de Estado, acresce à cerimónia religiosa propriamente dita uma Oração Fúnebre[8], proferida na tribuna do transepto por lente convidado. O orador, em hábito talar, deverá ser levado e trazido pelo Secretário Geral e Bedel, conforme os estilos usuais na Sala Grande[9].
Durante a celebração das exéquias solenes por Chefe de Estado, a cadeira, aposta do lado do Evangelho, é coberta com fumo. Caso tenha baldaquino, correm-se os cortinados em sinal de luto.


II – Velórios e Funerais
Por falecimento de Reitor, Vice-Reitor, Pró-Reitor, Chanceler, Director de Faculdade, Decano ou Lentes da Alma Mater, a Reitoria manda dobrar os sinos em sinal de nojo especialmente na véspera da inumação, ao longo do dia do funeral, na hora do saimento e no terceiro dia. Era também costume decretar-se feriado em toda a UC por morte de Chefe de Estado, membros da Casa Real, Reitores e lentes, devendo encerrar todos os serviços públicos e casas de espectáculos no dia do funeral.
A Bandeira oficial da UC fica colocada a meia haste no alto da Torre sobranceira ao Pátio das Escolas Gerais, pelas horas e dias em que durar o luto. O mesmo procedimento ocorrerá com a Bandeira de Portugal por falecimento do Chefe de Estado, uma vez que o Paço das Escolas Gerais tem o estatuto de residência oficial dos Chefes de Estado[10].
Pelas autoridades académicas e membros do corpo docente, todos os sinos da Torre são costumeiramente dobrados a finados ao longo de três dias, com especial destaque para o momento de recebimento da notícia (um sinal), velório e saimento do féretro (dois sinais). Por conveniência de serviço, a Universidade pode determinar que os dobres sejam reduzidos apenas a um dia.

-por Chefe de Estado, é de tradição os sinos dobrarem pelo período de três dias;
-por Chefes de Estado de Países amigos de Portugal, podem ser dados dobres caso a Reitoria assim o determine;
-por Ministro titular da pasta correspondente ao Ensino Superior, idem.

Os ataúdes de antigos Reitores, Reitores Honorários, Reitores, Vice-Reitores, Pró-Reitores, Chanceleres, Directores das Faculdades, Decanos, Lentes falecidos no exercício das suas funções e Lentes Jubilados, costumam ser colocados em câmara ardente no transepto da Capela da UC sobre catafalco rodeado por seis tocheiros.
O catafalco reitoral assenta sobre um estrado de madeira de um só degrau, recoberto com pano preto.
Os tocheiros relativos a exéquias de Chefes de Estado são ornados com as armas nacionais.
A parte superior dos tocheiros relativos às cerimónias reitorais é ornada com figurações do Selo da Alma Mater (impressos em cartões ou telas robustas) na cor oficial da Reitoria e suas dependências, sobre campo preto.
Nos restantes casos, os tocheiros são adornados com o selo na cor de cada uma das Faculdades, sobre campo preto.
Uma vez fechado, o féretro das autoridades académicas e lentes deve ser coberto com a Bandeira oficial da UC, parcialmente ou na totalidade, numa adaptação da antiga disposição que postulava pano preto de seda com cruz branca de cetim.
No caso dos membros do corpo docente, em plano inferior, junto ao fundo do féretro, fica uma almofada, na cor científica da especialidade do falecido, sobre a qual se colocam o respectivo Barrete Doutoral, bem como eventuais condecorações, durante todo o período de duração do velório.
A almofada relativa ao velório de Reitor Honorário, Reitor, Vice-Reitor, Pró-Reitor, Secretário Geral, Administrador, Vice-Presidente dos Serviços de Acção Social Escolar, bem como dos funcionários superiores do quadro afectos à Reitoria e suas dependências, é em veludo verde, com galões e borlas a ouro, tendo em lugar de destaque o Selo da Alma Mater.
Salvo disposição de última vontade, ou decisão dos familiares do falecido, prevalece a regra segundo a qual as autoridades académicas e lentes são veladas em Hábito Talar e respectivas Insígnias (Borla, Capelo e Anel)[11].
Os Reitores e demais membros da equipa reitoral são velados em Hábito Talar, Borla e Anel (caso tenham estas insígnias), mas sem Capelo.
Nos velórios dos restantes funcionários da Alma Mater, junto à urna ou sobre esta, poderão colocar-se as coberturas de cabeça e insígnias correspondentes aos diversos uniformes de gala.
Quando a um mesmo cargo corresponder mais do que uma insígnia (ex: chapéu+bastão; chapéu+espada), estas deverão ser colocadas sobre o ataúde (caso esteja cerrado), ficando as coberturas de cabeça sobre a almofada supra-descrita e os bastões/varas/maças apostas sobre o corpo do morto (alinhamento pelo lado esquerdo do corpo)[12].

