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sábado, 30 de janeiro de 2010

Vida em Pádua


Cerimónia de entrega de diplomas a alunos formados em 2007 pela Faculdade de Engenharia da Univ. de Pádua. No caso vertente, os docentes do curso de Engenharia Infomática comparecem em toga talar no auditório da faculdade, constituem uma mesa, chamam nominalmente os formandos, entregam-lhes um certificado de conclusão do curso e selam o acto com um convencional aperto de mão (proclamazione).
A entrega de diplomas de formatura não é uma tradição das universidades históricas, radicando antes em eventos promovidos desde do século XIX por liceus, escolas politécnicas e instituições que publicamente expremiam vontade de certificar feitos ou celebrar méritos.
Nas universidades históricas, o acto de formatura de bacharéis e licenciados era uma cerimónia de solenidade relativamente comedida ("actus parvus), circunscrita à faculdade outorgante, por contraposição aos actos grandes que envolviam todo o studium generale. Ainda assim tratava-se de uma solenidade que implicava a colação de um grau, o que é radicalmente distinto do simples acto administrativo de entrega de um certificado.
O ateneu de Pádua percebeu o essencial dos novos desafios que se colocam às universidades. A sua sobrevivência depende cada vez mais da capacidade de gestão eficiente dos recursos disponíveis, da gestão estratégica das carteiras de potenciais clientes e até mesmo da sua fidelização, da exponenciação da respectiva produção científico-cultural e do modo como criam, implementam e gerem a imagem da instituição e as expetactivas dos clientes.
Há quem entenda que isto se deve fazer com recurso à apropriação da graduation ceremony norte-americana e respectiva "cap and gown". Outros há que não pereceberam que não podem continuar a não fazer nada. Outros ainda começam a tentar fazer alguma coisa que não sendo a revitalização da colação do grau acaba por ser uma festa de entrega de diplomas. É o que está a acontecer em Pádua e em algumas universidades espanholas e portuguesas. O impacto público e os efeitos emocionais deste tipo de eventos ainda não foi estudado nem avaliado. Finalmente, outros sugerem que se deve reactualizar a cerimónia de colação do grau (formatura) como marca identitária forte e distintiva.

Inaugurazioni 2006: o "rettore magnifico" num momento descontraído com elementos da confraria goliarda


Inaugurazioni 2006: representação da goliardia estudantil


Inaugurazioni 2006: o reitor Vicenzo Milanesi


O "rettore magnifico" e diversos lentes na cerimónia de abertura solene do ano académico, Pádua, 6.03.2006


Atribuição do grau de doutor honoris causa a Mario Draghi em Ciência Estatística, 18.12.2009

O "rettore" de Pádua com Theodor Berchem, investido doutor honoris causa em Letras no dia 20.11.2007

Cerimónia de atribuição da laurea doutoral na Universidade de Pádua, em 25.06.2004. Acompanham o "rettore magnifico" Vicenzo Milanesi (com murça castanha) Vittorio Labacchi (honoris em Engenharia Mecânica) e Lelio Orci (honoris em Medicina e Cirurgia).
Membro do Coimbra Group, a Univ. de Pádua festejou em 2006 os seus 784 anos de existência.

Vida em Pavia


Cerimónia de "inaugurazzione dell'anno accademico" em 26.01.2009

Exibição do diploma. A crescente afirmação da comunicação social, a importância atribuída à mediatização e o prestígio de cerimónias de entrega de prémios a actores cinematográficos e atletas levou algumas universidades a enfatizar o momento da entrega do diploma ao laureado, mesmo quando a tradição cerimonialística realizava separadamente o acto de investidura e o momento da entrega da carta. Por exemplo, em Coimbra as cartas de curso não eram entregues no acto de investidura, sendo levantadas ulteriormente nos respectivos serviços administrativos. E uma vez levantadas, o que se exibia e tinha efectivo impacto no imaginário português era o invólucro de latão, conhecedo na gíria por "canudo". Ainda hoje assim é para as cartas de licenciado e mestre, cujas formalidades de chancelaria se atrasam significamente em relação aos dias de realização dos actos de formatura, actos esses que continuam a ser meros procedimentos administrativos.
O que é facto é que na actualidade a maior parte das universidades norte-americanas, inglesas e italianas simulam entregar o diploma na hora, distribuindo papeis enrolados numa fita. Claro está que estes diplomas estão em branco, vendo-se logo pelo tipo de papel e fitilho barato que não podem ser documentos autênticos, sendo utilizados apenas para efeitos da realização de fotografias e filmagens. Na cultura académica conimbricense, voltar-se para o público no fim da cerimónia e exibir o diploma seria considerado um barbarismo e um acto de extrema grosseria. Resta saber até que ponto esta moda internacional da exibição de diplomas no final de actos académicos não reflecte o mediatismo de certos concursos televisivos cujos concorrentes vencedores exibem ruidosamente chaves de viaturas e cheques do tamanho de cartolinas.


