Virtual Memories

sexta-feira, 31 de julho de 2009


Baile (1)
Cartaz ilustrado do baile dos estudantes da Universidade de Lyon programado para 23 de Março de 1912. A Belle Époque estava a findar e com ela os esfuziantes e despreocupados anos do viver burguês e aristocrático. Dois anos mais tarde, a guerra mergulhou a Europa num ambiente pouco propício à realização de festas.


Baile (2)
Cartaz ilustrado do baile dos estudantes da Universidade de Lyon programado para 16 de Março de 1907.


Convite ao baile
Notícia e iconografia sobre o baile dos alunos da Universidade de Lyon, conforme notícia do Le Progrès Illustré, de 20 de Março de 1892.


Manifestação estudantil
Protesto estudantil na via pública pelos estudantes da Universidade de Lyon em Março de 1892, após incidentes na Faculdade de Medicina. Entre os estudantes univesitários de Lyon existia uma tradição designada "monome" que consistia no direito de percorrer as principais artérias da cidade em fila, ao som de gritos de protesto, palavras de ordem e canções comunitárias.
A iconografia apresentada supra pertence ao acervo da Bibliothéque Municipal de Lyon, cujas colecções integram cartazes, jornais, caricaturas, fotografias e outros documentos relevantes para o estudo das vivências académicas. Em Portugal, a Biblioteca Municipal de Coimbra é detentora de iconografia valiosíssima, abarcando diversos aspectos dos costumes estudantis que adquiriria outra dimensão se disponiblizada em linha (cartazes, programas, capas de livros, postais, partituras, etc.).
Graças às novas políticas comunicacionais torna-se possível aceder a documentação produzida pelos estudantes das universidades ocidentais, exercício que por um lado testemunha que Coimbra não era a única universidade a possuir trajes, festas e rituais, e por outro, que em finais do século XIX se viveram anos de invenção de tradições académicas na Europa, atitude acicatada pelos valores nacionalistas e pelo encontro internacional de académicos no oitavo centenário da Universidade de Bolonha (1888).
(página de Le Progrès Illustré, de 27.03.1892)

quinta-feira, 30 de julho de 2009


Colegiais
À semelhança de Salamanca e de Coimbra, na cidade de Roma existiam múltiplos colégios ou seminários católicos destinados a acolher estudantes de diferentes nações que frequentavam as universidades católicas.
Todos esses colégios tinham trajes talares de porte obrigatório, quase sempre com versão doméstica e versão de gala. Tal como acontecia em Coimbra e Oxford, esses trajes eram de corpos duplos, constituídos por sotaina e "soprana". A partir de finais do século XIX a maior parte dos colégios substituiu a sotaina pela batina romana, mas manteve o capello romano, os sapatos de fivela, os calções e meias altas, a faixa de cintura na cor do país de origem dos estudantes e a sobreveste.
O mais famoso traje existente em Roma era o dos estudantes do Collegio Germanico, documentado neste postal de 1904, sendo os respectivos portadores acunhados de lagostins cozidos.


Uma aula
Caricatura de Bordalo Pinheiro, intitulada o «adiamento», com os estadistas dispostos num cenário de sala de aula, sendo o mestre-escola representado por Rodrigo Sampaio, sob tutela de Fontes Pereira de Melo que exibe uma palmatória (in António Maria, Abril de 1881).


Cordofones
Gravura anexa à obra de Athanasius Kirsher, Musurgia universalis, sive magna consoni et dissoni, Roma, 1650, onde figuram instrumentos como o alaúde e a cítara.


Trajos venezianos
Reprodução de dois trajos venezianos, de mulher e de senador, recolhidos e publicados por Pietro Bertelli, Diversarum nationum habitus, Pádua, 1589, espelhando a mantilha feminina semelhanças com peças de indumentária existentes nos Países Baixos, Flandres, Espanha e Portugal.

Guérin
Retrato de Julia Margaret Guérin (1858-1923), conhecida por Bella Guérin, pioneira no acesso à universidade na Austrália. Matriculada na Universidade de Melbourn em 1874, viria a bacharelar-se em Artes Liberais.