Até aos alvores da década de 1920, devido ao facto de os Reitores residirem na Casa Reitoral do Paço das Escolas, os Prelados falecidos em exercício de funções eram amortalhados em presença do Decano e Mestre de Cerimónias, a quem competia noticiar a ocorrência e garantir o translado do féretro para a eça montada na Capela de São Miguel, ali ficando o corpo em câmara ardente com guarda de honra a cargo do Corpo de Archeiros.
Este ritual foi observado pela última vez em 23 de Janeiro de 1921, por ter falecido em exercício de funções na Casa Reitoral o Rector Magnificus Filomeno da Câmara de Melo Cabral. Mas, dado que o culto na Capela fora encerrado em 1910, na sequência da Revolução Republicana, a câmara ardente ficou instalada na Sala do Senado[13].
As usanças acima elencadas são semelhantes ao observado no Ocidente nas exéquias e funerais de chefes de Estado, militares de carreira, clérigos de diversas categorias e altos funcionários de Estado.
Assim:
-nos velórios dos Abades dos Mosteiros, o barrete/chapéu eclesiástico fica sobre almofada aposta aos pés do féretro;
-nos velórios dos monarcas britânicos e de destacadas figuras da casa real, o ataúde é recoberto com o estandarte real, sobre o qual repousam a coroa e o ceptro;
-no caso dos papas, estes são tradicionalmente velados com hábito episcopal correspondente à sua dignidade de bispos de Roma. O báculo de bispo é colocado sobre o corpo. A mitra dourada é assente na cabeça. Nas solenes exéquias papais, arma-se um catafalco coberto de panos pretos, e sobre este dispõe-se uma almofada preta de galões e uma réplica da tiara;
-no caso dos cardeais, tradicionalmente prevaleceu o costume de fazer-se o velório com o chapéu cardinalício (o galero escarlate de borlas) depositado junto aos pés do morto em esquife aberto, conforme documenta uma pintura seiscentista de Francisco de Zurbarán. Com o desuso do galero desde 1969, criou-se o costume de depositar sobre o ataúde o barrete cardinalício escarlate;
-os bispos católicos também costumam ser velados em vestes episcopais, sendo o báculo e a mitra colocados junto ao corpo. Tradicionalmente, o chapéu pontifical verde de borlas e cordões (capelo romano) também era depositado aos pés do amortalhado. Após o fechamento do ataúde, é frequente verem-se sobre a tampa a mitra episcopal ou o barrete eclesiástico. Anteriormente ao século XX, o galero vermelho dos cardeais, o capelo romano verde dos bispos e arcebispos e o capelo preto das restantes dignidades eram suspensos do tecto da catedral ou mosteiro, sobre a arca tumular do falecido. Em espaços dominados pelo cristianismo ortodoxo, como Grécia ou Roménia, os altos dignitários são velados em esquife aberto, com vestes litúrgicas, anel, Bíblia, mitra e báculo;
-para individualidades da hierarquia militar, a espada e o chapéu são colocados sobre a bandeira nacional que recobre o ataúde. Durante o cortejo fúnebre, o chapéu militar costumava ser transportado atrás do féretro por pessoa designada pelos familiares do falecido;
-na tradição italiana, o barrete de juiz (“tocco”) soía colocar-se sobre o ataúde;
-na tradição judiciária portuguesa, os juízes eram velados com beca preta talar, tendo o chapéu judiciário preto aos pés do féretro, e sobre o corpo, do lado esquerdo, a Vara da Justiça;
-em Aix-en-Provence, os juízes eram vestidos e velados em toga de cerimónia (“robe rouge”), rosto descoberto e, a servir de almofada, o «Código de Justiniano»[14].

III – Cortejo Fúnebre/Inumações
Tradicionalmente, os féretros dos Reitores (Vice-Reitores e Pró-Reitores) eram transportados por lentes doutorados em Hábito Talar. A necessidade de adequar os antigos rituais as novas situações implica que o Reitor Honorário seja levado por representantes dos Vice-Reitores e que o Magnífico Reitor seja transportado por representantes dos Vice-Reitores e Pró-Reitores. A organização de turnos constituídos por diferentes entidades parece constituir uma boa solução, sobretudo tendo em conta a presença de familiares do falecido e de representantes de diversas instituições a que tenha pertencido.
No Antigo Regime, os féretros dos lentes doutorados eram levados por lentes da respectiva Faculdade, os dos mestres por mestres, os dos licenciados por licenciados, os dos bacharéis por bacharéis, os dos estudantes por estudantes e os dos funcionários por funcionários.
Ao longo do século XX algumas destas multisseculares tradições foram sendo adaptadas em função de casos concretos. Por exemplo, no funeral do Reitor Doutor Filomeno da Câmara Melo Cabral (último Prelado a falecer no Paço das Escolas) no dia 23 de Janeiro de 1921, o corpo foi amortalhado em Hábito Talar e Insígnias na Reitoria e colocado em câmara ardente na Sala do Senado e não na Capela de São Miguel como era costume. No cortejo fúnebre, realizado entre o Pátio das Escolas e o Cemitério da Conchada, na tarde do dia 24 de Janeiro de 1921, a carreta foi transportada para a Igreja da Sé Velha, e deste templo para o cemitério, por turnos. Coube ao jovem António de Oliveira Salazar, da Faculdade de Direito, levar a chave do sarcófago, tendo transportado a Borla doutoral do falecido Praellatus o Director da Faculdade de Medicina, Doutor Feliciano da Cunha Guimarães. A Oração Fúnebre oficial esteve a cargo do representante da Casa Reitoral, Doutor José Joaquim de Oliveira Guimarães (Reitor Interino), tendo ainda feito intervenções Luís Pereira da Costa e três quintanistas da Faculdade de Medicina.
Outro caso curioso ocorreu no velório do antigo Reitor e lente de Medicina Doutor Daniel de Matos, falecido a 25 de Fevereiro de 1921. O corpo esteve exposto em câmara ardente na teia da Sala dos Capelos e foi velado em casaca branca. As colgaduras das tribunas foram forradas de preto na Sala Grande. O transporte do ataúde esteve unicamente a cargo de estudantes da Faculdade de Medicina. A Universidade deslocou-se in forma praestiti desde o Pátio das Escolas até ao Cemitério da Conchada[15].

Quando algum membro do corpo docente da UC integrar os corpos da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra, devem os irmãos comparecer ao velório, tomando assento no transepto, em traje institucional e insígnias. Os irmãos da SCMC integram o préstito fúnebre no local destinado aos convidados e fazem um turno no transporte do sarcófago, indo na frente o Provedor com traje e vara alçada.