Momento da imposição do barrete, tradição medieval mantida em algumas universidades de Itália, Espanha, Brasil, e Universidade de Coimbra. Nas universidades fundadas no século XX regista-se uma tendência generalizada para o abandono das coberturas de cabeça, o que implica que o rito de investidura se centre nas mãos e nos ombros dos homenageados.
Pavia, fundada em 1361, é membro do Coimbra Group.

A "lectio" (lição) proferida pelo laureado

Um aspecto do paraninfo

Cerimónia de conferimento da laurea honoris causa em Música a Sir Jonh Eliot Gardiner pela Facoltà di Musicologia da Università degli Studi di Pavia em 18.10.2006.
Um aspecto do cortejo de entrada no Teatro Ponchielli di Cremona.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Doutoramentos à americana em Poitiers

Foto e artigo do "La Nouvelle République", de 18.12.2009

«Jean-Pierre Gesson, le président de l’université, lors de la remise du diplôme à un jeune docteur
Pour la première fois, l’université de Poitiers a organisé une cérémonie de remise de diplôme. Pas n’importe lequel : le plus haut grade délivré en France.
Docteur. Le diplôme nécessite, sur le papier, huit années d’étude. Cinq ans pour aller jusqu’au master recherche et trois pour préparer la thèse. De nombreux doctorants ajoutent une quatrième année, quelques uns vont au-delà. Ce qui représente entre neuf et dix ans d’études après le baccalauréat pour obtenir le plus haut grade de l’enseignement supérieur en France mais également à l’étranger. Et personne n’en parle ! Contrairement aux grandes écoles qui montent des plans de communication aux côtés de partenaires privés, qui deviennent souvent les futurs employeurs des étudiants.
“ Il s’agit là d’une cérémonieen cours d’invention… ”
Mardi soir, l’université de Poitiers a décidé de rompre le silence en organisant la première cérémonie de son histoire de remise des diplômes de doctorat. « Il s’agit là d’une cérémonie qui est en cours d’invention dans les universités françaises, née d’une légitime fierté » a souligné Jean-Pierre Gesson, son président. Une cérémonie imprégnée de la tradition universitaire où les professeurs, habillés de leur toge, ont donné le côté solennel à cette soirée. Dans un amphithéâtre de l’hôtel Aubaret, les quelque 80 docteurs sur les 200 diplômés de l’université de Poitiers sont venus à l’appel de leur nom pour recevoir l’écharpe aux quatre couleurs marquant leur appartenance à leur discipline, la médaille frappée à l’effigie de Maurice Claveurier, plus d’une dizaine de fois élu maire entre 1424 et 1446 – c’est grâce à son influence politique, que Poitiers doit la fondation, en 1431, d’une université complète avec cinq facultés – et un vrai diplôme de docteur. La fête s’est déroulée sous le haut parrainage de Jean Frêne, professeur émérite à l’université de Poitiers, au parcours exceptionnel. Bernard Kokoh, directeur du collège des huit écoles doctorales de l’université de Poitiers et de l’ENSMA, a, lui, été le chef d’orchestre de cette première dont le message consistait à valoriser le plus haut grade de l’université. Un diplôme qui ne sert pas uniquement à enseigner dans le supérieur mais également à s’insérer dans la vie des entreprises à un haut niveau. « Plus de 85 % des diplômés ont un emploi dont 25 % dans le secteur privé », a conclu Bernard Kokoh.»