Alunas formadas em Adelaide
Grupo de alunas com cap and gown formadas na Universidade de Adelaide, Austrália, no ano de 1891. A Univ. de Adelaide, conjuntamente com a de Sydney, admitiu as primeiras alunas em 1881 e concedeu a primeira formatura em Ciências a Edith Dornwell no ano de 1885.
As universidades anglo-saxónicas, raramente citadas pelas elites portuguesas de oitocentos, configuram casos de sucesso no que respeita a integração das mulheres e à rápida conversão das vestes académicas masculinas em vestes unissexo.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Memória da Estudiantina Española


Habanera para piano, Madrid, 1878
Rosto da partitura da habanera interpretada pela Estudiantina Española em Paris


Actuação da Estudiantina Española em Paris no ano de 1878
Gravura publicada no Le Monde Illustré, n.º 1094, de 16 de Março de 1878. Esta tuna fez furor em Paris e deu origem no curto prazo a um fenómeno de tunomania que rapidamente alastrou à América Latina. Quase uma década mais tarde, em 1888, o oitavo centenário da Universidade de Bolonha alimentou um fenómeno ainda mais profundo de académicomania, traduzido na invenção de chapéus de estudantes em Itália e França.
(documentos e informação em «Olé! Una jota parisienne?», http://www.delabelleepoqueauxaneesfolles.com/OlleJottaSpanish.htm)

Indumentária salmantina


Actuação de uma estudantina em Salamanca, 1843


Tuno registado em Salamanca no ano de 1843


Habitante de Salamanca, 1809

Habitante de Salamanca
Indumentária civil masculina recolhida em 1809. Testemunha o sapato de fivela estilo império em fase de popularização no Ocidente. O amplo chapeirão com presilhas e pompons era comum aos povoados portugueses da Beira Litoral.

Tunos a preto e branco

Tuna de Madrid
Exibição da tuna académica de Madrid no Terreiro de Paço, Lisboa, ca. 1900. Bem visíveis a colher fixada na aba do bicórnio e o laçarote de ombros.


Tuna madrilena
Entre o ocaso do século XIX e os inícios do século XX foi frequente as tunas espanholas visitarem as cidades portuguesas. O inverso também acontecia, com as tunas estudantis portuguesas a fazerem incursões pelas cidades espanholas. Invariavelmente tinham lugar as ruidosas arruadas ou paradas festivas pelas principais ruas dos povoados visitados, com marchas e passe-calles, vivas, palmas, flores lançadas das janelas, foguetório, acenos de lenços, piropos às mulheres e cantorias.
A TAUC manteve este costume das arruadas até à década de 1920. Por algumas horas quebrava-se a monotonia e as ruas e praças entravam em ebulição festiva. Estava-se na Belle Époque, período carregado de optimismo que a Grande Guerra se encarregaria de entristecer. Muitas décadas mais tarde, preocupada com a desertificação dos centros históricos e a degradação do património imaterial, a Unesco encarregar-se-ia de lutar pela revivescência de práticas culturais de animação de rua que os saltimbancos, os teatrinhos de marionetas e as tunas de há muito conheciam.
Imagem: a tuna académica de Madrid na sua visita a Lisboa, ca. 1900, cliché do acervo do Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa


Liceais de Lisboa na homenagem ao tunante Ilídio Amado (1907). Esta fotografia aparece publicada na obra João de Deus (1830-1896), Lisboa, Edição da CML, 1996, p. 41, erroneamente reportada à grande homenagem que os tunos portugueses prestaram a João de Deus em 7.03.1895.


Tunos lisboetas
Saída do cortejo de homenagem ao fundador da tuna académica de Lisboa, Ilídio Amado, em 1907. Os estudantes pacerem ser liceais com o já tradicional laçarote verde no ombro direito.


A TAUC em Lisboa
1907: homenagem dos alunos de Lisboa e Coimbra ao estudante Ilídio Amado que fundara a tuna académica de Lisboa nos alvores da década de 1890.
Clichés de Alberto Lima, acervo do Museu Municipal de Lisboa.