Se o Reitor ou seu(s) representante(s) participar no cortejo fúnebre, e a inumação for regida pelo cerimonial católico, observam-se as seguintes disposições:

-abre o préstito a cruz processional da Capela da UC, conduzida pelo respectivo sacristão. O seu traje tradicional nesta função é uma loba roxa e barrete preto;
-segue-se o Capelão e logo atrás o Coro da Capela;
-o Corpo dos Archeiros e o Guarda-Mor, em uniforme de gala, faz guarda de honra ao ataúde, em duas alas, com as alabardas derribadas;
-dentro de cada Escola, o lente doutorado mais novo da Faculdade a que pertencia o falecido transporta o Barrete Doutoral, em Hábito Talar, com luvas pretas de luto;
-oficial em traje tradicional, transportando ao ombro a Bandeira da UC, com fumos pendentes;
-seguem-se os lentes presentes, em Hábito Talar, sem insígnias, e com luvas de luto, por ordem de antiguidades das Faculdades;
-segue-se o Bedel da Faculdade a que pertencia o lente, em trajo de gala e Maça alçada, com fumos;
-segue-se o Mestre de Cerimónias, em Hábito Talar, com o bastão;
-o Reitor (ou o seu representante) incorpora-se nos velórios e cortejos fúnebres no lugar e com as honras que tradicionalmente lhe são próprias, sendo o único a envergar Borla[16];
-representantes de diversas instituições;
-oficiais;
-estudantes;
-Guarda-Mor.

IV-Estilos relativos ao Reitor
As cerimónias fúnebres relativas ao Magnífico Reitor que falece em exercício de funções seguem um ritual muito próximo do observado no Vaticano. Durante o período de “sede vacante” que ocorre entre o falecimento do Reitor em exercício de funções e a cerimónia solene de investidura do novo Praellatus, a Alma Mater Sudiorum passa a ser representada pelo mais antigo Decanus das Escolas Gerais, podendo este ser coadjuvado pelo Colégio dos Decanos. Este usa como insígnias o seu anel doutoral e a sua Borla na respectiva cor científica, governando o Studium tal como acontece com o camerlengo no Vaticano. Todos os restantes membros da equipa do Reitor falecido cessam automaticamente funções. Por impedimento do Decanus, o cargo será delegado no Vice-Decanus e assim sucessivamente. Só após impossibilidade do último Decanus é que serão chamados os Directores das Faculdades segundo a respectiva hierarquia.
Compete ao Decanus, em articulação com o Mestre de Cerimónias, demais Decanos, Directores das Faculdades e Chanceler, escrever o guião do cerimonial a implementar e enviar os convites para o velório e inumação.
A Capela da UC é devidamente preparada, sendo recoberto o altar-mor com pano preto agaloado e armado o catafalco com os tocheiros. Em cada tocheiro são dispostas estampas de campo preto com o Selo oficial na cor verde. Na Sala dos Actos Grandes e na Capela de São Miguel, a cátedra reitoral é coberta de crepes pretos. De acordo com a tradição, colgaduras pretas deveriam também adornar as tribunas da Sala Grande e janela principal da Casa Reitoral. A Bandeira da UC é colocada a meia haste.
No decurso da cerimónia que antecede a saída do féretro, a cátedra reitoral, colocada junto ao altar-mor, do lado do Evangelho, é ocupada pelo Decanus, mantendo-se o fumo preto até ao final do período de luto. Durante o velório e por todo o tempo em que decorre o cortejo fúnebre, o féretro reitoral é guardado pelo Corpo de Archeiros em grande uniforme. Junto ao fundo do catafalco, coloca-se uma credencia e sobre esta uma almofada verde com a Borla Doutoral ou chapéu correspondente à dignidade profissional do reitor falecido[17], a bandeira da UC dobrada, e uma estrutura de madeira contendo colado o Selo verde da Alma Mater. Deste Selo, preparado pelo Mestre de Cerimónias e Chanceler, pendem fios nas cores das Faculdades, em cujos extremidades estão fixados pequenos selos de cada uma das Escolas do Studium Generale.. O corpo é exposto em Hábito Talar, de rosto descoberto, tendo no dedo o anel doutoral e sobre o peito um exemplar dos Estatutos da Alma Mater.
Decidido o momento de fechamento da urna, o Mestre de Cerimónias vai buscar o Decano, que se posiciona de pé junto à cabeceira da eça, tendo atrás de si os bedéis alinhados em meio círculo. O Director da Faculdade coloca-se aos pés do ataúde, junto do Barrete reitoral, ladeado pelo Chanceler. Todos os membros do corpo docente presentes e convidados se erguem. A um sinal do Mestre de Cerimónias, os archeiros, os bedéis e o guarda-mor apontam as alabardas, varas e maças para o chão, em sinal de pesar. O Chanceler procede então à Quebra do Sigillum Magno, retirando-o da almofada e partindo-o a meio (o suporte de madeira deverá ser previamente golpeado para facilitar a operação).
Após a Quebra do Selo, o Chanceler deposita-o no interior da urna reitoral. A um sinal do Mestre de Cerimónias, o Bedel de Letras aproxima-se do Decano e entrega-lhe momentaneamente a Maça, que este levanta na vertical com as duas mãos, como símbolo da autonomia e soberania da Alma Mater Studiorum. Por seu turno, o Director da Faculdade a que pertencia o Reitor segura o Barrete que se encontrava depositado na almofada. O Mestre de Cerimónias solicita a um familiar do falecido que lhe tape o rosto com um lenço branco.
A urna é finalmente selada em presença do Decanus, Mestre de Cerimónias, e Director da Faculdade a que pertencia o falecido. O Mestre de Cerimónias/Secretário Geral lê em voz alta o Termo de Óbito, documento que deve ser devidamente assinado. Seguidamente, o Decanus entrega a Maça ao bedel da Faculdade de Letras e cobre a urna reitoral com a Bandeira da UC. Por breves momentos, o Director da Faculdade deposita a Borla sobre a urna coberta pela Bandeira, assim como o livro dos Estatutos, e ouve-se de pé a execução do Hino Académico de Coimbra. Findo o Hino, o Mestre de Cerimónias indica ao Director da Faculdade que volte a segurar a Borla, iniciando-se o saimento do féretro.
Os procedimentos descritos são aplicáveis, com as devidas adaptações de circunstância, aos velórios de antigos reitores, bem como de Reitor Honorário, cabendo, nestas situações concretas, a direcção do cerimonial ao Reitor em efectivo exercício de funções.
O Barrete Doutoral de antigo Reitor jubilado, Reitor Honorário e Reitor falecido em exercício de funções não segue o preceito do transporte pelo lente mais novo da respectiva Faculdade. Nestes casos específicos, incumbe ao Director da Faculdade a que pertencia o Praellatus garantir a condução da Borla em Hábito Talar e luvas de luto. Nas restantes situações relativas a outras entidades académicas, os Directores de Faculdade continuam a ser designados em primeiro lugar para o transporte das coberturas de cabeça.
Nos enterramentos dos Reitores, que sigam o ritual católico, o Decano deve convocar a Universidade a formar préstito pelo modo tradicional:

-Cruz da Capela da UC;
-Capelão e Coro;
-urna funerária guardada pelo Corpo dos Archeiros em uniforme de gala e alabardas derribadas;
-Director de Faculdade respectiva, transportando o barrete reitoral;
-Bandeira da UC ao ombro, com longo fumo preto pendente, de arrastar, conduzida por oficial da Casa Reitoral;
-lentes por ordem das Faculdades, em Hábito Talar e luvas de luto (verificada a impossibilidade de formar préstito por Faculdades, os membros do Senado devidamente alinhados poderão colmatar esta lacuna)[18];
-Bedéis em trajo de cerimónia com as Maças de prata das Faculdades e luvas de luto[19];
-Mestre de Cerimónias em Hábito Talar, com bastão e luvas de luto;
-Decanus (sempre que possível ladeado pelos Directores das Faculdades de Letras e Direito);
-dignitários e convidados. Os Reitores e Vice-Reitores de outras universidades portuguesas e estrangeiras são alinhados aos pares, de acordo com a data da fundação da instituição que representam. Critério idêntico deve observar-se relativamente a Presidentes ou Directores de estabelecimentos de ensino superior politécnico;
-funcionários;
-estudantes e presidentes de organismos académicos;
-Guarda Mor das Escolas em traje de gala com vara alçada. Em situações específicas de luto, a Vara do Guarda Mor deverá ser integralmente preta, com 1,70m de altura, tendo na parte superior figuração da Alma Mater.

No saimento dos féretros de dignitários académicos, a carrinha funerária deve aguardar fora da Porta Férra, formando-se préstito fúnebre desde o interior da Capela de São Miguel até à Praça da Porta Férrea. A ordem do préstito fúnebre repete-se fora de portas.

V –Oração Fúnebre
No local da inumação/cremação costuma ocorrer uma Oração Fúnebre:

-a Oração Fúnebre por Reitor jubilado é proferida pelo Magnífico Reitor em efectivo exercício de funções, ou por quem este designar;
-a Oração Fúnebre por Reitor Honorário é proferida pelo Magnífico Reitor em efectivo exercício de funções, ou por quem este designar em sua representação;
-a Oração Fúnebre por Reitor é proferida pelo Decanus das Escolas Gerais;
-a Oração Fúnebre por Vice-Reitores é proferida pelo Director da Faculdade a cujo quadro pertencia o falecido;
-a Oração Fúnebre por Pró-Reitores é proferida pelo Director da Faculdade a cujo quadro pertencia(m) o(s) falecido(s);
-a Oração Fúnebre por lentes é proferida pelo Director da respectiva Faculdade[20], podendo intervir outros oradores a designar pelo protocolo;
-a Oração Fúnebre por funcionário superior do quadro é proferida pelo Presidente da Casa do Pessoal, ou por quem este designar;
-eventual Oração Fúnebre por escolar será proferida pelos seus pares ou representante associativo[21].

VI – Funcionários e Estudantes
Aos funcionários da UC e estudantes falecidos durante o exercício das suas funções ou duração da matrícula, aplicam-se genericamente as mesmas disposições especificadas para o corpo docente.
Nesta situações, o traje é o seguinte:
-para os estudantes Capa e Batina em situação de luto. O sarcófago costuma ser coberto com a Bandeira da AAC;
-para os funcionários administrativos, trajo civil com fumo no braço, ou trajo de cerimónia idêntico ao dos antigos oficiais.

VII – Funerais de Estado
A UC poderá participar oficialmente em funerais de Estado, sempre que para tal seja convidada. Se a UC for representada pelo Reitor, ou seu delegado, a autoridade académica tomará lugar no velório e cortejo fúnebre segundo o Protocolo de Estado.
Se o estadista falecido pertencer ao corpo docente da UC, e houver solicitação da aplicação do cerimonial fúnebre universitário conimbricense, vigoram as normas protocolares tradicionais, não devendo figura alguma estranha à UC interpor-se entre o início e o fim do préstito universitário, seja ele pedestre ou de automóveis. O transporte da Borla Doutoral obedece aos preceitos já enunciados. O Reitor (ou o seu representante) toma posição na rectaguarda do préstito. A Oração Fúnebre é feita pelo Director de Faculdade, Reitor ou Decano, consoante o falecido seja lente, Reitor Jubilado ou Reitor Honorário.
Relativamente ao protocolo a observar nestas situações, sigam-se:

a) em situações de protocolo monárquico, Exéquias (disposições relativas a D. Pedro V, no Diário de Lisboa, Nº 279, Sábado, 7 de Dezembro de 1861; idem, Nº 281, 3ª feira, 10 de Dezembro de 1861), Velório/Cortejo Fúnebre (disposições relativas a D. Pedro V, Diário de Lisboa, Nº 258, 4ª feira, 13 de Novembro de 1861);
b) em situações de protocolo republicano, Hélder de Mendonça e Cunha, Regras do Cerimonial Português, Lisboa, Livraria Bertrand, 1976, pp. 33-35 e 70-71; José Calvet de Magalhães, Manual Diplomático. Direito Diplomático. Prática Diplomática, 5ª edição, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2005, pp. 179-181 (Exéquias do Presidente da República e falecimento de Chefes de Estado Estrangeiros).