Primeira cerimónia pósmoderna de entrega de diplomas a doutorados pela Universidade de Poitiers. A iniciativa foi levada a cabo pela reitoria e Faculté de Droit et Sciences Sociales no dia 15 de Dezembro de 2009. O local escolhido foi o anfiteatro do Hotel Carbonnier, onde se procedeu à imposição de uma "écharp" na cor do curso e à entrega de diplomas enrolados e medalhas. A encenação é um misto de graduation ceremony das universidas dos EUA (tipo de toga, barrete e diploma) e das universidades australianas (estola de cetim, há alguns anos também foi adoptada na Universidade de Bona).
A Universidade de Poitiers, membro do Coimbra Group, passa a ter duas tipologias de doutoramento: a entrega de diplomas a turmas/grupos conforme o modelo globalizado da graduation ceremony norte-americana; o doutormento honoris causa, em que o juri e os laureados continuam a envergar a "toge" talar francesa.
A Univ. de Poitiers distribui-se entre a cidade velha (Fac. Sciences Humanines/Hotel Fumé) e o imenso campus onde estão concentradas diversas faculdades, residências universitárias, cantinas e biblioteca. Fundada na Idade Média, à semelhança das restantes universidades francesas abandonou a parte mais substancial do património simbólico em 1789 e em 1968. Na primeira metade da década de 1990 a reabertura solene das aulas tinha sido retomada e certas franjas estudantis davam sinais de retorno à "faluche" de veludo preto e aos festejos anuais promovidos pela confraria goliarda "Les Bitards".
O que agora se vê, num país marcado pelo abolicismo e pela veemência da discursividade anti-americana é não propriamente a revitalização reflectida do cerimonial universitário francês mas sim a vulgarização do conceito de curso como mercadoria cuja qualidade o mercado empregador supostamente poderia aferir em função do impacto visual do "embrulho". No limite, se o mercado global é dominado pelo capitalismo norte-americano, então nada melhor do que produzir nas universidades e politécnicos da Europa cursos embrulhadas na imagem de marca das universidades norte-americanas. Em que ficamos, cerimonial ou marketing institucional estrategicamente concebido para seduzir potenciais clientes?
Fonte: galeria de fotos e texto apud http://www.univ-poitiers.fr/

Cerimónia de doutoramento de estudantes na Universidade germânica de Altdorf. Gravura de 1725 realizada por Johann Puschner

Vida na Tartu

Anne Buttimer recebe o grau de doutora honoris causa pela Univ. de Tartu em Dezembro de 2004


Representantes dos órgãos de direcção da Univ. de Tartu


Estudantes da Univ. de Tartu com bonés, faixas e bandeiras durante as festividades académicas da Primeira, que anualmente ocorrem entre finais de Abril e inícios de Maio. As festividades de encerramento do ano escolar estão bastante enraizadas em algumas universidades da Alemanha, Estónia e Finlândia.

Estudantes da Univ. de Tartu durante um cortejo de archotes

Jubileu de 1852
A Tartu Ulikool (Universitas Tartuensis), é uma instituição de ensino superior da Estónia, fundada em 1632. Pertence ao Grupo de Coimbra e em termos de indumentária e cerimónias académicas reproduz a tradição consagrada pelas universidades escandinavas.
A gravura supra, publicada pela Illustriert Zeitung, de 26.02.1853, mostra a cerimónia celebrativa do jubileu de 1852.

domingo, 24 de janeiro de 2010


Doutoramento honoris causa de Jorge Sampaio na Univiversidade de Coimbra
Domingo, 24 de Janeiro de 2010: o advogado e antigo Presidente da República Jorge Sampaio recebe a laúrea doutoral honoris causa pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. O candidato foi apresentado pelo Prof. Doutor António Avelãs Nunes. O elogio de Jorge Sampaio esteve a cargo do Prof. Doutor Manuel da Costa Andrade e o de Avelãs Nunes foi proferido pelo Prof. Doutor Rui Figueiredo Marcos.
A velha artesã que confeccionava primorosamente as insígnias doutorais conimbricenses parece ter-se reformado ou passado a arte a jovens discípulas. Por um lado ainda bem! Por outro, e atendendo sobretudo ao elevado preço deste produto de luxo, nota-se alguma grosseria na confecção e no remate de algumas das peças de passamanaria do capelo, sinal de que estamos perante mãos que se terão de afeiçoar à seda. A própria cor dos tecidos (e bem sabemos o quão difícil é obtê-los) não cumpre inteiramente a rutilância do rubi.