Logo relativo à Faculdade de Direito nos lanternões da Praça da Porta Férrea. Exemplo acabado da estética fascista, com recurso a elementos violentadores da cultura académica. A viril matrona de João da Silva é enquadrada por fuste e lampiões que fazem lembrar de imediato os pendões utilizados nos desfiles militares nazis e fascistas. Ainda mais estranho, a base faz lembrar as estilizações da caravela de São Vicente, património do brasão municipal de Lisboa. Lembre-se que este tipo de representação fora exaustivamente divulgada no cortejo celebrativo da Conquista de Lisboa aos Mouros, realizado em 1947, e amplamente divulgado na comunicação social, em filme e em brochuras impressas.
Virtual Memories
sábado, 9 de julho de 2011
Representação da Sapientia na calçada à portuguesa junto à entrada da Porta Férrea. Logotipo predominante na década de 1950, sintonizado com o gosto estético oficial do Estado Novo e das elites dominantes na Universidade de Coimbra. Aparece replicado nos postes metálicos dos candeeiros de aparato dispostos na Praça da Porta Férrea e ao longo da antiga Rua Larga. O seu autor foi o artista João da Silva, que também assinou o logotipo para a Universidade do Porto. Aliás, os dois logos assemelham-se bastante. A Sapientia de João da Silva é uma matrona viril, que nada deve às graciosas esculturinhas produzidas nos séculos anteriores.
Atributos do emblema da Faculdade de Leis ou de Direito Civil da Universidade de Coimbra: espada, balança e barrete doutoral sobre livro (Corpus Iuris Civilis). Relevos de Claude Laprade cinzelados em 1700, Gerais das Escolas. O barreto doutoral é do tipo redondo, coberto de flocos de seda vermelha, com pega.
A Raposa
Dos animais que Minerva tem em Coimbra, a Raposa é dos mais célebres e temidos. Simboliza o insucesso escolar, o chumbo às canelas nos actos. Nos liceus portugueses era conhecida por bicha, zorra e gata, sendo julgada e enterrada no final do ano escolar para afastar o azar.
Neste mimoso azulejo, assente na base da torre da Universidade de Coimbra, podemos observar a superfície raspada pelos pontapés que sucessivas gerações de novos doutores lhe foram desferindo. A tradição era [ainda é?] a seguinte: quando um novo doutor tomava capelo, após a imposição da borla e capelo vinha pontapear a raposa. Caso não o fizesse, acreditava-se que a carreira académica poderia correr mal.
Relativamente aos animais potenciadores de sucesso e de azar, os estudantes de Coimbra oscilavam entre a Raposa e o Urso. Melhor dizendo, dois ursos. O Urso Maior simbolizava o marrão dos marrões, o estudante premiado e louvado com notas máximas (nível excelente), em cuja cabeça se começava a vistar o brilho dos louros de Minerva. O Urso Menor, respeitava ao estudante com notas de nível bom. O estudante que acabava o ano com as canelas mordidas pela Raposa era o rei dos boémios. E aqui, entre os chumbados havia distinções. O chumbado porque queria chumbar, não lhe faltando capacidades. E o Burro, ou doutor carregado de livros, que chumbava por míngua de capacidades, mas que aos olhos dos calouros era doutor como os demais pois que "a capa tudo tapa" e "quem tem capa sempre escapa".