VIII – A «Chamada dos Mortos»
À margem do protocolo universitário institucional, os antigos estudantes da UC passaram a promover Reuniões de Curso e encontros de antigos estudantes, intensificados no decurso do século XX. Um dos pontos do programa das Reuniões de Curso costuma ser a missa católica na Capela de São Miguel do Paço das Escolas, celebrada em memória de colegas de curso falecidos.
O ritual referido poderá ainda ocorrer por iniciativa da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, a propósito da dinamização de iniciativas como o "Dia do Antigo Estudante de Coimbra".
Embora se trate de um ritual religioso católico, a homenagem aos colegas de curso costuma congregar unanimismo entre a maioria dos participantes. Nestes casos, são aplicáveis os procedimentos protocolares e fúnebres descritos para as restantes situações da vida académica.
Em vez da tradicional Oração Fúnebre tout court (que também poderá realizar-se), um membro do curso/comissão organizadora sobe à tribuna do transepto, levando a sua capa e o rol de nomes a invocar na pasta com as fitas. Em pé, o porta-voz do curso procede à chamada nominal, em voz alta, de todos os colegas falecidos e pede aos presentes a observância de um minuto de silêncio.

Nos usos e costumes ligados a escolares e antigos estudantes da Alma Mater, merecem destaque: 1) desfile da Bandeira da Associação Académica de Coimbra (AAC), envolta em fumos longos, em princípio transportada ao ombro pelo Presidente da instituição; 3) cobertura do sarcófago com a Bandeira da AAC, sendo de aceitar a exibição, em local de destaque, da capa e pasta com fitas do falecido; 3) eventual momento musical assente em peça instrumental, ou instrumental e vocal, do repertório da Canção de Coimbra, nomeadamente nos momentos que antecedem o saimento do féretro e a inumação.


IX – Documentos
BASTO, Artur de Magalhães – “Na Morte de um Rei”, in Revista de Estudos Históricos, edição on line no endereço http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/artigo4331.doc (Quebra dos Escudos na Cidade do Porto, em 1707, por morte do Rei D. Pedro II).
CAEREMONIALE EPISCOPORUM, 1752, verão francesa, http://www.ceremoniaire.net/office_divin/caer_esp_1/-40k.
CASTRO, Aníbal Pinto de (apresentação) – Estatutos da Universidade de Coimbra (1653), Coimbra, Por Ordem da Universidade, 1987.
CATROGA, Fernando – O Céu da Memória: Cemitério Romântico e Culto Cívico dos Mortos, Coimbra, Minerva, 1998.
Compremisso da Irmandade da Casa da Sancta Misericórdia da Cidade de Lisboa, Lisboa, Impresso por António Alvarez, Anno de 1600.
Compromisso da Misericórdia do Porto, Coimbra, No Real Collegio das Artes da Companhia de Jesvs, Anno de 1717.
CUNHA, D. Hélder de Mendonça e – Regras do Cerimonial Português, Lisboa, Bertrand, 1976 (informação sobre exéquias relativas aos Chefes de Estado e apontamento sobre o cortejo fúnebre do Presidente Óscar Carmona).
Exéquias solenes por morte de D. Pedro V, na Cidade do Porto, in Diário de Lisboa, Nº 289, 19 de Dezembro de 1861.
“Illustração Portugueza”, Nº 105, 24 de Fevereiro de 1907 (reportagem de Benoliel sobre o cerimonial fúnebre do Rei D. Carlos e Príncipe D. Luís Filipe).
MAGALHÃES, José Calvet – Manual Diplomático. Direito Diplomático, 5ª edição, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2005 (referências ligeiras às usanças protocolares nas exéquias e cerimoniais fúnebres por Chefe de Estado).
LEITE, Serafim – Estatutos da Universidade de Coimbra (1559), Coimbra, Por Ordem da Universidade, 1963 (protocolo para as exéquias de D. João III na Igreja do Mosteiro de Santa Cruz, p. 25; exéquias na Capela de São Miguel, p. 32).
MATEUS, João Mascarenhas (e outros) – Baixa Pombalina. 250 aos em imagens. 250 years of images, Lisboa, Edição da Câmara Municipal de Lisboa, 2004 (passagem do funeral de Sidónio Pais no Terreiro do Paço, com vista de lentes de Coimbra em hábito talar e insígnias).
Programma [para o velório e inumação do Infante D. Fernando], in Diário de Lisboa, Nº 253, 5ª feira, 7 de Novembro de 1861.
Programma [para o velório e inumação do Rei D. Pedro V], in Diário de Lisboa, Nº 258, 4ª feira, 13 de Novembro de 1861.
Programma para a Quebra dos Escudos [por morte do Rei D. Pedro V, em Elvas], in Diário de Lisboa, Nº 283, 5ª feira, 12 de Dezembro de 1861.
Programma para a Quebra dos Escudos [por morte do Rei D. Pedro V, na cidade do Porto], in Diário de Lisboa, Nº 282, 4ª feira, 11 de Dezembro de 1861, pp. 3175-3176.
RACINET, Albert – Histoire du Costume, Paris, Booking International, 1991 (1ª edição de 1888).
Relato da Cerimónia da Quebra dos Escudos por morte de D. Pedro V, na Cidade do Porto, in Diário de Lisboa, Nº 282, 4ª feira, 11 de Dezembro de 1861, p. 3175-3175.
Relato do funeral do Prof. Doutor Sousa Gomes, falecido em Coimbra, no dia 9 de Julho de 1911, jornal O Século, edição de 10 de Julho de 1911, p. 5.
Relato do velório e funeral do Prof. Doutor António dos Santos Viegas, in Gazeta de Coimbra, Nº 311, 4ª feira, edição de 15 de Julho de 1914.
Relato do funeral de D. João de Alarcão, político, diplomata e antigo Reitor, falecido a 12 de Setembro de 1918. Gazeta de Coimbra, edição de 14 de Setembro de 1918 e Nº 763, 3ª feira, 17 de Setembro de 1918.
Relato da Missa realizada na Capela de São Miguel, no dia 19/12/1918, na sequência do assassinato do Presidente Sidónio Pais, Gazeta de Coimbra, Nº 802, Sábado, edição de 21 de Dezembro de 1918.
Relato dos funerais de Sidónio Pais e identificação dos lentes da UC e da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa que integraram o cortejo, Gazeta de Coimbra, Nº 803, 3ª feira, 24 de Dezembro de 1918.
Relato das exéquias do lente Bernardo Albuquerque e Amaral, Gazeta de Coimbra, Nº 830, Sábado, 1 de Março de 1919.
Relato do funeral do lente jubilado da FDUC, Manuel Chaves e Castro, no dia 15/04/1919, Gazeta de Coimbra, Nº 849, 5ª feira, 17 de Abril de 1919.
Relato do velório e funeral do Magnífico Reitor, Doutor Filomeno Melo Cabral. Gazeta de Coimbra, Nº 1109, 3ª feira, 25 de Janeiro de 1921.
Relato do velório e funeral do Doutor Daniel de Matos, antigo Reitor, Gazeta de Coimbra, Nº 1123, 3ª feira, 1 de Março de 1921.
Reportagem fotográfica do cortejo fúnebre de Sidónio Pais na revista “Ilustração Portuguesa”, II Série, Nº 671, edição de 30 de Dezembro de 1918.
RODRIGUES, Manuel Augusto – A Universidade de Coimbra e os seus Reitores. Para uma História da Instituição, Coimbra, AUC, 1990.
Solemnes Exéquias com que o Corpo Cathedratico da Universidade de Coimbra sufragou a alma do sempre chorado monarcha, El- Rei o Senhor D. Pedro V, in Diário de Lisboa, Nº 290, 6ª feira, 20 de Dezembro de 1861, pp. 5224-5225.
TAVARES, Emília (coordenação) – Joshua Benoliel. 1873-1932. Repórter fotográfico, Lisboa, Edição da Câmara Municipal de Lisboa, 2005 (fotografias do velório e cortejo fúnebre do Rei D. Carlos I e Príncipe D. Luís Filipe).
THE Funeral Effiges of Westminster Abbey, London, Edited by Anthony Hervey and Richard Mortimer/The Boydell Press, 1994.
VASCONCELOS, António Garcia Ribeiro de – A Real Capela da Universidade de Coimbra (Alguns apontamentos e notas para a sua história), Coimbra, 1908, reedição do AUC/Livraria Minerva, Coimbra, 1991.
WINTLE, W. J. – “How the Pop eis elected. A popular account of the Conclave at Rome”, in London Magazine, June, 1903, http://secrets.hiddden-knowledge.com/rec/papacy/election19031.html.