Os tunos na homenagem a João de Deus
Estudantes das tunas académicas de Lisboa, Coimbra e Porto na homenagem nacional ao poeta João de Deus. O poeta assiste à parada na varanda da sua casa ao Largo da Estrela, Lisboa. Era uma 5.ª feira, 7 de Março de 1895, por sinal dia de chuva forte e temporal.
João de Deus não foi tuno, mas fazia versalhada chocarreira e tocava lindamenta viola toeira de Coimbra, instrumento que manteve sempre consigo até falecer e que tocou nas vésperas de falecer.
Esta ida da TAUC à homenagem a João de Deus não está referida pelo Dr. António José Soares na Breve História da Tuna Académica de Coimbra. regentes, reportório e viagens, 1962, pelo que houve que completar a descodificação desta gravura de época com informes presentes nos jornais diários e nas brochuras João de Deus (1830-1896), 1996, e de Fernando Garcia, João de Deus. Poeta e pedagogo, 1997.
De acordo com os jornais da época, a TAUC e os estudantes de Coimbra chegaram a Lisboa na 4.ª feira, 6 de Março, tendo sido festivamente recebidos na Estação do Rossio e no Teatro Avenida. No dia sete, o cortejo integrado por multidão e tunas académicas de Lisboa, Coimbra e Porto arrancou do Terreiro do Paço. Houve flores lançadas das janelas, palmas e acenos de lenços. À noite teve lugar uma récita do Avenida, e a oito decorreu o célebre sarau do D. Maria onde actuou Augusto Hilário.
No Domingo, 10 de Março, ao fim do dia, os estudantes e tunos de Coimbra e Porto despediram-se dos seus colegas de Lisboa em ambiente fraterno. Entre eles estavam também alunos que tinham vindo dos liceus de Braga e de Santarém (relatos do Diário de Notícias, 7, 8, 9 e 10 de Março de 1895).

domingo, 26 de julho de 2009


O Orfeon Académico em 1915
Imagens relativas ao Orfeon Académico de Coimbra e elementos da direcção divulgadas na revista Ilustração Portuguesa, n.º 482, de 17.05.1915.


Reunião do curso jurídico de 1880-1885
Encontro de elementos do curso jurídico de 1880-1885 no pórtico da Capela da UC, conforme registo da Ilustração Portuguesa, n.º 482, de 17.05.1915. A este curso pertenceu Trindade Coelho, que em 1902 dera à estampa a bíblia da boémia estudantil, o "In illo tempore". Na maioria dos retratados predomina a capa traçada à fidalgo, usança que após 1910 ficaria longamente no olvido.

Tuna do Liceu de Coimbra
Além da TAUC, vinda do século XIX, foram fundadas no início do século XX em Coimbra outras duas tunas estudantis.
A Tuna do Liceu de Coimbra, organizada em Janeiro de 1907, documentada nesta fotografia, que teve actividade conhecida até à década de 1920, e a Tuna do Seminário de Coimbra, fundada em Janeiro de 1905. Este é um pormenor interessante da vida cultural dos seminaristas, a que os estudantes de Coimbra chamavam "formigões" (estes respondiam-lhes à letra com o chistoso "sacas de carvão"), que consabidamente realizavam mascaradas de carnaval, corais, visitas de estudo, teatro e mais tarde futebol amador.
Actualmente há quem pense que o grande fenómeno das tunas estudantis aconteceu em Portugal nas décadas de 1980-1990. Sendo certo que a movida tunante de final do século XX se circunscreveu ao ensino superior universitário e politécnico, público e privado, com mais de 300 agremiações fundadas até aos alvores do século XXI, também não é menos certo que o primeiro grande fenómeno tunante estudantil foi vivido nas décadas de 1880-1890, com prolongamentos até finais da primeira década do século XX. Neste primeiro ciclo de irrupções tunantes, o fenómeno marcou a UC, as médico-cirúrgicas de Lisboa e Porto, as politécnicas de Lisboa e Porto e de forma generalizada os liceus portugueses sedeados nas capitais de distrito. Dessas gloriosas tunas liceais parece restar apenas a do Liceu de Évora, ontem como hoje com o famoso laçarote de ombros (comum à TAUC e às demais formações estudantis). Quem se não lembra do bom dinheiro que os editores de partituras fizeram com aquelas serenatas langorosas e passa-calles que fosse onde fosse começavam sempre com o verso "Formosas damas de Lamego", "Formosas damas do Porto"?
Nesta fotografia de ca. 1919, o dado mais interessante é seguramente o cavaquinho de tipo conimbricense com a sua pá-lira.


Inácio e Francisco
Recriação de Santo Inácio de Loyola (1491-1556) e São Francisco Xavier (1506-1552) enquanto estudantes em Paris no período 1528-1534.


Reitor da Universidade de Paris
Nesta gravura de ca. 1830 (Museo Internacional del Estudiante) são reconstituídos alguns trajos usados na Universidade de Paris antes das grandes mudanças vestimentárias desencadeadas pela Revolução de 1789 (a partir do reinado de Henrique III). Desde logo, o bedel, com trajo à século do ouro, barrete de cantos, toga talar e maça; o doutor em Medicina com beca carmesim debruada a arminhos, murça de arminhos e barrete de cantos; o reitor, com túnica roxa aberta na frente, cinto e algibeira, murça de cetim e arminhos e barrete de cantos (bonnet carré).