X - ANOTAÇÕES
[1] Embora aproveitando informes recolhidos na segunda metade da década de 1980 e notas soltas, pode dizer-se que este artigo só ganhou corpo após a leitura do artigo do Prof. Doutor Armando Luís de Carvalho Homem, “O Cerimonial Fúnebre Académico. Apontamentos e Interrogações”, Blog «Guitarra de Coimbra», edição de 22 de Janeiro de 2007, http://guitarradecoimbra.blogspot.com/.
Foram decisivos na construção deste texto os testemunhos do Dr. José Carlos Luzio Vaz (Secretário Geral e Mestre de Cerimónias da UC, em 26 de Julho de 2007) e da Prof. Doutora Maria Helena da Rocha Pereira (em 13 de Julho de 2007). O primeiro testemunhante permitiu-nos colmatar lacunas e recordou diversos momentos fúnebres na UC, nomeadamente a última grande saída em préstito solene, no funeral do Prof. Doutor Carlos Mota Pinto (1985). A última, considerada unanimemente um dos mais sapientes repositórios vivos em termos de cerimonial conimbricense, aflorou raridades tombadas no esquecimento e recordou a participação oficial da UC no funeral de Oliveira Salazar (1970).
Não se conhece pragmática escrita do cerimonial fúnebre conimbricense para os séculos XIX e XX, pelo que algumas lacunas mais árduas foram supridas em função de elementos colhidos em relatos orais, observações directas (do signatário do texto), informações reportadas pela imprensa periódica e literatura europeia comparada. Recordando aqui, a "lição" propalada pelos melhores especialistas, as melhores minutas protocolares são aquelas que, guardando o essencial do seu corpus, consagram estruturas flexíveis, adaptando-se aos desafios de cada situação concreta.
[2] Anteriormente ao século XVIII, estudantes e lentes cobriam as cabeças durante as cerimónias fúnebres com o chapéu de alguidar, um chapeirão preto de feltro, com copa semicircular e aba larga. A toda a volta da copa eram atadas longas faixas de pano preto (“fumos”), semelhantes a écharpes, que se traziam com as pontas pendentes até à cintura e meia perna. Os estudantes de condição económica modesta envergavam carapuças e gorras de dó, em baeta preta. Os “fumos” de tipo braçadeira só apareceram na Primeira República, quando os hábitos docentes e estudantis haviam perdido carácter de obrigatoriedade. Admitindo eventual anterioridade, assinale-se a referência aos “fumos”-braçadeiras no funeral do Doutor Daniel de Matos (Fev. de 1921) em docentes do Liceu de Coimbra, alunos da Escola de Agricultura, docentes da Escola Normal e funcionários dos Hospitais da UC. As luvas de luto são obrigatoriamente pretas para escolares, lentes e funcionários da UC.
[3] Era costume forrar os bancos corridos da Capela de São Miguel de preto.
[4] Até finais do século XIX a eça era disposta no transepto e não no corredor central do templo.
[5] Tradicionalmente, a eça era coberta com um pano preto, no meio do qual se cosia uma cruz branca de pano de cetim.
[6] Tradicionalmente em veludo preto, com as costuras guarnecidas de galões dourados e quatro borlas douradas pendentes dos cantos.
[7] Nas cerimónias fúnebres do Papa João Paulo II (2005) viam-se os membros da Guarda Pontifical Suiça com as alabardas levantadas. Os camaristas que transportavam o sarcófago exibiam casaca cinzenta e luvas brancas. Nas fotografias do cortejo fúnebre do Rei D. Carlos I e Príncipe D. Luís Filipe, a Guarda Real dos Archeiros levava as alabardas derribadas (cf. “Illustração Portugueza”, Nº 105, 24 de Fevereiro de 1908). Segundo o protocolo da UC, Casa Real Portuguesa e Casa Real Britânica, remontante ao século XVI, o velório podia ser feito com as alabardas alçadas, mas a guarda de honra que acompanhava o féretro até ao local da inumação fazia-se com as alabardas derribadas. E tal tradição tem sido mantida, pois nas fotografias do funeral do antigo lente António de Oliveira Salazar (1970), os archeiros da UC ladeiam o sarcófago, no Vimieiro, em grande uniforme, com as extremidades das alabardas apontadas ao solo.
[8] Tradicionalmente havia duas Orações Fúnebres na Capela de São Miguel. A primeira era recitada de tarde, após as vésperas, numa tribuna armada junto à base do púlpito. A segunda, proferida após a missa de corpo presente, tinha obrigatoriamente lugar no púlpito.
[9] Em períodos mais recuados, a expressão de luto pesado implicava que lentes, oficiais e estudantes trouxessem as capas do avesso e carapuças de dó. Estas carapuças, ou gorras, apenas usadas pelos estudantes pobres das universidades de Portugal e de Espanha, ou nos períodos de luto cerrado, vingariam na UC, a tal ponto que suplantaram os antigos chapéus de alguidar e os barretes redondos e de cantos.
[10] Sobre as regras de içamento e arriamento da Bandeira de Portugal, cf. Hélder de Mendonça e Cunha, Regras do Cerimonial Português, Lisboa, Bertrand, 1976, p. 89.
[11] Daí, também, não haver na UC tradição de se guardarem, para efeitos de musealização, hábitos talares ou insígnias. São, contudo, conhecidas as insígnias doutorais da Faculdade de Cânones, ofertadas por um lente oitocentista à imagem de São Ivo de Tréguier, existente na Igreja do Colégio do Carmo, Coimbra.
[12] Tradição ainda mantida nos velórios dos papas romanos, bispos ocidentais, bispos e patriarcas orientais. O procedimento é idêntico à exposição do bastão real (salvo quando disposto em almofada), vara da justiça, vara de vereador, vara de provedor, etc..
[13] Relato circunstanciado em “faleceu o Doutor Filomeno da Câmara Melo Cabral, na madrugada de ante-ontem”, in Gazeta de Coimbra, Nº 1109, 3ª feira, 25/01/1921, p. 1.
[14] Alberto Sousa Lamy, Advogados e Juízes na literatura e na sabedoria popular, Tomo I, Lisboa, Edição da Ordem dos Advogados, 2001, p. 137.
[15] Cf. Gazeta de Coimbra, Nº 1123, 3ª feira, 01/03/1921, p. 1.
[16] Em épocas mais recuadas, as Insígnias Doutorais foram usadas em velórios e cortejos fúnebres, havendo o costume de levar-se o barrete na mão e o capuz do capelo deitado pela cabeça. Noutras situações, ainda, recorria-se a abeiros de feltro, carapuças de luto e mantéus guarnecidos de capelos e capuzes pretos. O uso de Borla e Capelo em préstitos fúnebres ocorreu pela derradeira vez em 21 de Dezembro de 1918, quando o Reitor e diversos lentes se deslocaram ao funeral do Presidente da República Sidónio Pais [doutor pela Fac. de Ciências], em Lisboa: Mendes dos Remédios, Oliveira Guimarães, Guilherme Moreira, Álvaro Vilela, José Alberto dos Reis, Caeiro da Mata, Pinto Coelho, Lobo d’Ávila Lima, Carneiro Pacheco, Magalhães Colaço, Filomeno da Câmara, Álvaro Basto, Teixeira Bastos, Costa Lobo, Luciano Pereira da Silva, Ferraz de Carvalho, Eusébio Tamagnini, Francisco Nazaré e Fernandes Costa. Pela Universidade de Lisboa estavam Queirós Veloso (não tinha insígnias), Emídio da Silva, Rocha Saraiva e todos os docentes da FDUL. A meio da Rua Augusta houve tiroteio e agressões físicas. Mendes dos Remédios e Magalhães Colaço ficaram com as capas rasgadas. O capelo de Rocha Saraiva também sofreu um rasgão. Visualizem-se fotografias do cortejo fúnebre na revista “Ilustração Portuguesa”, edição de 30 de Dezembro de 1918, e no catálogo Baixa Pombalina. 250 anos em imagens, Lisboa, Edição da Câmara Municipal de Lisboa, 2004. Relato circunstanciado, com o título “Luto Nacional”, Gazeta de Coimbra, Nº 803, 24/12/1918. Referência ao assunto ao Luís Reis Torgal, “Quid Petis? Os Doutoramentos na Universidade de Coimbra”, in Revista de História das Ideias, Nº 15, 1993, p. 239. Este autor põe em dúvida que os lentes de Borla e Capelo sejam de Coimbra, mas os relatos do funeral confirmam a presença de doutores de Coimbra e também de membros do corpo docente da jovem Faculdade de Direito da ULisboa (alguns dos quais detentores de Borla e Capelo).
[17] Nem todos os reitores falecidos na Casa Reitoral ou velados no Paço das Escolas Gerais eram lentes da Alma Mater. Outros não eram doutorados pela UC, pelo que não possuíam barrete doutoral conimbricense. Por exemplo, o Reitor Visconde de Vila Maior, falecido na Casa Reitoral em 20/10/1884, era bacharel pela Fac. de Matemática. Quando foi nomeado Reitor, no ano de 1869, pertencia ao corpo docente da Escola Politécnica de Lisboa, pelo que o seu uniforme de gala era o dessa Escola: a casaca azul bordada, com bicórnico e espada. É aliás, com tal uniforme que Júlio Pimentel se acha retratado na galeria reitorial, sendo plausível que no velório o bicórnio militar tenha estado ao fundo do féretro. Para os períodos da Monarquia e Primeira República poderíamos citar reitores que, apesar de não terem falecido no Paço das Escolas, eram monges regulares, bispos, conselheiros de Estado, não portadores do grau de doutor, bem como juízes, advogados e até lentes do quadro de outras instituições de ensino superior.
[18] No funeral de Oliveira Salazar (Julho de 1970), a Vice-Reitora, Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, foi precedida pelos membros do Senado em Hábito Talar, dispostos em fila indiana.
[19] A participação do Reitor em cerimónia oficial ou préstito intra e extra-muros, ou de Decano, Vice-Reitor ou Director de Faculdade em quem este delegue momentaneamente a representação da Alma Mater Studiorum, implica obrigatoriamente a presença de pelo menos um Bedel com Maça alçada, representando esta (s) a soberania da Alma Mater e a dignidade e independência da função reitoral. A escolha poderá incidir apenas no Bedel da Faculdade de Letras, dada a sua primazia hierárquica.
[20] Sirva de exemplo a Oração Fúnebre proferida pelo Prof. Doutor Afonso Queiró [Director da Faculdade de Direito e Chanceler da UC] no Cemitério do Vimieiro, Santa Comba Dão, no momento que antecedeu o enterramento de António de Oliveira Salazar (1970).
[21] Costumando cobrir-se o sarcófago com a Bandeira da Associação Académica de Coimbra, uso por vezes tornado extensivo a funcionários daquela instituição. A Academia de Coimbra nem sempre protagonizou atitudes fáceis nos funerais. Por exemplo, em 1923, criou momentos de grande tensão no saimento do sarcófago de Guerra Junqueiro ao exigir o monopólio do transporte do féretro. Em determinadas situações, as crispações podem resultar de dissídios intestinos. Assim aconteceu no dia 24 de Fevereiro de 1987, quando facções antagónicas da Academia se deslocaram ao funeral do antigo estudante José Afonso, em Setúbal. Uma facção fez-se representar de Capa e Batina, vendo-se no cortejo bandeiras de algumas agremiações. Outra facção, orgulhosamente considerada “anti-reaccionária”, mandou estampar emblemas da AAC em pólos pretos e com as ditas camisolas compareceu nos funerais de José Afonso.

Cortejo fúnebre de D. Carlos e Príncipe D. Luís (1908)


Funerais de Estado do Presidente Sidónio Pais
No dia 21 de Dezembro de 1918 deslocaram-se a Lisboa e integraram o cortejo fúnebre do Presidente da República Sidónio Pais o Reitor Mendes dos Remédios, lentes de diversas Faculdades revestidos de Hábito Talar e Insígnias Doutorais, o Presidente da AAC (Guilherme Moreira «Filho») e estudantes em representação de todas as Faculdades e Escolas Normal Superior e de Farmácia.
Da Faculdade de Ciências, a cujo corpo docente pertenceraa Sidónio Pais, compareceram lentes com insígnias em branco e azul claro (antiga Faculdade de Matemática, agora secção autónoma da FC), e em azul celeste (nova cor institucional, implementada a partir de 1916), tudo levando a crer que lentes mais antigos, provenientes da extinta Faculdade de Philosophia Natural, ainda manteriam as insígnias em azul ferrete, cor agora institucionalizada pela Faculdade de Letras.
Outras instituições conimbricenses se fizeram representar nestes funerais, havendo notícia de delegações da Câmara Municipal e da Associação Comercial.
Em Lisboa, o docente Queirós Veloso e todos os membros do corpo docente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa juntaram-se à deputação académica de Coimbra, com destaque para Fernando Emídio da Silva e Rocha Saraiva que se tinham doutorado em Coimbra no ano de 1911 e em 1915 haviam comprado em manufacturas de Coimbra insígnias doutorais.
Este atribulado cortejo fúnebre, marcado por tiros, agressões físicas e rasgões de capas e capelos na Rua Augusta, serviu para a Universidade de Coimbra se mostrar institucionalmente extra-muros após a Revolução de 1910, já com o Hábito Talar reformado.
Reportagem da "Ilustração Portuguesa", II Série, Nº 671, de 30 de Dezembro de 1918.



Funerais da Rainha Elizabeth I, Londres, 1603

domingo, 4 de novembro de 2007



Exéquias papais

Representação de um cortejo papal fúnebre, vendo-se o alinhamento das carruagens, o esquife mortuário e os cardeais romanos com capelos deitados pela cabeça e sobre estes os galeros.


Cerimónias fúnebres (1)
O corpo do Patriarca Teoctist da Roménia: vestes litúrgicas, Bíblia, Mitra, Báculo ortodoxo e anel.

Cerimónias fúnebres (2)
Velório do corpo do Patriarca Teoctist da Roménia. Visíveis uma Sagrada Escritura com encadernação de luxo, as vestes litúrgicas e a mitra oriental.


Cerimónias fúnebres (3)
Saimento do féretro do Patriarca Ortodoxo Teoctist da Roménia, em 3 de Agosto de 2007. Transporte em esquife aberto, aos ombros de diversos membros do clero com as cabeças cobertas.
[fotografias extraídas do endereço http://bastrix.wordpress.com/2007/08/03/]